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Estados Unidos

EUA discutem com Egito plano para saída de Mubarak, diz 'NYT'

4 fev 2011 - 00h43
(atualizado às 17h25)
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Washington estudava, nesta sexta-feira, planos para afastar o presidente do Egito, Hosni Mubarak, do poder, deixando aos egípcios a tarefa de determinar seu destino político, no momento em que os manifestantes aumentam a pressão nas ruas do Cairo por uma mudança de regime.

info infográfico distúrbios mundo árabe
info infográfico distúrbios mundo árabe
Foto: AFP

O primeiro vislumbre do que a diplomacia americana está fazendo nesta crise foi revelado pelo jornal The New York Times em um artigo publicado na noite de quinta-feira. O jornal fala de um plano para obrigar Mubarak a renunciar e entregar o poder a um governo de transição, que seria chefiado pelo vice-presidente Omar Suleiman, ex-chefe dos serviços de inteligência.

A Casa Branca polemizou sobre alguns aspectos do informe, mas não negou categoricamente e por sua resposta se pode deduzir que os Estados Unidos estão estudando várias opções para forçar Mubarak a deixar o poder e, assim, acalmar a situação no Cairo.

"É simplesmente errado dizer que só há sobre a mesa um plano americano, que está sendo negociado com os egípcios", disse um alto funcionário da Casa Branca, que pediu para ter a identidade preservada.

O artigo do The New York Times, que cita autoridades da administração americana e diplomatas árabes, diz que os Estados Unidos estão procurando apoio no exército egípcio, apesar de Mubarak se negar a deixar de imediato o poder e o máximo que prometeu foi não disputar a reeleição em setembro.

O periódico sustenta que a proposta de Washington inclui um pedido ao eventual governo de transição para que aceite membros de um amplo leque de grupos opositores, inclusive a Irmandade Muçulmana (ilegal), com o objetivo de iniciar um processo que desemboque em eleições livres e justas, em setembro.

Os Estados Unidos já pediram a Mubarak que empreenda uma transição ordenada "agora". As revelações da imprensa coincidem, ainda, com um visível endurecimento da posição americana com relação ao ainda homem forte do Egito, aliado chave na região em seus 30 anos de governo.

"O presidente (Obama) disse que agora é o momento de incitar uma transição pacífica, ordenada e substancial, com negociações confiáveis e inclusivas", declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Tommy Vietor.

"Abordamos com os egípcios diferentes formas de impulsionar o processo, mas é o povo do Egito que deve tomar todas estas decisões", acrescentou. Mubarak disse esta semana, em entrevista ao canal ABC, que não se demite imediatamente por medo de que sua renúncia provoque um caos no país.

Obama terá a oportunidade de responder a Mubarak e detalhar sua estratégia na noite desta sexta-feira, quando aparecer em frente às câmeras ao lado do primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, que está em visita a Washington.

Do lado militar, houve novos sinais de que o Pentágono quer manter os vínculos com o exército egípcio, muito forte politicamente. O chefe de Estado maior conjunto, almirante Mike Mullen, advertiu nesta sexta-feira contra qualquer aceleração da suspensão de ajuda militar ao Egito.

"Gostaria de advertir que não deveríamos fazer nada antes de compreender realmente o que está acontecendo", disse Mullen em entrevista à ABC News. Nos últimos anos, o Egito tem sido o segundo maior receptor da ajuda militar americana, depois de Israel, com uma cifra anual de 1,3 bilhão de dólares em 30 anos, segundo Mullen.

A administração americana acredita que os anos de treinamento de oficiais em centros americanos influenciaram de forma determinante sua atitude e por isto nesta crise se mostraram reticentes e usar a força contra seus compatriotas.

Protestos convulsionam o Egito

Desde o último dia 25 de janeiro - data que ganhou um caráter histórico, principalmente na internet, principalmente pelo uso da hashtag #Jan25 no Twitter -, os egípcios protestam pela saída do presidente Hosni Mubarak, que está há 30 anos no poder. No dia 28 as manifestações ganharam uma nova dimensão, fazendo o governo cortar o acesso à rede e declarar toque de recolher. As medidas foram ignoradas pela população, mas Mubarak disse que não sairia. Limitou-se a dizer que buscaria "reformas democráticas" para responder aos anseios da população a partir da formação de um novo governo.

A partir do dia 29, um sábado, a nova administração foi anunciada. A medida, mais uma vez, não surtiu efeito, e os protestos continuaram. O presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da polícia antimotins. Enquanto isso, a oposição seguiu se organizando. O líder opositor Mohamad ElBaradei garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Já os Irmãos Muçulmanos disseram que não iriam dialogar com o novo governo. Na terça, dia 1º de fevereiro, dezenas de milharesde pessoas se reuniram na praça Tahrir para exigir a renúncia de Mubarak.

A grandeza dos protestos levou o líder egípcio a anunciar que não participaria das próximas eleições, para delírio da massa reunida no centro do Cairo. O dia seguinte, 2 de fevereiro, no entanto, foi novamente de caos na capital. Manifestantes pró e contra o governo Mubarak travaram uma batalha campal na praça Tahrir com pedras, paus, facas e barras de ferro. O número de mortos é incerto, entre seis e dez, e mais de 800 pessoas ficaram feridas. No dia seguinte, o governo disse ter iniciado um diálogo com os partidos. Mas a oposição nega. Na praça Tahrir e arredores, segue a tensão.



EFE   
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