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Ásia

Saiba como foram os últimos anos de Osama bin Laden

2 mai 2012 - 13h03
(atualizado às 13h26)
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Luís Eduardo Gomes

Segundo Qadir, Bin Laden passou mais tempo vivendo em cidades do que em áreas tribais
Segundo Qadir, Bin Laden passou mais tempo vivendo em cidades do que em áreas tribais
Foto: AP

Após os atentados de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos iniciaram uma implacável caçada a Osama bin Laden. Não foram poupados esforços para encontrá-lo, inclusive uma guerra serviu a este propósito. De nada adiantou: Bin Laden passou a maior parte da década seguinte vivendo em cidades, e não em cavernas, como se assumia.

Trechos completos da entrevista
Aposentado desde 2003, Bin Laden foi traído
Esposa foi peça-chave na traição
Como foi a operação

Operação Jerônimo em detalhes
Ataque à mansão


A investigação
As forças americanas

Em entrevista ao Terra, o militar paquistanês aposentado Shaukat Qadir, que passou oito meses pesquisando sobre os últimos anos do inimigo número um dos americanos, deu a sua versão para o seu paradeiro. Segundo ele, na época de sua aposentadoria forçada, no final de 2003, o terrorista estava se movimentando entre tribos dos dois lados da fronteira entre o Paquistão em Afeganistão. Ele teria vivido junto à tribo Zadran, a maior de etnia pashtun, que possuía entre seus membros simpatizantes da Al-Qaeda, e se mudado de lá em setembro de 2003 para a região de Kunar, no Afeganistão - talibãs informaram à ISI sobre a presença de Bin Laden no local no final daquele ano.

Segundo Qadir, Bin Laden passou o inverno (no hemisfério norte) de 2003-04 nesta região e mudou-se de lá para Shangla, no Vale do Swat, onde passou o verão hospedado na casa do sogro de um dos seus principais assessores, um homem identificado sobre o pseudônimo de Abu Ahmed al-Kuwaiti. Mas como Swat sofre com invernos rigorosos, Bin Laden decidiu mudar-se com os primeiros sinais do frio para uma casa no subúrbio de Haripur, em Hazara, mais agradável nesta época do ano, e a cerca de 30 km do complexo que estava construído em Abbotabad. Ali ele teria permanecido entre setembro de 2004 e maio de 2005.

Nos anos em que passou escondido em Abbotabad, acredita-se que Bin Laden estivesse com a saúde muito debilitada. No entanto, Qadir salienta que esta é uma questão controversa. "Primeiramente, ele ainda estava dormindo com Amal - sua esposa mais nova - e produziu dois filhos. Ele estava saudável para isso", diz o analista. Por outro lado, Qadir afirma que levantou informações de que Bin Laden sofria de senilidade precoce há algum tempo. Entre 2005 e 2006, ele perdeu a capacidade de usar escadas sozinho. "Ele podia subir, mas não conseguia mais descer. Toda vez que fazia isso, seus filhos precisavam carregá-lo de volta".

O complexo de Abbotabad
Segundo Qadir, o complexo de Abbotabad tinha cerca de 300 metros quadrados, divididos em três porções, cada uma delas cercada por muros. Na primeira delas, ao ar livre, grãos eram plantados para servir de alimentos aos animais. "Foi ali que o helicóptero Blackhawk americano pousou", conta Qadir. Esta área era conectada à porção seguinte por uma garagem. Nesta próxima área estavam localizadas uma casa de hóspedes, com três quartos e uma cozinha, e a casa principal. Esta residência, onde Bin Laden vivia, tinha dez quartos, o menor deles de 10 por 12 metros, enquanto o quarto principal possuía 12 por 14 metros.

Qadir afirma que a noção de que o complexo era uma mansão, difundida pela mídia americana, é falsa. "Considerando o fato de que, incluindo crianças, 27 pessoas viviam dentro complexo e que haviam 11 quartos disponíveis - outros dois eram depósitos -, é muito distante do que os americanos chamariam de mansão". Além disso, ele afirma que as paredes externas não eram altas, a mais baixa tinha cerca de 2,7 metros de altura e a mais alta 4 metros - "muros baixos para os padrões Pashtun".

"Osama nunca saía, com a exceção de uma vez em que foi chamado para ajudar na colheita de grãos, e ninguém de fora jamais entrou. As mulheres saíam com longos véus", afirma Qadir. "Todo mundo, incluindo a ISI, sabia que a casa era ocupada por dois irmãos, o tio doente deles, e as famílias com numerosas crianças. Não havia razão para suspeitas".

A versão da CIA e a versão de Qadir
A versão oficial da CIA dá conta de que as autoridades chegaram ao esconderijo de Bin Laden seguindo o rastro de al-Kuwaiti. Este homem e seu irmão, Abrar, dois paquistaneses de etnia Pashtun, eram os braços-direito do ex-líder da Al-Qaeda. Eles alugaram, sob os pseudônimos Salim e Javed Khan, a casa de Haripur por US$ 150 mensais. E buscavam alimentos e medicamentos para Bin Laden e sua família.

Qadir nega a versão oficial da CIA. "Assim como todo mundo, eles estão mentindo", diz o militar aposentado. Ele afirma que a inteligência paquistanesa, no final de 2007 ou no início de 2008, começou a suspeitar de Arshad Khan, outro codinome usado por al-Kuwaiti, após o homem, voluntariamente, informar as autoridades que atuava no mercado de câmbio.

A inteligência paquistanesa registrou viagens de Arshad ao exterior e, em junho de 2010, notou que ele viajava quase todos os meses para Peshawar, onde passava um dia ou dois, para comprar medicamentos. Segundo Qadir, antes de isso ser deixado de lado, teria chamado atenção ao ponto de a ISI solicitar, em julho, que a CIA vigiasse por satélite a residência do homem em Abbotabad. A investigação, no entanto, nunca teria evoluído à conclusão de que esta pessoa era responsável por esconder Osama Bin Laden. "Nem a ISI nem a CIA teriam chegado a Bin Laden, se a Al-Qaeda não os tivesse direcionado para ele".

Qadir afirma que a peça-chave para o descobrimento do esconderijo foi a mulher mais velha de Bin Laden, Khairiah Sabar.

Fonte: Terra
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