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Oriente Médio

Especialista: pressão ocidental sobre a Síria "não serve para nada"

6 jul 2012 - 13h31
(atualizado às 13h38)
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

As tentativas de os países ocidentais forçarem o presidente sírio, Bashar Al-Assad, a sair do poder "não servem para nada", na análise de um dos maiores especialistas sobre a Síria na França, Laurent Balanche, diretor do Grupo de Pesquisas e Estudos sobre o Mediterrâneo e o Oriente Médio, em Lyon. Com a experiência de quem passou 10 anos no país árabe para compreender as raízes do poder dos alauítas e sua família mais influente, os Al-Assad, Balanche assegura com uma certeza intrigante que os russos, aliados de maior peso do presidente sírio, "jamais" vão abandonar o regime.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, participa da reunião dos Amigos da Síria, hoje, em Paris
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, participa da reunião dos Amigos da Síria, hoje, em Paris
Foto: AP

A Rússia, ao lado da China, são os dois países que impedem uma ação mais concreta do Conselho de Segurança da ONU para conter a violência no país, onde desde março do ano passado já foram mortas mais de 16 mil pessoas em conflitos internos. Para a aprovação de uma resolução, é preciso unanimidade dos membros-permanentes do órgão, do qual fazem parte.

Na visão do especialista francês, a aliança com os russos é mais do que econômica e militar: se a oposição tomasse o poder, os primeiros a serem vetados por um novo governo sírio seriam os que hoje permanecem ao lado de Al-Assad, a exemplo do que ocorreu na Líbia. "Os russos jamais vão abandonar Al-Assad, afinal não teriam nada a ganhar com isso. A única chance seria se a oposição passasse a controlar a maioria do país, o que está longe de acontecer."

Balanche argumenta que, ao contrário do líbio Muammar Kadafi, os al-Assad tiveram um período curto de "ditadura sanguinária", nos anos 80. Desde os anos 90, aplicam um regime opressivo cada vez menos violento, que lhes permitiu circular à vontade entre as potências ocidentais nos últimos anos e reforçar o poder dentro do próprio país. Não à toa, quase nenhum diplomata abandonou o regime desde o início das manifestações e a estrutura do Estado permanece estática, segundo o pesquisador.

Ao mesmo tempo, a oposição segue desestruturada, alimentando os temores de instalação de um caos no país se o atual governo chegasse ao fim. Em uma recente reunião de diversas correntes opositoras no Cairo, os participantes chegaram a trocar tapas.

"Um dia, talvez, daqui a uns 10 anos, Al-Assad deixe mesmo o poder", ironizou o especialista da Universidade de Lyon. "Ele não tem uma razão forte para ceder. Sanções são inúteis porque ele tem tudo o que precisa na própria região. É mais ou menos como o Irã, que está 30 anos sob sanções que não adiantam de nada", explicou Balanche, ao Terra.

Nesta sexta-feira, na capital francesa, um grupo de 107 países - entre representantes direitos e organizações internacionais - pediu para o Conselho de Segurança adotar "urgentemente" uma resolução com sanções políticas e econômicas ao regime al-Assad. Mais uma vez, também reclamaram a saída imediata de al-Assad da presidência. Russos e chineses boicotaram a reunião, que contou com a presença da secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, e do chanceler britânico, William Hague.

Outro ausente foi o Brasil, embora nos encontros anteriores tivesse enviado um representante. O país se opõe à intervenção externas no conflito sírio.

Esta foi a terceira reunião do chamado "Grupo de Amigos da Síria", formado principalmente por ocidentais e árabes, para discutir maneiras de fazer cessar os ataques do governo contra os manifestantes que exigem a saída de Al-Assad do poder e rejeitam qualquer diálogo.

As reuniões anteriores ocorreram na Tunísia e na Turquia. Em Paris, o anfitrião do evento, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, anunciou que os países vão "aumentar massivamente a ajuda para os opositores sírios", mas descartou auxílio militar. O apoio será através de ferramentas de comunicação, ajuda humanitária e financeira.

"O problema não acontece da mesma forma como ocorreu em outros países no passado. Por razões políticas, geográficas, estratégicas e militares, não somos favoráveis a uma intervenção militar", declarou Fabius, em coletiva de imprensa, ao ser questionado sobre a possibilidade de os "Amigos da Síria" também fornecerem armas.

"Mais da metade dos países do mundo esteve aqui, hoje, para dizer que não aceitamos mais este regime. Bashar Al-Assad deve partir, o quanto mais cedo isso acontecer, melhor", disse, reafirmando o que o presidente francês, François Hollande, já havia expressado na abertura do evento. A próxima reunião do Grupo de Amigos da Síria será no Marrocos e a seguinte, na Itália.

Fonte: Especial para o Terra
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