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Mundo

Conselho de Segurança da ONU discutirá massacre na Líbia

22 fev 2011 - 10h30
(atualizado às 11h44)
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O Conselho de Segurança das Nações Unidas se reunirá em caráter de emergência nesta terça-feira para discutir a sangrenta repressão à onda de protestos no país, depois que o secretário-geral Ban Ki-moon exortou o ditador Muamar Kadhafi a acabar com a violência.

info infográfico líbia infromações sobre o país
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Foto: AFP

O encontro, marcado para as 12h (Brasília), segue-se a uma série de deserções por parte de diplomatas líbios - incluindo a delegação do país na ONU -, que denunciaram a violência brutal usada pelo regime de Kadhafi para reprimir as manifestações.

Na segunda-feira, helicópteros foram utilizados para metralhar os manifestantes, enquanto aviões bombardeavam as maiores concentrações, segundo denúncias de testemunhas.

Navi Pillay, alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, alertou contra "ataques correntes e sistemáticos contra a população civil, que podem escalar ao ponto de crimes contra a humanidade".

Na segunda-feira, Ban Ki-moon disse ter feito um apelo por moderação durante uma conversa de 40 minutos com Kadafi, 68 anos, mais um autocrata da região a sofrer com as rebeliões populares inspiradas pelo movimento da Tunísia, que levou à queda do presidente Zine El Abidine Ben Ali.

"Pedi a ele que os direitos humanos e a liberdade de assembleia e discurso sejam totalmente protegidos", declarou Ban.

"Instei a ele que pare a violência contra os manifestantes, e destaquei mais uma vez a importância de se respeitarem os direitos humanos daqueles manifestantes".

Em meio a uma onda de revoltas populares em países do mundo árabe governados por ditaduras e dinastias, a situação da Líbia configura-se como a mais violenta até o momento.

Organizações internacionais de defesa dos direitos humanos estimam em 400 o número de vítimas fatais da repressão até o momento.

Ban disse ter ficado "ultrajado" pelas informações de que as forças de segurança líbias estariam atirando diretamente contra a multidão usando helicópteros e aviões.

"Ataques contra civis, se confirmados, constituiriam uma séria violação da lei humanitária internacional e seriam condenados pelo secretário-geral nos mais fortes termos", declarou o porta-voz Martin Nesirky.

"A indiferença com que as autoridades líbias e seus mercenários contratados estariam supostamente atirando contra manifestantes pacíficos é inconcebível", afirmou Pillay.

Mundo árabe em convulsão

A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Alie do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.

No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.

Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muamar Kadafi, a população entra em sangrento confronto com as forças de segurança; em meio à onda de violência, um filho de Kadafifoi à TV estatal do país para tirar a legitimidade dos protestos, acusando um "complô" para dividir o país e suas riquezas. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.

Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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