PUBLICIDADE

Mundo

Egípcios "enforcam" boneco de Mubaraki na praça Tahrir

1 fev 2011 - 11h45
(atualizado às 11h57)
Compartilhar

Dois bonecos enforcados, com uma estrela de Davi pintada na gravata e muitos dólares saindo dos bolsos, representam o presidente egípcio Hosni Mubarak e podem ser vistos pendurados nos sinais de trânsito da praça Tahrir e dão o tom da "Marcha do Milhão" que a população egípcia realiza nesta terça-feira contra o regime no poder.

Começa greve geral no Egito:

"Este vai ser um grande dia, o dia da liberdade", exclama Ahmed En Nahas, um diretor de cinema de 60 anos, que gesticula para mostra as milhares de pessoas agrupadas na praça Tahrir ("Libertação", em árabe), reduto dos manifestantes há semanas.

"Até há pouco tempo estas pessoas não teriam saído de maneira tão maciça por medo que a polícia disparasse contra ela", acrescentou, mostrando a pequena filmadora com que pretende registrar as manifestações do dia.

Perto da ponte sobre o Nilo, Qasr An Nil, uma maré humana aflui sem parar desde as primeiras horas do dia, respondendo ao chamado dos opositores para que um milhão de pessoas se reúnam em Tahrir e apliquem um golpe decisivo ao poder de Mubarak, que dirige o país há 30 anos com mão de ferro. O ambiente é mais tenso do que nos dias anteriores, apesar da presença de várias famílias.

Uma menina de cinco anos se diverte enquanto seu pai dança com ela nos ombros, ao ritmo do slogan entoado pela multidão: "O povo quer que Mubarak saia".

Apesar de o acesso à internet estar proibido desde sexta-feira passada, as novas tecnologia estão muito presentes em Tahrir, onde inúmeros manifestantes enviam mensagens, tiram fotos e filmam a movimentação.

Um jovem abaixa as calças diante da imprensa ocidental para mostrar as marcas do impacto da bala de borracha que recebeu em um dos protestos. "Vejamos que fizeram comigo", afirma.

Perto, um grupo de homens barbudos exibe um cartaz onde afirmam estar "dispostos a morrer pelo Egito".

"Mubarak demonstra que está desconectado da realidade", explica Omar, um jovem que exibe um cartaz dirigido ao presidente Barack Obama e à chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, e que afirma: "Não queremos diálogo, e sim que Mubarak saia".

Na praça, todos os egípcios parecem reunidos, sejam laicos, muçulmanos ou cristãos. "Jesus nos dará uma vida melhor. Vai embora, Hosni, para que nos desfrutemos dela", afirma o cartaz de Nader e Ihab, dois jovens coptos.

"Há 10 anos existe uma perseguição contra os cristãos e a única coisa que Mubarak fez foi tentar escondê-la", denunciam.

Antes de entrar na praça, os manifestantes tiveram de se submeter a controles de identidade por parte dos militares que vigiam os acessos a Tahrir.

As Forças Armadas continuam com uma boa imagem entre os manifestantes. Quando um ônibus cheio de soldados tenta abrir passagem a buzinadas, a multidão ao invés de reclamar, grita e aplaude: "O povo e o Exército são o mesmo braço".

Protestos convulsionam o Egito

A onda de protestos contra o presidente Hosni Mubarak, iniciados em 25 de janeiro, tomou nova dimensão no dia 29. O governo havia tentado impedir a mobilização cortando a internet, mas a medida não surtiu efeito. O líder então enviou tanques às ruas e anunciou um toque de recolher - ignorado pela população - e disse que não renunciaria. Além disso, defendeu a repressão e anunciou um novo governo, que buscaria "reformas democráticas". A declaração foi seguida de um pronunciamento de Barack Obama, que pediu a Mubarak que fizesse valer sua promessa de democracia.

O governo encabeçado pelo premiê Ahmed Nazif confirmou sua renúncia na manhã de sábado. Passaram a fazer parte do novo governo o premiê Ahmed Shafiq, general que até então ocupava o cargo de Ministro de Aviação Civil, e o também general Omar Suleiman, que inaugura o cargo de vice-presidente do Egito - posto inexistente no país desde o início do governo de Mubarak, em 1981. No domingo, o presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da política antimotins. A emissora Al Jazeera, que vinha cobrindo de perto os tumultos, foi impedida de funcionar.

Enquanto isso, a oposição segue se articulando em direção a um possível novo governo para o país. Em um dos momentos mais marcantes desde o início dos protestos, ElBaradei discursou na praça Tahrir e garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Na segunda-feira, o principal grupo opositor, os Irmãos Muçulmanos, disse que não vão dialogar com o novo governo. Depois de um domingo sem enfrentamentos, os organizadores dos protestos convocaram uma enorme mobilização para a terça, dia 1º de fevereiro. Uma semana após o início dos protestos, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, disse que informações não confirmadas sugerem que até 300 pessoas podem ter morrido e que há mais de 3 mil feridos do país.



AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
Compartilhar
Publicidade