Autoridade da França estima 2 mil mortos na Líbia
O embaixador especial da França para questões de direitos humanos disse nesta quinta-feira que há evidências de que o líder líbio Muammar Kadafi cometeu crimes contra a humanidade, e que até 2 mil pessoas foram mortas na atual revolta contra ele.
François Zimeray disse à Reuters que o Tribunal Penal Internacional (TPI) é o único caminho viável para obter justiça, e que as sanções internacionais devem ser "imediatas."
"A questão não é se Kadafi irá cair, mas quando e a qual custo humano", disse ele no seu gabinete em Paris. "Por enquanto as cifras que temos ... é de que mais de mil morreram, possivelmente 2 mil, segundo fontes."
A chancelaria disse durante o dia que uma equipes da Organização das Nações Unidas (ONU) deveria ser enviada à Líbia para investigar possíveis crimes contra a humanidade depois da sangrenta repressão à rebelião.
"Há elementos precisos e verificados para sugerir crimes contra a humanidade, e isso justifica um inquérito judicial e a intervenção da justiça internacional", disse Zimeray, ex-advogado junto ao TPI.
Ele explicou que, mesmo não tendo aderido ao tribunal, o regime líbio pode ser responsabilizado se houver aval do Conselho de Segurança da ONU.
"Para enfrentar crimes contra a humanidade, a única resposta que funciona é a justiça, não a vingança", disse ele.
Os países da União Europeia estão preocupados também com a imigração. Gaddafi nesta semana disse que deixaria de cooperar com as autoridades europeias para controlar o fluxo de migrantes da África para a UE.
O chanceler italiano, Franco Frattini, estima que até 300 mil podem fugir da Líbia para a costa do seu país.
Para Zimeray, Gaddafi está tentando fazer um "terrorismo migratório", mas "é claro que com a desintegração do Estado, todos os contrabandistas vão tentar se aproveitar."
O Conselho de Segurança da ONU e seu organismo de direitos humanos estão debatendo fortes resoluções contra o regime de Kadafi, mas até agora não houve acordo.
"É preciso haver sanções efetivas e imediatas, e não só potenciais e simbólicas, como aconteceu em outros lugares", disse Zimeray, sugerindo por exemplo um embargo petrolífero à Líbia.
Líbios enfrentam repressão e desafiam Kadafi
Impulsionada pela derrocada dos presidentes da Tunísia e do Egito, a população da Líbia iniciou protestos contra o líder Muammar Kadafi, que comanda o país desde 1969. As manifestações começaram a tomar vulto no dia 17 de fevereiro, e, em poucos dias, ao menos a capital Trípoli e as cidades de Benghazi e Tobruk já haviam se tornado palco de confrontos entre manifestantes e o exército.
Os relatos vindos do país não são precisos, mas tudo leva a crer que a onda de protestos nas ruas líbias já é bem mais violenta do que as que derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak. A população tem enfrentado uma dura repressão das forças armadas comandas por Kadafi. Há informações de que Força Aérea líbia teria bombardeado grupos de manifestantes em Trípoli. Estima-se que centenas de pessoas, entre manifestantes e policiais, tenham morrido.
Além da repressão, o governo líbio reagiu através dos pronunciamentos de Saif al-Islam , filho de Kadafi, que foi à TV acusar os protestos de um complô para dividir a Líbia, e do próprio Kadafi, que, também pela televisão, esbravejou durante mais de uma hora, xingando os contestadores de suas quatro décadas de governo centralizado e ameaçando-os de morte.
Além do clamor das ruas, a pressão política também cresce contra o coronel Kadafi. Internamente, um ministro líbio renuncioue pediu que as Forças Armadas se unissem à população. Vários embaixadores líbiostambém pediram renúncia ou, ao menos, teceram duras críticas à repressão. Além disso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez reuniões emergenciais, nas quais responsabilizou Kadafi pelas mortes e indicou que a chacina na Líbia pode configurar um crime contra a humanidade.