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Mundo

Garcia: Egito pós-Mubarak não pode confiscar vontade do povo

11 fev 2011 - 18h32
(atualizado às 20h25)
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Laryssa Borges
Direto de Brasília

O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, elogiou nesta sexta-feira a queda do ditador egípcio Hosni Mubarak e disse que o próximo governo a ocupar o controle do país árabe "não pode confiscar a vontade do povo" por mudanças profundas na nação. "Em função do que houve até agora é muito difícil que a vontade das ruas seja confiscada. A tendência normal é de que aqueles setores do sistema político do Egito que estejam à frente da transição tenham um ouvido muito atento para as ruas. Quem não ouviu as ruas estava surdo, e essa surdez custou caro", disse o assessor presidencial.

Brasil vê momento de novas oportunidades ao Egito:

O chefe do Conselho Militar egípcio, Mohamed Husein Tantawi, que assumiu nesta tarde após a queda de Mubarak é aliado da Casa Branca no que diz respeito a coibir um novo embate com Israel, mas a comunidade internacional o classifica como resistente a mudanças políticas e econômicas.

Garcia, que ao comentar a manutenção dos acordos comerciais entre Mercosul e Egito chegou a classificar a situação política na nação árabe como uma "pequena turbulência", informou que a presidente Dilma Rousseff tomou conhecimento à tarde da queda do ditador egípcio, mas não declarou a opinião pessoal da chefe do Executivo.

"Vemos com muita simpatia o fortalecimento de um movimento que tem em um caráter democrático do ponto de vista político, democrático do ponto de vista social, porque põe em evidência a situação de setores postergados da população que querem mudar de vida e ter esperança", ressaltou Marco Aurélio Garcia.

"A expectativa da comunidade internacional - e dela nós participamos de forma muito intensa - é de que a transição política se dê sem derramamento de sangue, com respeito aos direitos humanos, mas, sobretudo, que ela possa expressar fortemente isso que as ruas do Cairo e de outras cidades mostraram, isto é, soberania popular, vontade popular. Não somos nós que vamos dar lições sobre como as coisas devem ocorrer, mas um governo como o governo da República Federativa do Brasil, que tem valores de política externa democráticos, de respeito aos direitos humanos, só pode desejar isso para um país ao qual nós tanto prezamos, como o Egito", completou.

Desde a queda no mês passado do líder da Tunísia, Zine al-Abidine Ben Ali, que estava no poder havia muito tempo, os protestos se espalharam pelo mundo árabe, principalmente no Egito, onde a população já se queixava dos preços elevados, pobreza, desemprego e o regime autoritário, exigindo a renúncia de Mubarak.

Em 25 de janeiro, manifestantes da oposição começaram uma série de protestos ao redor do país pedindo a saída do presidente, que enviou tanques para as ruas numa tentativa de intimidar as pessoas acampadas na praça Tahir, no Cairo.

Diante da crescente pressão dos manifestantes nas ruas, que avançaram nesta sexta-feira até o palácio presidencial, Mubarak decidiu renunciar e passar o poder para um Conselho Militar.

Egípcios saem às ruas, derrubam Mubarak e fazem história

Desde o último dia 25 de janeiro - data que ganhou um caráter histórico, principalmente na internet, principalmente pelo uso da hashtag #Jan25 no Twitter -, os egípcios protestam pela saída do presidente Hosni Mubarak, que está há 30 anos no poder. No dia 28 as manifestações ganharam uma nova dimensão, fazendo o governo cortar o acesso à rede e declarar toque de recolher. As medidas foram ignoradas pela população, mas Mubarak disse que não sairia. Limitou-se a dizer que buscaria "reformas democráticas" para responder aos anseios da população a partir da formação de um novo governo.

A partir do dia 29, um sábado, a nova administração foi anunciada. A medida, mais uma vez, não surtiu efeito, e os protestos continuaram. O presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da polícia antimotins. Enquanto isso, a oposição seguiu se organizando. O líder opositor Mohamad ElBaradei garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Na terça, dia 1º de fevereiro, dezenas de milhares de pessoas se reuniram na praça Tahrir para exigir a renúncia de Mubarak. A grandeza dos protestos levou o líder egípcio a anunciar que não participaria das próximas eleições, para delírio da massa reunida no centro do Cairo.

O dia seguinte, 2 de fevereiro, no entanto, foi novamente de caos. Manifestantes pró e contra Mubarak travaram uma batalha campal na praça Tahrir com pedras, paus, facas e barras de ferro. Nos dias subsequentes os conflitos cessaram e, após um período de terror para os jornalistas, uma manifestação que reuniu milhares na praça Tahrir e impasses entre o governo e oposição, a Irmandade Muçulmana começou a dialogar com o governo.

Em meio aos protestos do dia 10 de fevereiro - o 17º seguido desde o início das manifestações -, Mubarak anunciou que faria um pronunciamento à nação. Centenas de milhares rumaram à Praça Tahrir, enquanto corriam boatos de que o presidente poderia anunciar a renúncia ao cargo. À noite e com atraso de mais de uma hora, a TV estatal egípcia transmitiu a frustração: Mubarak anunciava, sem clareza alguma, que 'passava alguns poderes' para seu vice, Omar Suleiman, mas que permanecia no cargo, para a ira de Tahrir.

Após o momento de incredulidade na quinta, os egípcios mantiveram a força dos protestos na sexta-feira. Insatisfeitos, milhares de manifestantes pernoitaram na Praça Tahrir, mantendo a pressão sobre o governo. No final da tarde, o vice-presidente Omar Suleiman, num pronunciamento de 30 segundos na TV estatal, anunciou que Hosni Mubarak renunciava ao poder, encerrava seu governo de quase 30 anos e abria espaço definitivamente para a transição no Egito.

Fonte: Terra
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