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Distúrbios no Mundo Árabe

Grupos opositores rejeitam proposta de diálogo de Mubarak

1 fev 2011 - 07h23
(atualizado às 13h58)
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Os principais grupos da oposição egípcia rejeitaram nesta terça-feira categoricamente a proposta do presidente egípcio, Hosni Mubarak, de dialogar com as forças políticas com o objetivo de efetuar reformas constitucionais.

Começa greve geral no Egito:

"O povo e a Irmandade Muçulmana rejeitam qualquer diálogo com Mubarak, com seu vice-presidente e com o Governo, e a principal reivindicação para todos é a derrocada do regime", garantiu à agência EFE um porta-voz da Irmandade, Gamal Nassar.

Mubarak, 82 anos e no poder desde 1981, encarregou na véspera o vice-presidente Omar Suleiman a dialogar com as forças políticas egípcias para negociar possíveis reformas da Constituição.

Para a Irmandade Muçulmana, a maior oposição do Egito, "o problema não é pessoal contra Suleiman, mas com as políticas do regime". O partido islâmico ilegal lançou seu próprio "Mapa do Caminho" para preparar o Egito pós-Mubarak: o presidente do Tribunal Constitucional Supremo, Farouk Sultan, deveria substituir o líder depois da renúncia pelo seu regime não ter legitimidade.

Segundo a Irmandade, a Constituição prevê que o presidente do Parlamento, Fathi Surur, assuma o comando após a renúncia de Mubarak, mas consideram que ele está impedido de exercer o cargo, por isso que finalmente a responsabilidade deveria recair em Sultan.

Depois disto, são realizadas eleições parlamentares transparentes e a Constituição seria reformada, após o qual se convocariam pleitos presidenciais, como disse à Agência Efe Mahmoud Ghazali, outro dirigente deste grupo.

A mesma postura de rejeição ao diálogo com Mubarak tem a Assembleia Nacional para a Mudança - que apoia o prêmio nobel da paz Mohamed ElBaradei -, que classificou a proposta de diálogo como "inválida", segundo disse à agência Efe Hassan Nafae, um dos dirigentes deste grupo.

"O pedido do presidente a Suleiman não é válida porque o vice-presidente não tem poderes para dialogar com as forças políticas. Mubarak quer mostrar que ainda tem o poder verdadeiro, enquanto o poder já está na rua", insistiu Nafae.

A iniciativa de Mubarak para manter um diálogo com as forças políticas ocorreu após nomear os ministros do novo Governo, 15 deles procedentes do antigo gabinete, algo que rejeitou a oposição.

"Mubarak deveria ter deixado o poder e passado seus poderes ao vice-presidente, e então Suleiman, como presidente interino, poderia dialogar com a oposição, mas sempre que aceite o pedido de formar um Governo transitório", opinou Nafae.

A oposição considera a oferta de manter diálogo com as forças políticas para formação de um novo Governo, mera tentativa de ganhar tempo e conter a revolta popular até que os manifestantes decidam voltar para suas casas.

O Movimento 6 de Abril, um grupo de jovens opositores que convocou pela internet a primeira manifestação em massa na terça-feira passada, mostrou-se disposto ao diálogo com o Governo, mas depois que Mubarak deixe a Presidência.

"Qualquer negociação enquanto Mubarak estiver no poder é inútil", garantiu à EFE o porta-voz deste movimento, Ahmed Maher.

Por enquanto, a oposição só está disposta a dialogar com o Exército, o único órgão no qual confia, e por isso tenta formar um comitê de membros de distintas tendências opositoras para negociar com as Forças Armadas sobre uma transferência pacífico do poder.

Enquanto isso insiste que utilizará os protestos na rua para pressionar Mubarak até deixe o Governo.

O Movimento 6 de Abril convocou nesta terça-feira para uma greve geral e está decidido a mantê-la até 4 de fevereiro, ao qual estão chamando "de sexta-feira da saída" (de Mubarak).

Protestos convulsionam o Egito

A onda de protestos contra o presidente Hosni Mubarak, iniciados em 25 de janeiro, tomou nova dimensão no dia 29. O governo havia tentado impedir a mobilização cortando a internet, mas a medida não surtiu efeito. O líder então enviou tanques às ruas e anunciou um toque de recolher - ignorado pela população - e disse que não renunciaria. Além disso, defendeu a repressão e anunciou um novo governo, que buscaria "reformas democráticas". A declaração foi seguida de um pronunciamento de Barack Obama, que pediu a Mubarak que fizesse valer sua promessa de democracia.

O governo encabeçado pelo premiê Ahmed Nazif confirmou sua renúncia na manhã de sábado. Passaram a fazer parte do novo governo o premiê Ahmed Shafiq, general que até então ocupava o cargo de Ministro de Aviação Civil, e o também general Omar Suleiman, que inaugura o cargo de vice-presidente do Egito - posto inexistente no país desde o início do governo de Mubarak, em 1981. No domingo, o presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da política antimotins. A emissora Al Jazeera, que vinha cobrindo de perto os tumultos, foi impedida de funcionar.

Enquanto isso, a oposição segue se articulando em direção a um possível novo governo para o país. Em um dos momentos mais marcantes desde o início dos protestos, ElBaradei discursou na praça Tahrir e garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Na segunda-feira, o principal grupo opositor, os Irmãos Muçulmanos, disse que não vão dialogar com o novo governo. Depois de um domingo sem enfrentamentos, os organizadores dos protestos convocaram uma enorme mobilização para a terça, dia 1º de fevereiro.Depois Já passam de 100 os mortos desde o início dos protestos, na última terça.



EFE   
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