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Mundo

TV estatal da Tunísia entra em greve por fim da censura

26 fev 2011 - 13h49
(atualizado às 14h18)
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Centenas de jornalistas e técnicos da emissora de televisão estatal da Tunísia entraram em greve por afirmarem que a censura do governo foi mantida.

info infográfico distúrbios mundo árabe
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Foto: AFP

A greve reflete o crescimento da frustração pública no país mais desenvolvido do norte da África por conta do lento ritmo de mudança desde uma rebelião que tirou do poder o presidente Zine al-Abidine Ben Ali no mês passado.

"Nós estamos em greve para exigir o fim de toda a pressão e impedir a censura para que possamos trabalhar livremente... nós não vamos aceitar mais restrições", disse um dos jornalistas em greve à Reuters, que não quis divulgar o seu nome.

"A greve não vai acabar até que os responsáveis saiam e nós possamos trabalhar livremente e de forma independente", disse outro jornalista.

O canal de televisão First National Television da Tunísia permanecia no ar neste sábado, mas sem a divulgação de notícias após os trabalhadores entrarem em greve no final da sexta-feira.

A revolução na Tunísia inspirou uma revolta semelhante no Egito e levou a motins em outros locais do mundo árabe, incluindo a Líbia.

Entretanto, o governo interino responsável por definir as eleições para substituir o antigo presidente tem sido alvo de protestos crescentes. Críticos afirmam que há uma estreita ligação com o antigo regime e incapacidade de seguir com as promessas de reforma.

Mundo árabe em convulsão

A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Alie do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.

No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.

Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muammar Kadafi, a população vem entrando em sangrento confronto com as forças de segurança, já deixando um saldo de centenas de mortos. Em meio ao crescimento dos protestos na capital Trípoli e nas cidades de Benghazi e Tobruk, Kadafi foi à TV estatal no dia 22 de feveiro para xingar e ameaçar de morte os opositores que desafiam seu governo. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.

Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.

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