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Oriente Médio

Bahrein se dispõe a dialogar e aceita volta de ativista

24 fev 2011 - 18h24
(atualizado às 18h53)
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O Bahrein quer um diálogo nacional sem restrições e com a presença de "todo tipo de gente", inclusive um líder oposicionista xiita que está no exílio, disse o chanceler do reino nesta quinta-feira.

"O que está acontecendo no Bahrein é uma nova transformação, um novo começo para nossas reformas que começaram há uma década", disse o xeique Khaled bin Ahmed al-Khalifa à Reuters.

"Tudo pode ser trazido para a mesa", afirmou ele, admitindo inclusive a hipótese de uma mudança no gabinete em resposta às manifestações da maioria xiita da população, que se diz discriminada pela monarquia sunita.

Sete pessoas foram mortas em distúrbios na semana passada, os piores na ilha desde a década de 1990.

O xeique Khaled disse esperar que negociações formais com a oposição comecem nos próximos dias, e que o líder xiita do partido Haq, radicado em Londres, pode voltar ao Bahrein.

Mushaimaa está retido em Beirute desde terça-feira, quando as autoridades o proibiram de embarcar num voo para Manama, porque seu nome constava em um mandado internacional de prisão. Uma fonte judicial libanesa disse que o passaporte de Mushaimaa foi apreendido, mas que ele não está sob custódia.

Ele foi um dos 25 acusados de participar de uma suposta tentativa de golpe no ano passado, e estava sendo julgado à revelia no Bahrein. Mas o governo libertou na terça-feira os outros réus, como um dos vários gestos para tentar aplacar as manifestações.

Em nota na segunda-feira, o rei Hamad bin Isa sugeriu que o processo pode ser arquivado. Uma autoridade libanesa disse que seu país está verificando a situação junto ao Bahrein.

O partido Haq é mais radical que o também xiita e oposicionista Wefaq, do qual se separou em 2006, quando o Wefaq contestou o resultado de uma eleição parlamentar. Vários líderes do Haq foram presos nos últimos anos, mas acabaram recebendo o perdão real.

Os manifestantes barenitas exigem a adoção de uma monarquia constitucional, em vez do atual sistema, que elege um Parlamento sem poderes, enquanto o poder permanece com uma elite centrada há 200 anos em torno da dinastia sunita Al Khalifa.

O primeiro-ministro, que é tio do rei, está no cargo desde o fim do colonialismo britânico, em 1971.

O partido Wefaq queixou-se de que não houve "progresso algum" depois do anúncio de diálogo, do qual diz que só participará se houver garantias expressas de adoção da monarquia constitucional.

Mundo árabe em convulsão

A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Alie do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.

No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.

Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muammar Kadafi, a população vem entrando em sangrento confronto com as forças de segurança, já deixando um saldo de centenas de mortos. Em meio ao crescimento dos protestos na capital Trípoli e nas cidades de Benghazi e Tobruk, Kadafi foi à TV estatal no dia 22 de feveiro para xingar e ameaçar de morte os opositores que desafiam seu governo. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.

Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.

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