PUBLICIDADE

Oriente Médio

Jihadistas são acusados de forçar conversão de cristão com arma

11 set 2013 - 14h10
(atualizado às 14h32)
Compartilhar
Exibir comentários
Imagem do dia 7 de setembro mostra a cidade de Maaloula
Imagem do dia 7 de setembro mostra a cidade de Maaloula
Foto: AP

Os habitantes que fugiram da localidade cristã síria de Maaloula acusaram os jihadistas que a tomaram de terem obrigado um deles a se converter ao islamismo sob a mira de uma pistola.

"Eles chegaram à nossa cidade na manhã da última quarta-feira e gritaram: 'Nós somos a frente Al-Nosra'", contou uma mulher na terça-feira, em Damasco, depois de participar do funeral de três milicianos cristãos favoráveis ao regime, que foram mortos durante os combates entre os rebeldes e o Exército.

"Eles atiravam gritando: 'Alá é grande'", acrescentou a mulher, depois do funeral realizado no bairro cristão da Cidade Velha."Maaloula é a ferida de Cristo", diziam os participantes do funeral, enquanto era possível ouvir o barulho dos disparos de armas automáticas em homenagem aos mortos.

Maaloula é uma das localidades cristãs mais famosas da Síria e seus habitantes ainda falam aramaico, o idioma de Jesus Cristo. A maioria dos cristãos na cidade é católica bizantina.

A região, famosa por seus abrigos que datam dos primeiros séculos do cristianismo, muda de aparência dependendo da época.

No verão, a população é de 4,5 mil pessoas, das quais três mil, na maioria cristãos, vêm de Damasco e de outros países, enquanto no inverno a população é reduzida para duas mil pessoas e os muçulmanos são a maioria.

Guerra na Síria para iniciantes
AFP AFP
AFP AFP

"Eu moro perto da entrada da cidade. Ouvi uma grande explosão e, em seguida, vi que não havia mais nada. Pessoas com lenços do Al-Nosra atiravam nas cruzes", relata Adnan Nasrallah, 62 anos. "Apontaram uma arma para a cabeça do meu vizinho e o forçaram a se converter ao Islã", acrescenta o homem, que viveu 42 anos nos Estados Unidos, onde tinha um restaurante chamado Maaloula.

Nasrallah, que voltou para a Síria pouco antes do início da rebelião contra o governo de Bashar al-Assad, em março de 2011, perdeu todos os bens. "Eu tinha um sonho. Voltei para o meu país para promover o turismo. Construí um albergue e ajudei a instalar um pequeno parque eólico. Meu sonho acabou. Trabalhei 40 anos para nada", lamenta.

O mais dramático para Nasrallah foi a atitude de alguns de seus vizinhos muçulmanos: "Havia mulheres que foram para a varanda gritando de alegria. Descobri que nossa amizade era superficial", conta.

Antoinette, a irmã de Nasrallah, prefere não acusar todos da mesma forma. "Esses são os refugiados de Harasta e Douma (subúrbio de Damasco) que recebemos em nossa cidade e que destilaram o veneno do ódio, especialmente entre a nova geração", diz.

A jovem Racha se entristece ao lembrar do destino trágico de seu noivo, Atef: "Liguei para o celular dele e alguém disse: 'Alô, nós somos o Exército Sírio Livre (ESL). Seu namorado era um shabiha (fazia parte da milícia pró-governo), estava armado e nós o degolamos'", afirma Racha. Segundo ela, o homem contou que o grupo tentou fazer com que Atef se convertesse ao islamismo e ele se recusou. "Jesus não veio salvá-lo", teria zombado o rebelde.

Nesta quarta-feira, os rebeldes permaneceram em Maaloula e o Exército sírio tentou expulsá-los. Mais de 110 mil pessoas já morreram na guerra civil da Síria. Os cristãos representam 5% da população.

<a data-cke-saved-href="http://noticias.terra.com.br/infograficos/raio-x-maquina-guerra/" href="http://noticias.terra.com.br/infograficos/raio-x-maquina-guerra/">Raio-x de uma máquina de guerra</a>
AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
Compartilhar
Publicidade
Publicidade