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Ásia

Mulher de Bin Laden foi peça-chave na traição que levou à captura

2 mai 2012 - 12h49
(atualizado às 13h35)
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Luís Eduardo Gomes

As três mulheres de Bin Laden e o restante da família foram enfim expulsos do Paquistão no fim de abril de 2012
As três mulheres de Bin Laden e o restante da família foram enfim expulsos do Paquistão no fim de abril de 2012
Foto: Reuters

Em oito meses de pesquisa, o militar paquistanês aposentado Shaukat Qadir concluiu que o paradeiro de Osama bin Laden foi descoberto porque a mais velha de suas mulheres o entregou. "Na minha visão, a Shoora da Al-Qaeda decidiu traí-lo", disse em entrevista ao Terra. "Eles não tinham contato direto entre a CIA e a ISI (agência de inteligência paquistanesa). Então, eles planejaram a traição via talibãs ligados à ISI, que manteve a CIA informada. Se eles não tivessem feito, Osama bin Laden poderia ter vivido outros seis anos sem ser descoberto". O objetivo da Al-Qaeda era a recompensa pela captura, estimada em US$ 25 milhões.

Trechos completos da entrevista
Aposentado desde 2003, Bin Laden foi traído
Os últimos anos de Bin Laden
Como foi a operação

Operação Jerônimo em detalhes
Ataque à mansão


A investigação
As forças americanas

Segundo Qadir, a descoberta do esconderijo de Bin Laden começou quando Khairiah Sabar, então a mais velha das três mulheres de Bin Laden - ele teve duas mulheres anteriores com quem não convivia mais -, chegou ao local. Khairiah, mãe de pelo menos cinco filhos de Bin Laden, esteve presa no Irã ao lado de seus filhos desde 2003 por tentar cruzar o país ilegalmente para chegar à Arábia Saudita.

Khairiah e seus filhos foram libertados sem alarde em setembro de 2010. Ela foi solta no mesmo momento que Suleman Abu Ghaith, conhecido por ser o porta-voz da Al-Qaeda que anunciou que haveriam novos ataques após o 11/9. A liberdade de Gaith foi trocada pela de uma autoridade iraniana sequestrada por talibãs em Peshawar, no Paquistão, e Khairiah, ainda que por razões não esclarecidas, também foi liberada.

Após a libertação, os filhos de Khairiah decidiram retornar para os quadros da Al-Qaeda ou sumir do mapa. Ela inesperadamente procurou Attiya Abdur Rahman, na época comandante de operações da Al-Qaeda, com o intuito de se reencontrar com o marido. As intenções de Khairiah levantaram suspeitas de Rahman, pois ela já não possuía qualquer relacionamento com Bin Laden. Naquela época o terrorista deitava-se apenas com sua mulher mais jovem, Amal Fateh al-Sadah, de quem Khairiah sentia um profundo ciúme. Ela então foi mantida presa pela Al-Qaeda por meses até que o próprio Bin Laden pedisse para que fosse enviada ao complexo de Abbotabad.

"Por que diabos você voltou?"
Qadir acredita que o período em que Khairiah esteve presa pode ter sido parte de um plano orquestrado pelo alto conselho da Al-Qaeda para trair Bin Laden. O militar afirma que Khairiah chegou ao complexo de Abbotabad entre o final de fevereiro e o início de março. "Bin Laden não tinha nenhum problema com a família. Eles viviam juntos em harmonia", diz Qadir. "Os problemas começaram com a chegada de Khairiah".

Segundo Qadir, entre todas as pessoas da família, a que mais tinha problemas com a recém-chegada era Khalid, 22 anos, filho de Siham Sabar, uma das esposas. "Khalid perguntava constantemente: 'Por que diabos você voltou? Por que diabos você voltou?'", conta Qadir. "Um dia ela teria dito: 'eu tenho mais uma obrigação a cumprir para o meu marido"".

Baseado nos depoimentos de Amal, a esposa mais jovem, Qadir conta que Khalid então teria corrido para o quarto onde Bin Laden estava e contou para o pai da traição. O homem mais procurado do mundo teria pausado, mirado pela janela com um olhar perdido, e dito após alguns segundos: "Bom, ela estaria me fazendo um favor, me livrando do meu sofrimento. Se é o dever da minha mulher mais velha, então que seja".

Enciumada, Khairiah teria voltado decidida a entregar Bin Laden. O incidente teria acontecido no início de abril. A partir dali, a única mudança na relação da família Bin Laden teria sido o fato de o terrorista ter insistido para que suas outras duas esposas abandonassem o esconderijo e partissem com os filhos para a Arábia Saudita. Mas elas se recusaram a obedecer ao homem.

No mesmo período da chegada de Khairiah a Abbotabad, Shakeel Afridi, um médico paquistanês convertido em agente da CIA e uma das fontes de Qadir, começou a pesquisar amostras de sangue para seguir o rastro de Bin Laden. No início de abril, Afridi recebeu um número de telefone da CIA e ordenou que uma funcionária ligasse para ele e falasse em inglês. As únicas duas pessoas que falavam inglês no complexo de Abbotabad eram Bin Laden e Khairiah, que teria respondido à ligação. "Eles então obtiveram a identificação de voz que precisavam", diz Qadir, alegando que neste momento a esposa de Bin Laden cumpriu o propósito de seu retorno ao Paquistão. "Essa mulher nunca falou com al-Kuwaiti, a quem a CIA diz que seguia o rastro", acrescenta o militar. "Minha conclusão, e reitero que é conjectura, é de que Khairiah foi enviada".

Qadir acredita que o número de telefone foi passado à CIA pela ISI, a quem a Al-Qaeda havia decidido entregar Bin Laden.

Fonte: Terra
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