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Fotógrafo britânico ferido recusa-se a ser retirado da Síria

26 fev 2012 - 17h13
(atualizado às 20h05)
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A mulher do fotógrafo britânico Paul Conroy afirmou neste domingo à rádio BBC que seu marido, ferido em Homs junto com a jornalista francesa Edith Bouvier, rejeitou uma proposta de ser retirado pelo Crescente Vermelho sírio, por falta de confiança na organização humanitária.

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"Assim, por causa disso, ele preferiu não partir com eles, a não ser que fosse acompanhado por alguém da embaixada da Grã-Bretanha ou da França", declarou Kate Conroy.

"Posso compreender os motivos dele, mas pelas inúmeras conversas que mantive com deputados, com o Foreign Office e outras autoridades, sei que não vão enviar um oficial para acompanhá-lo", disse a mulher do fotógrafo independente que trabalha, principalmente, para o Sunday Times.

"Acho que deveria então compreender que eles (do Crescente Vermelho) têm uma dimensão internacional e que isto garante uma proteção suficiente para que seja retirado, de forma segura", considerou Kate Conroy. "Gostaria, de qualquer forma, que alguém da embaixada dissesse 'esqueçamos o protocolo, vamos ajudá-lo a sair daí', mas sei que isto não vai acontecer", acrescentou.

Neste domingo, o porta-voz do Crescente Vermelho em Damasco informou que a retirada dos feridos, entre eles Paul Conroy e Edith Bouvier, bloqueados em Homs, cidade destruída pelo Exército sírio, ocorreria na segunda-feira.

Uma jornalista estrangeira envolvida nas negociações chegou a afirmar no sábado à AFP que, por duas vezes, as ambulâncias da organização humanitária se dirigiram ao bairro de Baba Amro, mas foram bloqueadas por membros do Exército sírio Livre (ASL, na sigla em inglês), formado por militares dissidentes.

O ASL acusou o regime de ter parado nove feridos que acabaram sendo evacuados na sexta-feira, mas o Comitê internacional da Cruz Vermelha (CICV) chegou à conclusão de que "isto era totalmente falso", acrescentou ela.

As duas organizações humanitárias conseguiram na sexta-feira, pela primeira vez, retirar sete feridos e 20 mulheres e crianças de Baba Amro.

Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente

Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.

A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.

Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores - já organizados e dispondo de um exército composto por desertores das forças de Assad -, sem surtir efeito. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, o as forças de Assad investiram contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. A ONU estima que pelo menos 5 mil pessoas já tenham morrido na Síria.

Imagem de televisão exibe Paul Conroy recebendo tratamento médico em Homs no dia 22 de fevereiro
Imagem de televisão exibe Paul Conroy recebendo tratamento médico em Homs no dia 22 de fevereiro
Foto: Reuters
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