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Manifestantes depredam comércio e incendeiam ônibus em SP

Manifestação que começou pacífica acabou em confronto com a polícia e 78 detidos, após marcha pelo centro da capital

25 out 2013 - 17h35
(atualizado em 27/10/2013 às 19h51)
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<p>Polícia só reagiu depois que manifestantes atearam fogo em ônibus no terminal Parque Dom Pedro II</p>
Polícia só reagiu depois que manifestantes atearam fogo em ônibus no terminal Parque Dom Pedro II
Foto: Bruno Santos / Terra

O Movimento Passe Livre (MPL), o grupo Black Bloc e integrantes de movimentos sociais fizeram um protesto nesta sexta-feira no centro de São Paulo por melhorias no transporte público da capital. A manifestação começou pacífica, mas acabou com confronto entre policiais e manifestantes após a marcha. Na chegada ao terminal do Parque Dom Pedro II, mascarados depredaram bancos, comércio e incendiaram ônibus. Após horas apenas observando os manifestantes, a Polícia Militar agiu, lançando bombas de efeito moral, que foram revidadas com coquetéis molotov e pedras. Uma delas atingiu a cabeça de um policial, que precisou de atendimento médico.

Os manifestantes se concentraram à tarde em frente ao Theatro Municipal, e eram acompanhados de perto por um contingente de cerca de 800 policiais. Por volta das 17h20, havia cerca de 200 pessoas no local. Elas pediam o retorno de linhas de ônibus que ligavam diretamente bairros ao centro da cidade e que foram retiradas pela prefeitura do itinerário. De acordo com o MPL, as linhas não eram lucrativas para as empresas e, por isso, não circulam mais. A SPTrans afirma que esse pensamento é "conservador", e que as mudanças eram necessárias.

O ato fazia parte da Semana Nacional de Luta pelo Passe Livre. A Tropa de Choque da Polícia Militar reforçou o policiamento no local. Cerca de 30 homens faziam uma barreira em frente à porta principal do teatro, e outros 50 acompanhavam a manifestação do outro lado da rua.

Os manifestantes saíram então em caminhada, sem anunciar o trajeto que seria percorrido. “Isso vocês vão saber depois. Quem não anda não vai para frente”, disse um dos manifestantes ao ser questionado sobre itinerário.

A marcha percorreu algumas das principais vias do centro, gerando pontos de lentidão no trânsito, que chegou a acumular mais de 170 quilômetros de congestionamentos, mas antes das 20h já estava normalizado na capital. Nesse horário, cerca de 2 mil manifestantes, segundo a Polícia Militar, chegavam ao terminal Parque Dom Pedro II, onde queimaram uma grande catraca de papelão. A polícia continuava apenas observando.

No local, começou a confusão. Por volta das 20h20, quando manifestantes incendiaram um ônibus, os policiais interviram lançando bombas de efeito moral e de gás lacrimongêneo. Os manifestantes reagiram jogando pedras. O coronel Reynaldo Simões Rossi, comandante de operações da Polícia Militar, foi atingido na cabeça por uma pedra e precisou ser levado pela viatura da corporação. Uma porta-voz informou que ele foi atendido no Hospital das Clínicas, e que fraturou a clavícula e tem suspeita de traumatismo craniano. Segundo a polícia, durante a agressão, também houve uma tentativa de roubo da arma do coronel, mas o objeto foi recuperado pelo motorista do PM.

A Tropa de Choque cercou o terminal e mascarados seguiram para a Praça da Sé. Ali, ocorreu o confronto mais violento, quando tentaram invadir a igreja, forçando a porta principal. Os policiais impediram, lançando mais bombas, e, às 21h, a multidão havia sido dispersada da Sé, partindo então para o Pátio do Colégio, onde houve novo confronto.

Na rua Barão de Paranapiacaba alguns manifestantes foram abordados por policiais, mas a Polícia MIlitar não os prendeu, liberando o grupo logo após revistar suas mochilas. Mais tarde, a polícia confirmou que o protestos terminou com 78 detidos.

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus. A mobilização surtiu efeito e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas – o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritiba,

SalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. "Essas vozes precisam ser ouvidas", disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Colaborou com esta notícia o internauta Lucas de Arruda Cardoso, de São Paulo (SP), que participou do vc repórter, canal de jornalismo participativo do Terra. Se você também quiser mandar fotos, textos ou vídeos, clique aqui.

Fonte: Terra
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