Sogra de terrorista luta pra levar netos para a Austrália
A filha de Karen Nettleton abandonou a família para viver com um militante do Estado Islâmico na Síria
Karen Nettleton não consegue conter as lágrimas ao lembrar da primeira vez em que viu a filha Tara vestida com o hijab, a vestimenta tradicional islâmica. A garota só tinha 16 anos quando decidiu se converter ao Islã para se casar com um muçulmano. Naquele encontro, após um mês sem se encontrarem, Tara também anunciou sua gravidez. “Quando ela chegou, estava vestida com as roupas muçulmanas, com o vestido longo e o lenço na cabeça. E ela estava com alguém que eu pensei ser o Carlos”, recorda Karen.
Carlos, na verdade, se chama Khaled Sharrouf, e é um dos terroristas mais procurados da Austrália. Integrante do grupo extremista Estado Islâmico (ISIS), Sharrouf já era conhecido das autoridades, mas ganhou notoriedade pública ao postar no Twitter uma imagem do filho Abdullah segurando a cabeça de um oficial sírio, com o comentário: ‘Esse é meu garoto’. “Eu vi a foto desse menininho segurando uma cabeça e fiquei desolada. Foi a pior coisa que já vi na minha vida”, diz a avó, em prantos. “Meu neto deve estar traumatizado. Minha maior preocupação é se isso vai persegui-lo pelo resto da vida. Ele é uma criança muito querida”, acrescenta.
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Na tentativa de manter as boas relações com a filha, Karen aceitou o destino e até mesmo o comportamento perigoso do genro. Em 2006, Sharrouf foi preso por quatro anos por planejar ataques terroristas a diversos alvos na Austrália. Apesar disso, Karen era uma avó relativamente feliz até dois anos atrás, quando passava férias com a família na Malásia. Ela voltou para Sydney, mas Tara decidiu prolongar a viagem. E nunca mais voltou. A filha seguiu o marido – que havia saído da Austrália com o passaporte do irmão - para viver na Síria.
E, como se as coisas não pudessem piorar, Sharrouf casou a filha mais velha, Zaynab, com seu parceiro no grupo terrorista Mohamed Elomar, que tem outra esposa e três filhos na Austrália. “Não foi um bom dia. Ela só tinha 13 anos, pelo amor de Deus! Isso está errado pra mim. Eu falei com minha neta, mas tenho que tomar cuidado pra não afastá-los; senão nunca mais vou ter notícias deles. Ela disse que estava feliz e que ama o marido”, comenta Karen. Segundo as informações da avó, Zaynab está grávida.
Mas, novamente, a vida da família tomou um outro rumo há duas semanas, quando um míssil atingiu o comboio do ISIS em que estavam os Khaled e Mohamed. Khaled foi morto, mas ainda há dúvidas sobre o destino de Mohamed. “Meu coração se partiu por minha filha Tara e minha neta Zaynab, sozinhas em um país perigoso, mas fiquei aliviada em saber que estão vivas e com saúde”, declarou Karen.
Agora, a avó luta para trazer a filha e os cinco netos – que estão na Síria - de volta à Austrália sem ajuda do governo e apesar da resistência de australianos que consideram a família uma ameaça à sociedade. “Eu aceito que muitos sejam críticos da minha filha, que seguiu seu coração e está pagando um preço alto por isso. Tara cometeu o maior erro da vida dela, mas a Austrália é um país de muitas etnias e religiões e está na hora de demonstrar empatia e compaixão”, argumenta.
Em fóruns na internet, os australianos se dividem, discutindo sobre a possibilidade de recuperação das crianças: “Essas crianças só vão trazer problemas para a Austrália, porque sofrem de distúrbios psicológicos que vão permanecer com elas para sempre”; “Não nos importamos. A mãe das crianças tomou uma decisão consciente e nós não queremos/precisamos deles na Austrália. Não é mais problema nosso. Fim de história”; “Não! A segurança do nosso povo e do nosso país é mais importante”; “Vocês são uns racistas arrogantes. As crianças tiveram pais desprezíveis e agora vocês querem culpar os filhos”.
Em meio ao fogo cruzado, a avó Karen pede o empenho das autoridades, especialmente do Primeiro-Ministro Tony Abbott: “Sr. Abbott, eu lhe imploro, por favor me ajude a trazer minha filha e meus netos pra casa. Vai ser difícil pra eles, mas eu vou fazer o possível para que levem uma vida normal”, argumenta a avó.
Se depender do governo, Karen não deve ter grandes esperanças. Com o endurecimento das leis anti-terror no ano passado, australianos que se envolvem em atividades terroristas no exterior podem ser julgados na Austrália.”Vamos aplicar a lei independentemente do sexo e da idade. Esses não são os primeiros assassinos diabólicos com família”, declarou o Primeiro-Ministro.