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África

Oposição declara ser única representante da Líbia

5 mar 2011 - 20h13
(atualizado às 20h54)
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A oposição líbia, que controla o leste do país, sofreu neste sábado uma enorme contraofensiva do regime de Muammar Kadafi perto de Trípoli, mas seguia avançando em direção ao oeste e se organizava politicamente, ao declarar ser a "única representante" da nação.

Rebeldes que fazem parte das forças contra o líder líbio Muamar Kadafi fazem a segurança da aldeia de Bin Jawwad
Rebeldes que fazem parte das forças contra o líder líbio Muamar Kadafi fazem a segurança da aldeia de Bin Jawwad
Foto: AP

No 19º dia de revolta contra Kadafi, no poder há 42 anos, o número de vítimas segue crescendo. Ao menos sete pessoas morreram e dezenas ficaram feridas na ofensiva das forças governamentais em Zawiyah, onde pode haver muito mais vítimas mortais, segundo uma fonte médica.

As forças fiéis a Kadafi realizaram "um massacre" nesta cidade, controlada desde 27 de fevereiro pela oposição e situada 60 km a oeste de Trípoli, indicou à AFP um médico da cidade, contactado por telefone.

"É um verdadeiro massacre. A situação é catastrófica. Mataram muita gente. Mataram minha filha", declarou o médico, antes de começar a chorar. "Não quero dizer mais nada", concluiu.

"É horrível o que aconteceu nesta manhã na cidade. Os mercenários dispararam contra quem se atrevia a sair de suas casas, incluindo crianças", declarou anteriormente à AFP este médico, que relatou sete mortos e dezenas de feridos.

"Sofremos duas ofensivas, a partir do leste e oeste da cidade (...). Agora estamos sitiados pelos dois lados", acrescentou.

Outro morador da cidade afirmou: "os tanques estão por toda a parte e disparam contra as casas. Vi sete passarem em frente à minha casa. Os disparos de obuses não cessam".

Segundo um jornalista da rede de televisão britânica Sky News, as forças leais a Kadafi, após ser repelidas em um primeiro momento pelos rebeldes, voltaram a tentar neste sábado à noite tomar o controle da cidade.

A poucos quilômetros de Zawiyah, um jornalista da AFP escutou tiros intermitentes, enquanto caminhões repletos de soldados e milicianos pró-Kadafi se dirigiam a Zawiyah. Tanques e baterias antiaéreas estavam mobilizados ao redor da cidade.

Na frente leste, os insurgentes líbios continuaram neste sábado seu avanço em direção ao oeste e chegaram à tarde a Bin Jawad, a cerca de 100 km de Sirte, a cidade natal de Kadafi, constataram jornalistas da AFP.

"Os expulsamos para além de Bin Jawad e hoje vamos bombardeá-los até que regressem a Sirte", declarou um militar que se uniu à oposição desde o início da revolta na Líbia. Um jornalista da AFP viu grupos de rebeldes em Bin Jawad.

Aviões líbios sobrevoavam neste sábado Bin Jawad e Ras Lanuf, onde na véspera pelo menos 10 pessoas morreram em combates. "Nestes três últimos dias, 7 mil homens saíram de Benghazi em direção à frente do oeste", assegurou um soldado que se uniu à oposição.

Interrogado sobre o avanço dos rebeldes para Sirte, um militar aposentado que se uniu à oposição declarou que isso dependeria dos eventuais reforços e das condições meteorológicas. Uma tempestade de areia reduzia neste sábado a visibilidade em Ras Lanuf.

O governo de Trípoli desmentiu que a oposição tenha o controle de Ras Lanuf, mas um jornalista da AFP viu na sexta-feira à noite rebeldes localizados no exterior do complexo petroleiro, de quartéis e da delegacia da cidade, um estratégico porto petroleiro 150 km a leste de Sirte.

Os rebeldes asseguraram neste sábado à noite ter derrubado um avião das forças pró-Kadafi perto de Ras Lanuf, cujos dois pilotos morreram, segundo um vídeo ao qual a AFP teve acesso.

Mas a leste, perto de Benghazi, reduto a oposição, o balanço de vítimas por duas explosões na última sexta-feira de um depósito de armas chegava a pelo menos 27 mortos e dezenas de feridos. Segundo um responsável do local, a tese "mais plausível" seria uma ação de sabotagem realizada por grupos pró-Kadafi.

No plano político, o Conselho Nacional da oposição líbia para preparar a transição política realizou sua primeira reunião oficial neste sábado e declarou ser o "único representante" da Líbia.

"O Conselho declara que é o único representante para toda a Líbia", disse o ex-ministro da Justiça Mustafá Abdeljalil em uma coletiva de imprensa, ao ler um comunicado após a primeira reunião formal do Conselho em Benghazi.

O Conselho, cuja criação foi anunciada em 27 de fevereiro, encarregou um de seus membros, Omar al Hariri, dos "assuntos militares", e Ali Abdelaziz al Isaui, ex-embaixador da Líbia na Índia e ex-ministro de Economia, das Relações Exteriores.

Mais de 191 mil pessoas já fugiram da violência na Líbia, e cerca de 10 mil refugiados no interior do país se dirigem atualmente à fronteira com o Egito, anunciou neste sábado a ONU.

Líbios enfrentam repressão e desafiam Kadafi

Impulsionada pela derrocada dos presidentes da Tunísia e do Egito, a população da Líbia iniciou protestos contra o líder Muammar Kadafi, que comanda o país desde 1969. As manifestações começaram a tomar vulto no dia 17 de fevereiro, e, em poucos dias, ao menos a capital Trípoli e as cidades de Benghazi e Tobruk já haviam se tornado palco de confrontos entre manifestantes e o exército.

Os relatos vindos do país não são precisos, mas a onda de protestos nas ruas líbias já é bem mais violenta que as que derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak. A população tem enfrentado uma dura repressão das forças armadas comandas por Kadafi. Há informações de que aeronáutica líbia teria bombardeado grupos de manifestantes em Trípoli. Estima-se que centenas de pessoas, entre manifestantes e policiais, tenham morrido. Muitas dezenas de milhares já deixaram o país.

Além da repressão, o governo líbio reagiu através dos pronunciamentos de Saif al-Islam , filho de Kadafi, que foi à TV acusar os protestos de um complô para dividir a Líbia, e do próprio Kadafi, que, também pela televisão, esbravejou durante mais de uma hora, xingando os contestadores de suas quatro décadas de governo centralizado e ameaçando-os de morte. Desde então, as aparições televisivas do líder líbio têm sido frequentes, variando de mensagens em que fala do amor da população até discursos em que promete vazar os olhos da oposição.

Não apenas o clamor das ruas, mas também a pressão política cresce contra o coronel. Internamente, um ministro líbio renunciou e pediu que as Forças Armadas se unissem à população. Vários embaixadores líbios também pediram renúncia ou, ao menos, teceram duras críticas à repressão. Além disso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez reuniões emergenciais, nas quais responsabilizou Kadafi pelas mortes e indicou que a chacina na Líbia pode configurar um crime contra a humanidade. Mais recentemente, o Tribunal Penal Internacional iniciou investigações sobre as ações de Kadafi, contra quem também a Interpol emitiu um alerta internacional.

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