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Disparos no centro do Cairo deixam mais cinco mortos

3 fev 2011 - 04h04
(atualizado às 08h04)
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Simpatizantes do presidente egípcio, Hosni Mubarak, abriram fogo contra manifestantes na praça Tahrir, no Cairo, nesta quinta-feira, matando pelo menos cinco pessoas em um novo episódio de violência durante o inédito desafio ao governo Mubarak, que já dura 30 anos.

Manifestantes se protegem de uma cadeira jogada na multidão na praça Tahrir
Manifestantes se protegem de uma cadeira jogada na multidão na praça Tahrir
Foto: Reuters

A oposição respondeu renovando os pedidos para que o presidente deixe o poder. Milhares de dissidentes montaram barricadas na praça localizada na região central do Cairo, prometendo permanecer no local até a saída de Mubarak. Pela primeira vez, tropas foram enviadas para criar uma zona de segurança de 80 metros entre eles e os simpatizantes de Mubarak.

A Irmandade Muçulmana, grupo banido visto como entidade de oposição mais bem organizada, emitiu um comunicado pedindo que um governo de unidade nacional substitua Mubarak. O grupo islâmico, cuja potencial ascensão ao poder incomoda os aliados do Egito no Ocidente, tem assumido uma postura de coadjuvante nos protestos.

Durante os confrontos da madrugada, tiros ecoaram por mais de uma hora na praça, onde os manifestantes mostram sua insatisfação com a promessa de Mubarak de deixar o poder apenas em setembro.

Ao amanhecer havia calmaria. As tropas, com tanques, continuavam a observar, mas tomavam mais medidas para separar os dois grupos do que na quarta-feira, num momento em que simpatizantes de Mubarak eram vistos caminhando em direção à praça com facas e porretes.

"De um jeito ou de outro, vamos derrubar Mubarak", gritavam alguns manifestantes no início da manhã. "Não vamos desistir, não vamos nos entregar."

Em comunicado à emissora Al Jazeera, a Irmandade disse: "Exigimos que esse regime seja derrubado e exigimos a formação de um governo de unidade nacional para todas as facções."

Foi oferecido a Mubarak a chance de negociar, e a TV estatal afirmou nesta quinta-feira que seu recém-nomeado vice-presidente, Omar Suleiman, conversou com grupos não especificados.

Um porta-voz do novo gabinete, nomeado por Mubarak nesta semana numa tentativa vã de acalmar os protestos, negou estar envolvido na violência e informou que investigará o caso.

O ministro da Saúde do Egito, Ahmed Samih Farid, disse à TV estatal que cinco pessoas morreram e 836 ficaram feridas nos confrontos inicialmente deflagrados na quarta-feira. Ele disse que a maioria das vítimas foi atingida por pedras e ataques com porretes e pedaços de metal.

Protestos convulsionam o Egito

Desde o último dia 25 de janeiro - data que ganhou um caráter histórico, principalmente na internet -, os egípcios protestam pela saída do presidente Hosni Mubarak, que está há 30 anos no poder. No dia 28 as manifestações ganharam uma nova dimensão, fazendo o governo cortar o acesso à rede e declarar toque de recolher. As medidas foram ignoradas pela população, mas Mubarak disse que não sairia. Limitou-se a dizer que buscaria "reformas democráticas" para responder aos anseios da população a partir da formação de um novo governo.

A partir do dia 29, um sábado, a nova administração foi anunciada. Passaram a fazer parte dela o premiê Ahmed Shafiq, general que até então ocupava o cargo de Ministro da Aviação Civil, e o também general Omar Suleiman, que reinaugurou o cargo de vice-presidente, posto inexistente no país desde 1981. A medida, mais uma vez, não surtiu efeito, e os protestos continuaram. No domingo, o presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da polícia antimotins. A emissora Al Jazeera, que vinha cobrindo de perto os tumultos, foi impedida de funcionar.

Enquanto isso, a oposição seguiu se organizando. O líder opositor Mohamad ElBaradei garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Já os Irmãos Muçulmanos disseram que não iriam dialogar com o novo governo. Na terça, dia 1º de fevereiro, dezenas de milharesde pessoas se reuniram na praça Tahrir para exigir a renúncia de Mubarak. A grandeza dos protestos levou o líder egípcio a anunciar que não participaria das próximas eleições, para delírio da massa reunida no centro do Cairo. Apesar de os protestos de ontem terem sido pacíficos, a ONU estima que cerca de 300 pessoas já tenham morrido no país desde o início dos protestos.



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