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Em pleito disputado, Chávez é reeleito presidente da Venezuela

7 out 2012 - 23h39
(atualizado em 12/4/2013 às 14h30)
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Daniel Cassol
Direto de Caracas

Após um dia de intensa participação popular e horas de incerteza e apreensão, o presidente Hugo Chávez sagrou-se vitorioso nas eleições disputadas neste domingo na Venezuela, anunciou no final da noite o Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Chávez derrota assim Henrique Capriles, principal candidato da oposição, para iniciar um inédito quarto mandato em Miraflores.

Chavistas comemoram a vitória mais apertada do atual presidente, que segue para um quarto mandato
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Foto: AP

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Com 90% dos votos apurados, o presidente bolivariano obteve 54.42% dos votos contra 44% de Capriles ( 7.444.082 contra 6.151.544, vantagem superior a um milhão de votos). A participação popular recorde, saudada mais cedo como "histórica" pelo comitê de campanha chavista, foi de 80,94% (o voto na Venezuela não é obrigatório). Ao anunciar os números, a presidente do CNE, Tibisay Lucena, afirmou que "o país inteiro saiu vencedor" e pediu que a a vitória fosse comemorada com tranquilidade.

A diferença entre Chávez e Capriles é semelhante ao que apontavam os institutos Datanalisis e GIS-XXI, os principais da Venezuela, uma semana antes da eleição. Os dez pontos de distância ficam perto também da "vitória perfeita" pedida por Chávez para evitar contestações sobre o processo de eleitoral. De acordo com o CNE, Capriles venceu apenas nos Estados de Táchira, Lara e Miranda, este último do qual é governador. Em todos os outros Estados a vitória foi de Chávez.

No final da tarde de domingo, Henrique Capriles usara o Twitter para denunciar que havia centros de votação sem filas ainda abertos, esperando eleitores. A eleição, no entanto, ocorria sem incidentes graves conhecidos até o momento. Antes do anúncio oficial, o comando de campanha de Capriles pediu calma aos simpatizantes e reforçou que reconheceria os resultados divulgados pelo CNE.

O anúncio oficial do resultado foi aguardado durante horas de tensão e expectativa, durante as quais nenhum dos candidatos esboçou adiantar o veredito. As urnas ter sido fechadas para início da contagem às 18h (19h30), mas filas de eleitores que se aglomeravam nos centros de votação atrasaram o encerramento real do pleito. O anúncio final foi dado pelo CNE por volta das 21h15 (23h45), em meio à explosão dos apoiadores de Chávez que já faziam festa em Caracas.

Quarto mandato

Hugo Chávez Frías, 58 anos, um militar que liderou um golpe de Estado em 1992, elegeu-se pela primeira vez em 1999, em meio a uma "implosão" social e econômica no país.

É quinta eleição que vence na qual a sua candidatura esteve diretamente em jogo. Eleito pela primeira vez em 1999, foi reeleito no ano seguinte, após a promulgação da nova Constituição. Em 2004, venceu o referendo revogatório convocado pela oposição. Dois anos depois, foi reeleito novamente.

Mas Chávez, que ao longo dos últimos dois anos teve seu futuro colocado em dúvida após anunciar padecer de um câncer, chegou sob desconfiança. No início do ano, estimava-se mesmo que o presidente nem participasse do pleito. Em meio a isso, consolidou-se lentamente a figura de Henrique Capriles, a principal opção da oposição aos chavistas.

A vantagem de Chávez sobre Capriles, justamente, é menor do que a conquistada pelo presidente nas duas últimas votações. Em 2004, Chávez venceu o referendo por 59,25% a 40,74%. A vantagem chavista aumentou em 2006, quando o presidente foi reeleito com 62,9% dos votos, contra 36,9% de seu adversário Manuel Rosales.

Neste 7 de ouutubro de 2012, o presidente se manifestou algumas vezes ao longo do decurso da votação, mas seu discurso tradicionalmente expansivo e otimista não foi foi ouvido uma única vez. A contenção na oratória e a ênfase na vitória da democracia, aliadas à demora no resultado, colocava em dúvida o novo do êxito do presidente

Assim, desafiado como nunca pela doença na vida e pela oposição nas urnas, Chávez sai vencedor no pleito comemorado antes por sua equipe como "particularmente sensível". O líder e ideólogo bolivariano do Socialismo do Século XXI, figura polêmica e central da política latino-americana desde o início dos anos 90, seguirá em Miraflores, o palácio presidencial de Caracas, por mais seis anos, de 2013 a 2019.

Legado e futuro em jogo

Como em todas as votações anteriores, a de 2012 foi praticamente um plebiscito no qual os venezuelanos se dividiram entre apoiar a continuidade ou fim da "revolução bolivariana" de Chávez.

Com Chávez, a Venezuela se tornou o país latino-americano com o terceiro menor índice de pobreza e a menor desigualdade social. Por outro lado, viu os índices de violência aumentarem para níveis alarmantes - segundo o Observatório Venezuelano de Violência (OVV), o país registrou 19.336 pessoas assassinadas, um índice de 67 homicídios por 100 mil habitantes, um problema que tem como uma das causas a falta de controle sobre a circulação de armas.

Além da violência, um dos grandes temas discutidos durante a campanha, Chávez terá de enfrentar também os problemas na economia, como os baixos índices de industrialização e produção de alimentos.

O novo governo chavista tem a ver com algumas linhas anunciadas pelo próprio presidente ao longo da campanha. Nas últimas semanas, Chávez reconheceu os problemas de ineficiência da administração, falou em transformar a Secretaria da Presidência em um "Ministério do Acompanhamento" dos projetos do governo e prometeu iniciar o novo governo já nesta segunda-feira. Nas ruas de Caracas, cartazes da campanha de Chávez prometiam "limpar" o governo da burocracia, a fim de aprofundar a "revolução bolivariana".

Ao mesmo tempo, Chávez declarou que pretende liderar um processo de diálogo com os setores mais moderados da oposição. "Estou disposto a esgotar o diálogo e os esforços para uma maior soma de paz e estabilidade na Venezuela", disse na última quinta-feira, durante entrevista a meios de comunicação públicos do país. Trata-se afinal, depois da disputada eleição deste domingo, de uma promessa necessária que reflete a própria sociedade venezulana.

Fonte: Terra
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