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Oriente Médio

Mundo muçulmano fica em tensão por protestos contra EUA e França

21 set 2012 - 08h33
(atualizado às 12h50)
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Dois cinemas foram incendiados e 13 pessoas morreram nesta sexta-feira no Paquistão, no início de um dia de protestos contra um vídeo panfletário produzido nos Estados Unidos que desatou a ira do mundo muçulmano, que aumentou após a publicação de charges do profeta Maomé na França. As representações diplomáticas ocidentais nos países muçulmanos reforçaram as medidas de segurança diante do risco de uma nova onda de violência ao fim da oração muçulmana de sexta-feira.

Manifestante usando a máscara de Guy Fawkes protesta em frente à embaixada americana em Kuala Lumpur, na Malásia
Manifestante usando a máscara de Guy Fawkes protesta em frente à embaixada americana em Kuala Lumpur, na Malásia
Foto: AFP

Veja imagens do polêmico filme anti-Islã
Protestos, dia 1: embaixador dos EUA na Líbia é morto
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Protestos, dia 7: manifestações chegam à Indonésia

A França decidiu fechar suas embaixadas, consulados, centros culturais e escolas em quase 20 países, pelo temor de ataques após a publicação de charges de Maomé na revista satírica francesa Charlie Hebdo.

Treze pessoas morreram e outras 200 ficaram feridas nas violentas manifestações realizadas nas grandes cidades paquistanesas, onde dois cinemas foram queimados pela multidão enfurecida.

Um total de quatro pessoas, três manifestantes e o motorista de um canal de televisão paquistanês, ARY News, foram mortos nos confrontos com a polícia em Peshawar, nordeste, e outros nove, incluindo um policial, em Karachi, sul.

O chefe da polícia de Peshawar, Imtiaz Iltaf, declarou que os distúrbios serão investigados e, se for o caso, os agentes da ordem pública serão levados à justiça. "Não pedimos a ninguém que abrisse fogo contra os manifestantes, mas a polícia também foi alvo de disparos. Todo policial que tiver disparado contra os manifestantes terá de comparecer ante a justiça", acrescentou.

Distúrbios de menor magnitude foram registrados em Rawalpindi, cidade vizinha de Islamabad. Os governos dos países muçulmanos estão diante do dilema de autorizar os protestos e evitar os desmandos dos grupos extremistas.

O governo paquistanês decretou feriado nesta sexta-feira, um dia dedicado à honra do profeta dos muçulmanos, para facilitar a participação nas manifestações e demonstrar indignação com o polêmico vídeo.

Mas também decidiu cortar os serviços de telefonia celular durante o dia para dificultar a coordenação de eventuais atentados talibãs ou de fundamentalistas vinculados à rede Al-Qaeda.

As autoridades da Tunísia proibiram qualquer manifestação durante o dia, sob a alegação de estar a par de preparativos de atos de violência.O governo islamita tunisiano, surgido da Primavera Árabe, teme agora ser alvo do salafismo jihadista, uma corrente extremista com crescente pregação social.

Os salafistas jihadistas "são um perigo", afirmou à AFP Rashed Ghanuchi, principal dirigente do Ennahda, o partido governista, que prometeu combater os extremistas.

Outros incidentes foram registrados na Indonésia, o país com maior número de maometanos do mundo, onde manifestantes queimaram bandeiras dos Estados Unidos, França e Israel em protestos nas cidades de Medan (Sumatra) e Surabaya (Java).

O YouTube restringiu nos últimos dias o acesso ao vídeo "A Inocência dos Muçulmanos" em vários países, incluindo Líbia e Egito, onde começaram os protestos. Outros países, como Paquistão e Sudão, bloquearam por iniciativa própria as imagens.

O vídeo panfletário foi atribuído a extremistas cristãos dos Estados Unidos, mas o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, considera uma "conspiração israelense" que pretende "dividir (os muçulmanos) e provocar um conflito sectário".

Nos Estados Unidos, o vídeo permanecerá disponível, após a decisão de um juiz de Los Angeles que recusou o pedido de uma atriz que alegava ter sido enganada pelos produtores do filme.

A publicação das charges do profeta Maomé na revista Charlie Hebdo aumentou a tensão e provocou um amplo debate na França sobre a liberdade de expressão. A polícia francesa proibiu uma manifestação convocada para sábado diante da Grande Mesquita de Paris sob o lema "Não toque no meu Profeta".

Filme anti-islamismo desencadeia protestos contra EUA

Na última terça-feira, 11 de setembro, protestos irromperam em frente às embaixadas americanas do Cairo, no Egito, e de Benghazi, na Líbia, motivados por um vídeo que zombava do islamismo e de Maomé, o profeta muçulmano. No primeiro caso, os manifestantes destroçaram a bandeira estadunidense; no segundo, os ataques chegaram ao interior da embaixada, durante os quais morreram, entre outros, o embaixador e representante de Washington, Cristopher Stevens.

Os protestos se disseminaram-se contra embaixadas americanas em diversos países da África e do Oriente Médio. Sexta, 14 de setembro, registrou o ápice da tensão, quando eventos foram registrados em Túnis (Tunísia), Cartum (Sudão), Jerusalém (Israel), Amã (Jordânia)e Sanaa (Iêmen). No Cairo, as manifestações têm sido quase diárias. No dia 17, Afeganistão e Indonésia também tiveram protestos.

O vídeo que desencadeou esta onda de protestos no mesmo dia em que os Estados Unidos relembravam os atentados terroristas de 2001 traz trechos de Innocence of Muslims, filme produzido nos Estados Unidos sob a suposta direção de Nakoula Basseky Nakoula. Ele seria um cristão copta egípcio residente nos Estados Unidos, mas sua verdadeira identidade e localização ainda são investigadas. O filme, de qualidades intelectual e cultural amplamente questionáveis, zomba abertamente do Islã e denigre de a imagem de Maomé, principal nome da tradição muçulmana.

A Casa Branca lamentou o conteúdo do material, afirmou não ter nenhuma relação com suas premissas e ordenou o reforço das embaixadas americanas. No dia 15 de setembro, a Al-Qaeda emitiu um comunicado no qual afirmava que a ação em Benghazi foi uma vingança pela morte do número 2 da rede terrorista no Iêmen em um ataque do Exército.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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