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Mundo

Egito: brasileiros dizem que detenção foi tortura psicológica

5 fev 2011 - 17h23
(atualizado às 18h18)
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Cansados da viagem, mas afirmando estar aliviados com o fim da "tortura psicológica", os repórteres Corban Costa, da Rádio Nacional, e Gilvan Rocha, da TV Brasil, foram cercados por parentes, amigos e curiosos na chegada ao Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek.

O repórter Corban Costa e o cinegrafista Gilvan Rocha chegam a Brasília após ficarem detidos por autoridades egípcias
O repórter Corban Costa e o cinegrafista Gilvan Rocha chegam a Brasília após ficarem detidos por autoridades egípcias
Foto: Agência Brasil

Do fim do terror no Egito até a chegada ao Brasil neste sábado os repórteres tiveram de esperar 38 horas. Os jornalistas disseram que só quando o avião aterrissou em Brasília eles realmente se sentiram seguros.

A chegada a Brasília por volta das 14h teve clima de celebração com direito a parentes e amigos. Corban e Gilvan foram impedidos pelas autoridades egípcias de trabalhar no país. Ficaram 18 horas detidos em uma prisão egípcia e tiveram os olhos vendados por 15 minutos. Depois, foram expulsos do país.

Corban contou que eles desembarcaram no último dia 2 no Cairo, no auge das manifestações em protesto à permanência do presidente do Egito, Hosni Mubarak, mas não conseguiram fazer nenhum trabalho jornalístico. "Fomos detidos logo numa barreira policial a caminho do hotel. Eu não escrevi uma linha de matéria e Gilvan não fez uma imagem sequer", disse.

Nas 18 horas em que ficou em uma sala de cerca de 4 m² na prisão, Corban afirmou que não tinha ideia do que aconteceria com ele e Gilvan. O repórter afirma que só pensava nas filhas - Daniela, 21 anos, e Isabela, 13 anos. Depois de serem libertados, Corban disse que telefonou imediatamente para as duas.

Recém-casada com Gilvan, Edna Soares, 27 anos, afirmou que só conseguiu se acalmar quando conversou na última sexta-feira com o marido, que já estava em Paris. "Aí, sim, senti que não haveria mais risco quanto à segurança deles", afirmou.

Gilvan disse que ele e Corban não sofreram violência física, ao contrário do que ocorreu com outros jornalistas. Bem humorado, o repórter cinematográfico contou ter presenciado situações atípicas, como um alemão que rezava em árabe, em voz alta, para convencer os policiais de que ele tinha familiaridade religiosa com os muçulmanos.

Protestos convulsionam o Egito

Desde o último dia 25 de janeiro - data que ganhou um caráter histórico, principalmente na internet, principalmente pelo uso da hashtag #Jan25 no Twitter -, os egípcios protestam pela saída do presidente Hosni Mubarak, que está há 30 anos no poder. No dia 28 as manifestações ganharam uma nova dimensão, fazendo o governo cortar o acesso à rede e declarar toque de recolher. As medidas foram ignoradas pela população, mas Mubarak disse que não sairia. Limitou-se a dizer que buscaria "reformas democráticas" para responder aos anseios da população a partir da formação de um novo governo.

A partir do dia 29, um sábado, a nova administração foi anunciada. A medida, mais uma vez, não surtiu efeito, e os protestos continuaram. O presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da polícia antimotins. Enquanto isso, a oposição seguiu se organizando. O líder opositor Mohamad ElBaradei garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Na terça, dia 1º de fevereiro, dezenas de milharesde pessoas se reuniram na praça Tahrir para exigir a renúncia de Mubarak. A grandeza dos protestos levou o líder egípcio a anunciar que não participaria das próximas eleições, para delírio da massa reunida no centro do Cairo.

O dia seguinte, 2 de fevereiro, no entanto, foi novamente de caos. Manifestantes pró e contra Mubarak travaram uma batalha campal na praça Tahrir com pedras, paus, facas e barras de ferro. No dia 3, o governo disse ter iniciado um diálogo. A oposição negou. O premiê Ahmed Shafiq foi à TV e disse que a violência contribui para a "destruição do Egito". Sem maiores confrontos, o terror passou para o lado de alguns jornalistas, que foram agredidos, roubados e obrigados a sair do país. No dia 4, enquanto milhares participaram do "Dia da Saída", a UE pediu transição imediata e ElBaradei não descartou a candidatura à presidência.



Agência Brasil Agência Brasil
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