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Distúrbios no Mundo Árabe

Opositores levantam barricadas contra apoiadores de Mubarak

3 fev 2011 - 18h46
(atualizado em 30/7/2018 às 10h06)
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Uma mulher usando um véu destruía um farol com uma pedra para alertar sobre a presença de suspeitos em uma das ruas laterais da praça Tahrir, e imediatamente centenas de jovens apareceram para repelir a paus um possível contra-ataque dos partidários do presidente Hosni Mubarak. Era um alarme falso: um grupo de militares interveio imediatamente para tranquilizar os manifestantes, fazendo sinais de calma com as mãos, e impedindo que chegassem até um pequeno grupo de pessoas que era visto ao longe.

Cenas semelhantes ocorreram durante toda a quinta-feira em Tahrir, refletindo não apenas o nervosismo dos manifestantes um dia depois da batalha campal contra os partidários de Mubarak, mas também a estrita organização que estabeleceram depois de expulsar seus adversários da praça durante a noite.

"Não tenho a menor dúvida de que vamos vencer. E mais: já vencemos porque os expulsamos da praça a chutes", afirmou Besim, 28 anos, que reconheceu ter abandonado Tahrir depois do discurso de Mubarak na terça-feira, quando anunciou que não se apresentaria nas eleições de setembro. "Mas voltei quando vi o que ocorreu ontem, por meus irmãos", completou.

Nesta quinta-feira, os opositores tinham tomado conta da praça, depois de confrontos a pedradas durante cerca de 15 horas contra milhares de homens de Mubarak, que irromperam brutalmente em Tahrir, onde os opositores exigem a renúncia do presidente há dez dias. Os manifestantes assumiram eles mesmos o controle dos acessos, ao montar suas próprias barricadas a 50 metros dos tanques, em um evidente ato de desconfiança em relação aos militares que vigiavam a região desde o fim de semana e que não impediram na quarta-feira a entrada dos militantes pró-Mubarak.

As barricadas foram feitas com todo o material encontrado na praça: restos de veículos queimados e chapas de ferro. Atrás delas, estão "as munições", como disse um egípcio: montes de pedras preparadas para responder a um ataque inimigo.

Na praça, o ambiente era de companheirismo. Jovens mulheres de véu distribuíam comida e água que outros traziam para abastecer as milhares de pessoas atrincheradas na praça, onde normalmente reina o caos do trânsito da capital egípcia. "Aqui há todo tipo de egípcios: comunistas, liberais, islamitas. Estamos todos unidos", comemorou Khaled, 23 anos, um empregado do setor turístico em Sharm el Sheik e que levava uma venda na cabeça após uma pedrada na véspera.

Centenas de pessoas mostravam ferimentos da batalha, como Yaser, 20 anos, que afirma que uma pedra quebrou seu braço, sem aquebrantar sua determinação. "Fico aqui até que Mubarak saia", assegurou. Mas também havia muita desconfiança e medo dos policiais e homens de Mubarak infiltrados.

Uma pessoa identificada como suposto membro dos serviços de segurança foi retirada brutalmente pela multidão. Alguns manifestantes batiam com todos os meios a seu alcance, desde paus a garrafas de plástico, mas outros o protegiam, como Kamal, um médico que exerce a profissão nos Estados Unidos. "Não temos que bater em ninguém. Somos pacíficos e os pacíficos não dão socos", afirmou, depois que os militares recuperaram o suposto agente infiltrado.

Protestos convulsionam o Egito

Desde o último dia 25 de janeiro - data que ganhou um caráter histórico, principalmente na internet, principalmente pelo uso da hashtag #Jan25 no Twitter -, os egípcios protestam pela saída do presidente Hosni Mubarak, que está há 30 anos no poder. No dia 28 as manifestações ganharam uma nova dimensão, fazendo o governo cortar o acesso à rede e declarar toque de recolher. As medidas foram ignoradas pela população, mas Mubarak disse que não sairia. Limitou-se a dizer que buscaria "reformas democráticas" para responder aos anseios da população a partir da formação de um novo governo.

A partir do dia 29, um sábado, a nova administração foi anunciada. A medida, mais uma vez, não surtiu efeito, e os protestos continuaram. O presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da polícia antimotins. Enquanto isso, a oposição seguiu se organizando. O líder opositor Mohamad ElBaradei garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Já os Irmãos Muçulmanos disseram que não iriam dialogar com o novo governo. Na terça, dia 1º de fevereiro, dezenas de milhares de pessoas se reuniram na praça Tahrir para exigir a renúncia de Mubarak.

A grandeza dos protestos levou o líder egípcio a anunciar que não participaria das próximas eleições, para delírio da massa reunida no centro do Cairo. O dia seguinte, 2 de fevereiro, no entanto, foi novamente de caos na capital. Manifestantes pró e contra o governo Mubarak travaram uma batalha campal na praça Tahrir com pedras, paus, facas e barras de ferro. O número de mortos é incerto, entre seis e dez, e mais de 800 pessoas ficaram feridas. No dia seguinte, o governo disse ter iniciado um diálogo com os partidos. Mas a oposição nega. Na praça Tahrir e arredores, segue a tensão.


 

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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