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Conheça a 'Inspire', a "revista da Al-Qaeda" que dissemina o terrorismo

4 mai 2013 - 10h21
(atualizado às 10h21)
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Imagem da edição da 'Inspire' posterior ao assassinato de Osama bin Laden
Imagem da edição da 'Inspire' posterior ao assassinato de Osama bin Laden
Foto: Reprodução

Durante a cobertura do atentado da maratona de Boston, disseminou-se a ideia de que os irmãos Tsarnaev poderiam ter aprendido a fabricar a bomba usada no ataque pela Inspire, uma revista atribuída à rede terrorista Al-Qaeda. Trata-se de uma dedução ancorada no mar de boatos a rondar essa publicação que lança luz sobre a natureza da atividade terrorista no século XXI.

O que se sabe da Inspire (Inspire, em tradução literal) advém das próprias informações que ela disponibiliza sobre si mesma. Seria uma revista editada desde meados de 2010, e se define como uma “revista publicada periodicamente pela Organização da Al-Qaeda na Península Arábica”, e sua filiação à Al-Qaeda do Iêmen, país desta região geográfica, é um dos fatos mais afirmados sobre ela.

Escrita inteiramente em inglês e somente com alguns adendos em árabe, a Inspire se anuncia como uma publicação destinada aos muçulmanos residentes no Ocidente, em algumas regiões da África e no sudeste asiático cuja língua primária ou secundária é a inglesa. “Nós apresentamos a primeira revista editada pela Organização Al-Qaeda em língua inglesa. (...). Nosso objetivo é fazer desta revista uma plataforma de apresentação das importantes questões enfrentadas pela ummah nos dias de hoje”, diz o editorial da suposta primeira edição de 2010 (ummah é o termo árabe utilizado em referência à comunidade mundial dos fiéis da religião de Allah).

Da religião ao terrorismo

O conteúdo da publicação é controverso. Suas edições, estruturadas em sessões relativamente fixas, contemplam aspectos da fé islâmica, como máximas e orações, e alguns tópicos de política contemporânea ligados ao mundo islâmico, como a Guerra no Iraque, a invasão das tropas francesas no Mali e as leis contra hábitos culturais islâmicos em países europeus.

Página com frase atribuída ao profeta Maomé: 'Aquele que morre sem lutar pela causa de Allah nem expressa desejo (ou determinação) pela jihad morreu sob a marca da hipocrisia.'
Página com frase atribuída ao profeta Maomé: 'Aquele que morre sem lutar pela causa de Allah nem expressa desejo (ou determinação) pela jihad morreu sob a marca da hipocrisia.'
Foto: Reprodução

A olhos ocidentais e não islâmicos, esses conteúdos poderiam soar como se tratasse de alguma outra revista religiosa qualquer disponível em países como o Brasil. As questões mais delicadas, todavia, começam a surgir quando, nas páginas da Inspire, descobrem-se conteúdos dedicados à formação não apenas de fiéis, mas de terroristas - ou mesmo quando ela afirma que ser um verdadeiro fiel é ser inteiramente predisposto a lutar e morrer pela causa que a publicação afirma representar.

No mesmo editorial da edição inicial, leem-se exortações àquilo que no Ocidente convencionou-se a visualizar como o tipo-ideal do terrorista islâmico. “Allah comanda Seu Mensageiro a salvar os crentes da decadência inspirando-os a lutar”, afirma o texto, para em seguida completar: “Esta Revista Islâmica destina-se a fazer do Muçulmano um mujahid no caminho de Allah” (muhajid é o termo árabe usado para se referir a guerreiro e, em alguns casos, guerreiro santo).

O caso da Inspire torna-se ainda mais delicado quando se nota que ela traz, em toda edição, a sessão “Open Source Jihad”, algo como “Jihad de Código Aberto” - jihad é o termo árabe usado para “luta” ou “esforço”. Neste segmento, a publicação traz dicas concretas, por vezes bastante brutais, primárias e rudimentares, como equipar um automóvel com lâminas laterais para usá-lo como uma máquina de cortar a grama contra uma multidão. Afirma-se que a primeira edição da revista trouxe, nesta sessão, dicas de como montar uma bomba caseira de modo similar ao empregado pelos irmãos Tsarnaev.

Autoria e circulação

Mas quem edita, afinal, a Inspire? Há somente indícios de respostas para essa pergunta. Entre os nomes que já apareceram em suas páginas, estão Ayman al-Zawahiri, médico egípcio e teólogo islâmico ligado à Al-Qaeda; e Samir Khan, cidadão americano de origem paquistanesa identificado como editor da revista e morto durante uma operação militar no Iêmen que também assassinou Anwar al-Awlaki, líder da organização terrorista.

Detalhe de uma das dicas da seção 'Open Source Jihad' em que se ensina a provocar acidentes rodoviários
Detalhe de uma das dicas da seção 'Open Source Jihad' em que se ensina a provocar acidentes rodoviários
Foto: Reprodução

Afora nomes de indivíduos, sobressaem-se as entidades Al-Malahem Media, um conglomerado de mídia e propaganda a serviço da Al-Qaeda. Este grupo poderia ser responsável pela distribuição da revista e pela comunicação dela com seus leitores, que trocam mensagem através de um sistema criptográfico de chave pública. Trata-se de um mecanismo que codifica mensagens cuja decodificação só pode ser feita por aqueles que enviam e recebem o material.

Pouco ou nada se sabe com rigor sobre a Inspire, e há mesmo a hipótese (embora improvável) de que a revista seria um produto da própria inteligência americana para identificar potenciais terroristas Estados Unidos e mundo afora. Seja como for, este produto midiático enquadra-se no que se convencionou chamar de terrorismo do século XXI: uma rede difusa de potenciais soldados antiocidentais e dispostos a levar a cabo ataques de grande ou pequena escala contra alvos puramente civis.

Se confirmado que a Inspire é, de fato, um produto da Al-Qaeda, e que ela tem, de fato, leitores dentro dos Estados Unidos (duas hipóteses possíveis), tem-se diante dos olhos o complexo mosaico em que se tornou a sociedade liberal do século XXI: uma realidade sócio-política que busca, em seu próprio solo, defender o ideal da liberdade e da justiça e que, por diferentes razões, acaba por abrigar determinados indivíduos que querem destruí-la.

A Inspire não possui site oficial. Seus arquivos são disponibilizados por sites de jornalismo e debates sobre política e segurança. As imagens reproduzidas nesta matéria foram retirados do portal Public Intelligence.

Fonte: Terra
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