Mitos da Ciência

A capacidade de enrolar a língua é ligada a um gene?

Um dos exemplos mais usados em sala de aula para demonstrar os princípios básicos da genética é a capacidade de enrolar a língua. Tudo começou com um famoso cientista, Alfred Sturtevant - um dos pioneiros da genética -, que afirmou em 1940 que essa característica está ligada a um único gene, sendo o alelo dominante responsável pela capacidade de enrolar a língua, enquanto que a "incapacidade" era ligada a um recessivo.

Contudo, diversos estudos já mostraram que essa "elasticidade" da língua não é tão simples e está muito ligada à prática. John H. MacDonald, professor da Universidade de Delaware, afirma em um artigo no site da instituição que em um estudo divulgado em 1951, feito no Japão, mostrava, por exemplo, que a proporção de jovens que conseguem enrolar a língua sobe de 54% - entre aquelas com 6 e 7 anos - para 76% nos jovens de 12 anos. Isso indica que boa parte da população aprende a fazer esse "truque", e não nasce com ele.

Além desse dado, há pessoas que aprendem a enrolar e ainda há aquelas que conseguem dobrar um pouco os cantos da língua - sendo uma espécie de meio-termo.

Outro estudo feito com gêmeos descobriu que alguns pares de monozigóticos (idênticos) diferem na capacidade de enrolar a língua. Contudo, nos não idênticos, o número de pares com a característica diferente era ainda maior. Isso, afirma McDonald, demonstra que há alguma influência genética nessa característica, mas ela é muito mais complexa do que aprendemos na escola e certamente envolve diversos genes ou diversos alelos.

"Os estudos com gêmeos demonstram que a influência é tanto genética quanto ambiental. Apesar disso, enrolar a língua é provavelmente o mais comum exemplo em classe de um traço genético simples em humanos (...) Você não deve usar ele para demonstrar genética básica", diz o professor.

Fotos: Gideon Tsang/Wikimedia