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Mundo

Para sírios e iemenitas, morte de Kadafi impulsionará revoltas

21 out 2011 - 13h00
(atualizado às 13h35)
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"Kadafi partiu, é a sua vez Bashar", tuitou um internauta no dia seguinte à morte do ex-líder líbio. Para a blogosfera e a imprensa árabe, o fim de Kadafi soou o sino da morte dos tiranos da região. As redes sociais se embalaram nesta sexta-feira para prever, sem rodeios, o fim dos regimes opressores que ainda lutam para sobreviver.

Vídeo mostra suposto corpo de Kadafi em Sirte:

"Kadafi chamou seu povo de ratos, ele acabou sua vida em um buraco como um rato. Tiranos, aprendam a lição (...). O fim é inevitável", afirmou um outro internauta no Twitter. Ainda chocados com as imagens - inimagináveis há alguns meses - do ex-governante assassinado, os internautas se manifestam contra os presidentes sírio e iemenita, Bashar al-Assad e Ali Abdullah Saleh, que continuam no poder após meses de revoltas reprimidas violentamente.

"Ben Ali fugiu, Mubarak será julgado e Kadafi foi morto. Quanto mais tempo o tirano resiste mais seu destino é cruel", disse um deles. "Bashar será crucificado no centro de Damasco." Nas páginas do Facebook, os contestadores sírios se referem ao seu presidente e perguntam: "Será que você fugirá como Kadafi e seu povo te perseguirá de casa em casa?".

"Kadafi no inferno, Bashar se prepare", afirma @lawyer_aj no Twitter. Segundo @Noufita5, "os habitantes de Homs (centro da Síria) carregam a bandeira líbia e gritam: Kadafi, acabou, Bashar, é sua vez". "Habitantes de Iêmen e Síria, espero que Bashar e Saleh caiam entre suas mãos", acrescentou @Motamayez. Alguns ironizam: "Após a morte de Kadafi, a Síria e o Iêmen estão na final, mabruk! (parabéns, em árabe)", tuitou @Saomadaad.

"A televisão do estado sírio nega a morte de Kadafi", escreveu @lissnup. O canal público da Síria é acusado pelos opositores de mentir sobre o movimento de contestação no país. "Saleh, você dormiu bem ontem?", pergunta @Falihalhajri ao presidente iemenita. Do Cairo a Rabat, a imprensa árabe publicou na primeira página as fotos do corpo inerte de Kadafi, e ressaltou a ironia do destino dos ditadores: antes todo-poderosos e agora, massacrados pela onda da Primavera Árabe.

"Quarenta e dois anos de Kadafi no poder acabam com duas balas", disse o jornal libanês An Nahar. "É uma lição para os povos, não se pode mais aplaudir chefes que são assassinos." Segundo o As Safir, "seu corpo ensanguentado foi fotografado para imortalizar o fim da era dos tiranos".

"O terceiro tirano, morto em um buraco", foi a manchete do jornal egípcio Al-Masry Al-Youm. Para o palestino Al-Qods, "estes tiranos precisam saber que, no momento em que apontam as armas contra o próprio povo, perdem a legitimidade".

Os analistas acreditam que o fim de Kadafi dará fôlego às revoltas, principalmente na Síria. "A mensagem é que a repressão contra o povo com uma mão de ferro, não leva a nada", afirma Hilal Kashan, professor de ciências políticas da Universidade americana de Beyrouth. Para ele, os ditadores são "cegos", por definição. "Eles não enxergam as coisas da mesma maneira que o povo. Eles são desconectados da realidade. Pensam que são diferentes e que vão sobreviver", explicou. "Eles dizem: aqui não é o Egito, não é a Tunísia. Mas no fim das contas, são todos iguais", conclui.

Insurreição líbia culmina com queda de Sirte e morte de Kadafi

Motivados pelos protestos que derrubaram os longevos presidentes da Tunísia e do Egito, os líbios começaram a sair às ruas das principais cidades do país em fevereiro para contestar o coronel Muammar Kadafi, no comando desde a revolução de 1969. Rapidamente, no entanto, os protestos evoluíram para uma guerra civil que cindiu a Líbia em batalhas pelo controle de cidades estratégicas de leste a oeste.

A violência dos confrontos gerou reação do Conselho de Segurança da ONU, que, após uma série de medidas simbólicas, aprovou uma polêmica intervenção internacional, atualmente liderada pela Otan, em nome da proteção dos civis. No dia 20 de agosto, após quase sete meses de combates, bombardeios, avanços e recuos, os rebeldes iniciaram a tomada de Trípoli, colocando Kadafi, seu governo e sua era em xeque.

Dois meses depois, os rebeldes invadiram Beni Walid, um dos últimos bastiões de Kadafi. Em 20 de outubro, os rebeldes retomaram o controle de Sirte, cidade natal do coronel e foco derradeiro do antigo regime. Os apoiadores do CNT comemoravam a tomada da cidade quando os rebeldes anunciaram que, no confronto, Kadafi havia sido morto. Estima-se que mais de 20 mil pessoas tenham morrido desde o início da insurreição.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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