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Mundo

Queda de Mubarak é "verdadeira revolução", diz especialista

11 fev 2011 - 16h43
(atualizado às 17h08)
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O movimento popular que tomou as ruas do Egito por 18 dias ininterruptos até a renúncia do presidente Hosni Mubarak, nesta sexta-feira, configura um fenômeno "inédito". A opinião é do cientista político Reginaldo Nasser, entrevistado pelo Terra TV, instantes após a queda do líder. Para ele, trata-se de uma "verdadeira revolução", que "derrotou (Mubarak) pacificamente", sem armas, "numa mobilização que envonveu milhões de pessoas" de "todas as classes do egito". "Independentemente dos resultados que virão, só por esse fato já ficará para a história", sintetiza.

Egípcios comemoram a saída de Hosni Mubarak do poder:

Nesse processo histórico, Nasser acredita que a população - motor central da revolução - deve manter a mobilização para não colocar em risco tudo que já foi alcançado até agora. "O que deveria ser feito é (a população) permancer (nas ruas). Esse momento é decisivo. Tomara que esses jovens continuem mobilizados permanentemente para que não corra qualuqer tipo de continuísmo ou de derrota neste momento", avalia.

Para o cientista, o Ocidente não desempenhou um papel tão nos acontecimento. Os Estados Unidos, "durante todo esse período (de protestos), não acreditaram que esse movimento crescesse", se mantivesse da forma como ocorreu e finalmente terminasse da forma como o mundo presencia agora. Embora diversos países tenham defendido que o governo egípcio devesse dar ouvidos às manifestações populares e evitar a repressão, Nasser acredita que o momento "tem várias lições" para serem aprendidas, inclusive a de refletir o que significa essa 'comunidade internacional'".

Os acontecimentos no Cairo devem ter efeito sobre a região. Nasser aponta a Jordânia e a Síria como países mais propensos a sentirem os efeitos da drástica mudança em curso no Egito. As relações com Israel - que compunha o triângulo com Estados Unidos e Egito nos poderes da geopolítica da região - também devem ser alteradas. O cientista defende que deve ser desfeita a "visão preconcebida de que para ser aliado tem que ter ditador", em referência ao diálogo que Israel mantinha com a suposta democracia mantida por Mubarak há praticamente 30 anos.

Mas a renúncia de Mubarak, embora um momento histórico para a região, deixa muito em aberto no país. "O que é importante são as forças que cuidarão do proecesso de transisção, e (é preciso) estar atento aos militares", avalia Nasser. Para ele, deve-se observar com atenção o modelo pelo qual o Exército egícpio - um dos maiores do mundo - irá coordenar o país até que um novo governo seja instaurado.

Entre as tantas especulações atualmente em curso sobre o futuro egícpio está a do temor sobre a eventual instauração de Estado islâmico, sobretudo pela força que a Irmandade Muçulmana exerce nas alas oposicionistas egípcias. Nasser, no entanto, acredita que se interpreta de modo distorcido a perspectiva de um Estado islâmico: ocorre uma "demonização do islã" e se cria um "falso problema". "Não é a religião que é o problema, é a atitude política", resume. "O Egito (era) um Estado secular e (era) uma ditadura", compara Nasser com a situação vivida no país até esta quinta.

Egípcios saem às ruas, derrubam Mubarak e fazem história

Desde o último dia 25 de janeiro - data que ganhou um caráter histórico, principalmente na internet, principalmente pelo uso da hashtag #Jan25 no Twitter -, os egípcios protestam pela saída do presidente Hosni Mubarak, que está há 30 anos no poder. No dia 28 as manifestações ganharam uma nova dimensão, fazendo o governo cortar o acesso à rede e declarar toque de recolher. As medidas foram ignoradas pela população, mas Mubarak disse que não sairia. Limitou-se a dizer que buscaria "reformas democráticas" para responder aos anseios da população a partir da formação de um novo governo.

A partir do dia 29, um sábado, a nova administração foi anunciada. A medida, mais uma vez, não surtiu efeito, e os protestos continuaram. O presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da polícia antimotins. Enquanto isso, a oposição seguiu se organizando. O líder opositor Mohamad ElBaradei garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Na terça, dia 1º de fevereiro, dezenas de milhares de pessoas se reuniram na praça Tahrir para exigir a renúncia de Mubarak. A grandeza dos protestos levou o líder egípcio a anunciar que não participaria das próximas eleições, para delírio da massa reunida no centro do Cairo.

O dia seguinte, 2 de fevereiro, no entanto, foi novamente de caos. Manifestantes pró e contra Mubarak travaram uma batalha campal na praça Tahrir com pedras, paus, facas e barras de ferro. Nos dias subsequentes os conflitos cessaram e, após um período de terror para os jornalistas, uma manifestação que reuniu milhares na praça Tahrir e impasses entre o governo e oposição, a Irmandade Muçulmana começou a dialogar com o governo.

Em meio aos protestos do dia 10 de fevereiro - o 17º seguido desde o início das manifestações -, Mubarak anunciou que faria um pronunciamento à nação. Centenas de milhares rumaram à Praça Tahrir, enquanto corriam boatos de que o presidente poderia anunciar a renúncia ao cargo. À noite e com atraso de mais de uma hora, a TV estatal egípcia transmitiu a frustração: Mubarak anunciava, sem clareza alguma, que 'passava alguns poderes' para seu vice, Omar Suleiman, mas que permanecia no cargo, para a ira de Tahrir.

Após o momento de incredulidade na quinta, os egípcios mantiveram a força dos protestos na sexta-feira. Insatisfeitos, milhares de manifestantes pernoitaram na Praça Tahrir, mantendo a pressão sobre o governo. No final da tarde, o vice-presidente Omar Suleiman, num pronunciamento de 30 segundos na TV estatal, anunciou que Hosni Mubarak renunciava ao poder, encerrava seu governo de quase 30 anos e abria espaço definitivamente para a transição no Egito.

Fonte: Terra
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