PUBLICIDADE

Distúrbios no Mundo Árabe

Milhares de egípcios voltam a tomar o coração do Cairo

31 jan 2011 - 08h37
(atualizado às 09h37)
Compartilhar

Milhares de egípcios voltam nesta segunda-feira a tomar o coração do Cairo para exigir a renúncia do regime do presidente Hosni Mubarak, no sétimo dia de manifestações contra o líder, no poder desde 1981.

Ministros do governo renunciam no Egito:

A Praça Tahrir, símbolo dos protestos dos últimos dias, segue sob forte proteção das tropas do Exército, apesar de a polícia voltou à cidade para restabelecer o trânsito e a ordem.

Os militares se mantêm afastados do centro da praça e só estão nos acessos à mesma, ao contrário do que nos dias anteriores, quando os tanques circulavam pelo meio da Tahrir (Libertação, em árabe), segundo comprovou a agência EFE.

As ruas de acesso estão interrompidas por tanques e cercas, e os soldados revisam as bolsas e, em alguns casos, pedem os documentos de identidade das pessoas que se aproximam da praça.

Nessa região não se vê a polícia egípcia, que retornou nesta segunda-feira após dois dias de ausência nas ruas para assumir a defesa da segurança pública, que foi deteriorada pelos atos de vandalismo e devido à fuga de inúmeros presos.

A praça Tahrir está só sob o controle do Exército para evitar distúrbios, já que a tensão entre a Polícia e a população é evidente depois dos fortes enfrentamentos que acabaram com dezenas de mortos.

São milhares os egípcios que passaram a noite na praça, sem respeitar o toque de recolher decretado na sexta-feira, e a estes manifestantes se une cada vez mais gente segundo avança o dia.

A praça Tahrir é sobrevoada a todo instante por um helicóptero do Exército, que não é bem recebido pelos manifestantes que o assobiam cada vez que o veem rasgar o céu.

Apesar de a aeronave não agradar, os militares são aceitos pelos egípcios, que aplaudiram sua saída à rua e os consideram amigos do povo.

Os protestos que atingem o Egito há uma semana começaram pedindo reformas políticas, mas agora exigem a saída de Mubarak e o fim do atual regime.

"Tudo no sistema é ilegal. O Parlamento é ilegal", gritavam os manifestantes na praça Tahrir, onde era possível ler em cartazes frases contra o presidente: "30 anos de Mubarak no poder e a situação vai pior".

Alguns pedem julgamento a Mubarak e lembram às dezenas de pessoas mortas nesta revolta popular sem precedentes, inspirada nos protestos que na Tunísia derrubaram em 14 de janeiro o então presidente Zine El Abidine Ben Ali.

Egípcios desafiam governo Mubarak

A onda de protestos dos egípcios contra o governo do presidente Hosni Mubarak, iniciados no dia 25 de janeiro, tomou nova dimensão na última sexta-feira. O governo havia tentado impedir a mobilização popular cortando o sinal da internet no país, mas a medida não surtiu efeito. No início do dia, dois mil egípcios participaram de uma oração com o líder oposicionista Mohamad ElBaradei, que acabou sendo temporariamente detido e impedido de se manifestar.

Os protestos tomaram corpo, com dezenas de milhares de manifestantes saindo às ruas das principais cidades do país - Cairo, Alexandria e Suez. Mubarak enviou tanques às ruas e anunciou um toque de recolher, o qual acabou virtualmente ignorado pela população. Os confrontos com a polícia aumentaram, e a sede do governista Partido Nacional Democrático foi incendiada.

Já na madrugada de sábado (horário local), Mubarak fez um pronunciamento à nação no qual ele disse que não renunciaria, mas que um novo governo seria formado em busca de "reformas democráticas". Defendeu a repressão da polícia aos manifestantes e disse que existe uma linha muito tênue entre a liberdade e o caos. A declaração do líder egípcio foi seguida de um pronunciamento de Barack Obama, que pediu a Mubarak que fizesse valer sua promessa de democracia.

O governo encabeçado pelo premiê Ahmed Nazif confirmou sua renúncia na manhã de sábado. Passaram a fazer parte do novo governo o premiê Ahmed Shafiq, general que até então ocupava o cargo de Ministro de Aviação Civil, e o também general Omar Suleiman, que inaugura o cargo de vice-presidente do Egito - posto inexistente no país desde o início do governo de Mubarak, em 1981.

Mubarak, à revelia da pressão popular que persiste nas cidades egípcias, ainda não deu sinais de que irá renunciar. No domingo, o presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou a ampliação do toque de recolher, bem como o retorno da política antimotins para tentar conter as manifestações. E a a emissora Al Jazeera, que vinha cobrindo de perto os tumultos, foi impedida de funcionar.

Enquanto isso, a oposição segue se articulando em direção a um possível novo governo para o país. Em um dos momentos mais marcantes desde o início dos protestos, ElBaradei discursou na praça Tahrir e garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Já passam de 100 os mortos desde o início dos protestos, na última terça.



EFE   
Compartilhar
Publicidade