Novo ato contra aumento do ônibus paralisa Porto Alegre e expõe tensão
Segurança nos arredores da prefeitura foi reforçada após confronto entre manifestantes e PMs ocorrido na última quarta-feira
Cinco dias após o protesto que terminou em confronto entre estudantes e Policiais Militares em frente à prefeitura de Porto Alegre, uma nova manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus paralisou o trânsito na região central da capital gaúcha na noite desta segunda-feira e expôs a tensão entre os manifestantes e as autoridades de segurança. Organizado pelas redes sociais, o ato de hoje reuniu pelo menos 5 mil pessoas e percorreu o centro porto-alegrense a partir das 18h, provocando o bloqueio da avenida Júlio de Castilhos, que concentra boa parte do fluxo de veículos que deixam a cidade no horário de pico.
Elevada de R$ 2,85 para R$ 3,05 no último dia 25, a tarifa do transporte coletivo de Porto Alegre foi motivo de protestos. Na última quarta-feira, pelo menos uma pessoa ficou ferida e outra foi presa durante uma manifestação em frente ao prédio da prefeitura, quando cerca de 300 manifestantes entraram em confronto com a Guarda Municipal e a Tropa de Choque da Brigada Militar, a Polícia Militar gaúcha. Segundo o relato de testemunhas, os manifestantes tentaram forçar a entrada no prédio e foram impedidas pela polícia, que reagiu com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. O secretário municipal de Coordenação Política e Governança Local, Cézar Busatto, tentou falar com os manifestantes, mas foi agredido e atingido com tinta.
Durante o tumulto, foram quebradas várias janelas do prédio. Duas motocicletas e uma viatura da Guarda Municipal foram danificadas. Um manifestante ficou ferido e teve de ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Alegando questões de segurança, o prefeito José Fortunati (PDT) liberou os servidores municipais mais cedo, às 17h30, para evitar confronto com os manifestantes, que agendaram o protesto para as 18h. Desde o início da tarde, a segurança no entorno da prefeitura foi reforçada, com a presença de membros da Tropa de Choque e da Cavalaria da Brigada Militar.
Apesar da tensão evidente, a manifestação seguiu pacífica até o largo Zumbi dos Palmares, na Cidade Baixa, onde terminou com uma assembleia. Com faixas e gritos de ordem, os manifestantes atiraram ovos contra a prefeitura - um deles atingiu o rosto de um fotógrafo. Durante a manifestação, rojões foram disparados em meio à multidão, que vaiou o uso dos fogos.
Por volta das 18h30, os manifestantes saíram da frente da prefeitura em caminhada até o Mercado Público. Uma multidão tomou conta da avenida Júlio de Castilhos, que foi bloqueada pela Brigada Militar. Um grupo de pessoas subiu em cima do arco que cobre a estação Mercado do Trensurb (serviço de trens metropolitanos de Porto Alegre).
Dali, os manifestantes seguiram pela avenida até o camelódromo de Porto Alegre, local de saída de diversas linhas de ônibus. Diversos ônibus foram pichados com inscrições como "R$ 3,05 é roubo" e "Fortunati ladrão". Aos motoristas e cobradores, os manifestantes entoavam um grito de guerra: "ô motorista, ô cobrador, me diz aí se o teu salário aumentou". O protesto ganhou apoio de alguns rodoviários, que aplaudiram e buzinaram em apoio aos jovens. Às 19h30, a multidão deixou o camelódromo em direção à região da rodoviária de Porto Alegre, passando a percorrer o Túnel da Conceição, bloqueando outra das principais saídas do centro.
O grupo percorreu a avenida Salgado Filho e a Borges de Medeiros, terminando o percurso na Cidade Baixa. Lá, os manifestantes decidiram repetir a manifestação na próxima quinta-feira. A assembleia realizada no largo Zumbi dos Palmares, no fim do percurso, evidenciou um conflito entre integrantes da passeata: gritos em defesa de um movimento apartidário, enquanto integrantes de partidos políticos tentavam falar pelos manifestantes.
Líderes de movimento não participaram de encontro com estudantes
Em reunião sem líderes estudantis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o prefeito José Fortunati convidou nesta segunda-feira estudantes de outras entidades para participar de grupos de trabalho para revisar as tarifas de transporte coletivo e estudar a licitação do sistema de ônibus, que deve acontecer ainda este ano. Aplaudido, Fortunati disse que a reunião com os estudantes atende a um pedido da União Estadual dos Estudantes (UEE), mas ressaltou que os integrantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRGS não querem dialogar.
"Queremos revisar a planilha do transporte coletivo, que é de 2004. Ela não foi inventada por nós. Queremos rediscutir item por item, com vocês. Queremos que vocês participem do grupo de trabalho da licitação que vamos fazer até o fim do ano. Tenho convicção que com a licitação que nós vamos fazer do transporte coletivo nós estaremos também reduzindo o preço da tarifa em Porto Alegre", disse o prefeito a uma mesa composta por líderes de DCEs de universidades da Grande Porto Alegre.
Pouco antes da reunião, a coordenadora-geral do DCE da UFRGS, Luany Barros e Xavier, e o estudante da universidade e presidente municipal do Psol, Bernardo Corrêa, disseram que não foram avisados da audiência com o prefeito e que as entidades presentes não os representavam. "Não foi comunicado a nenhum fórum de luta. Quem tem que representar (os estudantes) não é quem o prefeito escolhe. Só há legitimidade se abrir a revogação do aumento da passagem", disse Corrêa, que tentou entrar na prefeitura, mas foi impedido por guardas municipais.
O representante da UEE, Fábio Kúcera, responsável pelo manifesto entregue ao prefeito de Porto Alegre, afirmou ter convidado representantes do DCE da UFRGS, mas não obteve resposta. Ele defendeu o diálogo sobre isenções fiscais para reduzir o preço da passagem e condenou a violência praticada por estudantes em protesto em frente a prefeitura, na semana passada.