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Mundo

Confrontos deixam cinco mortos e vários feridos no Bahrein

16 mar 2011 - 15h05
(atualizado às 15h53)
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Os confrontos entre manifestantes e forças de segurança no Bahrein recrudesceram nesta quarta-feira com um saldo de pelo menos cinco mortos e dezenas de feridos, forçando o Governo a decretar um toque de recolher parcial de 12 horas.

O silêncio e o vazio voltou a tomar conta de Manama a partir das 16h local (10h de Brasília), quando iniciou o toque de recolher declarado sobre algumas áreas da capital, após uma manhã de protestos que desembocaram em distúrbios.

As ruas pareciam praticamente desertas, embora ainda pudesse se ouvir o som de tiros, tal como a Agência Efe pôde constatar.

Essa aparente tranquilidade contrastava com os distúrbios de poucas horas antes, desencadeados pela contundente operação das forças policiais para dispersar os manifestantes de oposição que protestavam no centro da capital. Segundo fontes médicas, o incidente deixou pelo menos cinco mortos e dezenas de feridos.

O Ministério do Interior bareinita afirmou em comunicado que dois policiais morreram nesta quarta-feira ao serem atacados por manifestantes, que se somam a outros agentes mortos nesta terça-feira.

A operação policial, apoiada por tanques do Exército e helicópteros, teve como alvo principal a praça Lulu (pérola, em árabe), epicentro dos protestos, onde cerca de 500 manifestantes opositores acampavam há semanas.

Pouco depois, a agência de notícias estatal bareinita, "BNA", publicava um comunicado das Forças de Defesa em que o Governo anunciava a imposição, a partir desta quarta-feira, do toque de recolher em algumas áreas da capital deste pequeno reino do Golfo Pérsico.

Começando nesta quarta-feira, "e até novo aviso", diz a nota oficial, o toque de recolher estará vigente a partir das 16h local (10h de Brasília) em várias zonas de Manama, que foram palco desde 14 de fevereiro passado de uma série de protestos políticos.

Um desses pontos é a praça Lulu, que primeiro esteve ocupada por ativistas da oposição, depois foi tomada pelo Exército e em seguida voltou a ser o principal lugar dos protestos políticos.

Além disso, as autoridades proibiram as manifestações e passeatas neste país, de 760 quilômetros quadrados e apenas 1 milhão de habitantes, a fim de "devolver a normalidade" às ruas da capital e principais cidades.

Além disso, o comunicado pede que os cidadãos colaborem para que essas ordens sejam cumpridas, emitidas um dia depois da decretação de estado de emergência, nesta quarta-feira, por um período de três meses, e da chegada de tropas de países vizinhos - Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos - para apoiar em trabalhos de segurança.

As medidas de exceção coincidiram com um forte desdobramento de forças militares e policiais na capital e com a instalação de blitze para fiscalizar o cumprimento do toque de recolher.

Ao longo desta quarta-feira, as escolas permaneceram fechadas e a bolsa de valores do Bahrein suspendeu suas atividades.

Por outro lado, o ministro Nizar al Baharna (Saúde) apresentou renúncia nesta quarta-feira, enquanto Majeed al Alawi (Habitação) anunciou o mesmo diante da violência do regime de Kadafi contra os manifestantes, informou a imprensa local.

Ambos os ministros são de credo xiita, assim com 12 juízes que também renunciaram nesta quarta-feira.

A oposição do Bahrein, um país de maioria xiita governado por uma minoria sunita, exige a instauração de uma monarquia parlamentar, com uma nova Constituição que permita ao povo escolher um Governo e um Parlamento independente.

Mundo árabe em convulsão

A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Alie do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.

No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.

Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muammar Kadafi, a população vem entrando em sangrento confronto com as forças de segurança, já deixando um saldo de centenas de mortos. Em meio ao crescimento dos protestos em diversas capitaos, Kadafi foi à TV estatal no dia 22 de fevereiro para xingar e ameaçar de morte os opositores, que desafiam seu governo já controlam partes do país. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.

Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.

EFE   
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