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Mundo

Al-Jazeera: um contrapeso que amedronta os regimes árabes

30 jan 2011 - 16h13
(atualizado às 17h17)
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A emissora de televisão do Catar Al-Jazeera, que neste domingo foi proibida de trabalhar no Egito, é um fundamental contrapeso em prol da liberdade de expressão, reprimida por muitos regimes árabes, que temem a atuação da rede e chegam a acusá-la de atiçar os protestos. O ministro da Informação do Egito, Anas El Fekki, proibiu a emissora, que estava cobrindo amplamente as manifestações contra o regime do presidente Hosni Mubarak, anunciou neste domingo a agência oficial Mena. A Al-Jazeera respondeu que a decisão pretendia "calar o povo egípcio".

Ministros do governo renunciam no Egito:

Além de cobrir exaustivamente a mobilização contra o regime de Mubarak, que está no poder desde 1981, o canal divulgou no sábado uma mensagem do teólogo do Catar de origem egípcia e conselheiro da Irmandade Muçulmana, Yusef Al-Qardaui, pedindo a renúncia de Mubarak. "Os governos árabes acusam a Al-Jazeera de impulsionar os protestos de ruas, e têm toda a razão, mas essa acusação é uma honra", disse um universitário dos Emirados Árabes Unidos, Abdel Khaleq Abdallah. "Sem dúvida, a Al-Jazeera influenciou significativamente na revolução tunisiana e nas manifestações no Egito", completou.

O canal de TV, fundado em 1996 pela decisão do Catar, um rico emirado que conta com importantes reservas de gás, já teve problemas com outros regimes árabes. O presidente do Iêmen - país no qual também houve manifestações contra o governo - ligou para o emir do Catar. O presidente iemenita, Ali Abdullah Saleh, no poder há 32 anos, pediu nessa ocasião ao emir Hamad Bin Khalifa Al Thani que interviesse diante da Al-Jazeera para evitar "a provocação, a falsificação dos fatos e o exagero" sobre as manifestações, segundo a agência oficial iemenita Saba.

Os detratores da emissora de TV afirmam que esta atua como caixa de ressonância das ideias islâmicas mais radicais e que carece de imparcialidade. Para o analista libanês radicado em Londres Abdalah Badrajan, a cobertura da Al-Jazeera no Egito diferenciou-se da realizada durante os primeiros dias dos protestos na Tunísia contra o presidente Zine El Abidine Ben Ali, que acabou fugindo para a Arábia Saudita em 14 de janeiro, depois de 23 anos no poder.

"Na Tunísia, a Al-Jazeera acompanhou o que acontecia nas ruas, enquanto que no Egito ficou atrás", afirmou Badrajan. "Nos primeiros dias, ficou claro que não estava disposta a cobrir o que ocorria no Egito da mesma forma que tinha coberto o ocorrido em Túnis", mas depois reforçou a cobertura, completou. Isso seguramente deve-se à "recente reconciliação de Catar com o presidente egípcio", depois que o Cairo acusou Doha de usar o canal via satélite para criticar a política do governo do Egito, particularmente em matéria de relações com Israel.

Em momentos em que a mobilização estava iniciando no Egito, a Al-Jazeera seguia dando primazia às controvertidas revelações sobre a posição da Autoridade Palestina nas negociações com Israel. O principal negociador palestino com Israel, Saeb Erakat, tinha acusado a Al-Jazeera de realizar uma "campanha" cujo fim era "derrotar a Autoridade Palestina" do presidente Mahmoud Abbas.

O canal tinha revelado que em 2008 os negociadores palestinos estavam dispostos, entre outras coisas, a realizar concessões sobre Jerusalém Oriental, ocupada em 1967 e posteriormente anexada por Israel. A Al-Jazeera também foi suspensa em outubro no Marrocos, e teve problemas na Jordânia e Bahrein.

Egípcios desafiam governo Mubarak

A onda de protestos dos egípcios contra o governo do presidente Hosni Mubarak, iniciados no dia 25 de janeiro, tomou nova dimensão na última sexta-feira. O governo havia tentado impedir a mobilização popular cortando o sinal da internet no país, mas a medida não surtiu efeito. No início do dia, dois mil egípcios participaram de uma oração com o líder oposicionista Mohamad ElBaradei, que acabou sendo temporariamente detido e impedido de se manifestar.

Os protestos tomaram corpo, com dezenas de milhares de manifestantes saindo às ruas das principais cidades do país - Cairo, Alexandria e Suez. Mubarak enviou tanques às ruas e anunciou um toque de recolher, o qual acabou virtualmente ignorado pela população. Os confrontos com a polícia aumentaram, e a sede do governista Partido Nacional Democrático foi incendiada.

Já na madrugada de sábado (horário local), Mubarak fez um pronunciamento à nação no qual ele disse que não renunciaria, mas que um novo governo seria formado em busca de "reformas democráticas". Defendeu a repressão da polícia aos manifestantes e disse que existe uma linha muito tênue entre a liberdade e o caos. A declaração do líder egípcio foi seguida de um pronunciamento de Barack Obama, que pediu a Mubarak que fizesse valer sua promessa de democracia.

O governo encabeçado pelo premiê Ahmed Nazif confirmou sua renúncia na manhã de sábado. Passaram a fazer parte do novo governo o premiê Ahmed Shafiq, general que até então ocupava o cargo de Ministro de Aviação Civil, e o também general Omar Suleiman, que inaugura o cargo de vice-presidente do Egito - posto inexistente no país desde o início do governo de Mubarak, em 1981.

Mubarak, à revelia da pressão popular que persiste nas cidades egípcias, não renunciou. Segundo o último balanço feito pela agência AFP junto a fontes médicas, já passam de 100 os mortos desde o início dos protestos, na última terça.



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