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Política

Xodó de Lula, Haddad tenta repetir roteiro Dilma e dar fôlego ao PT

27 out 2012 - 14h01
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Dassler Marques
Direto de São Paulo

O trajeto Brasília-São Paulo era, possivelmente, uma das poucas coisas em comum entre Luiz Inácio Lula da Silva, então presidente, e Fernando Haddad, que liderava o ministério da Educação. A ponto de Haddad, caçula dos ministérios na capital federal, pedir carona no 'Aerolula' ao chefe que passava os fins de semana em território paulista. Foi em uma dessas viagens, é provável, que Lula iniciou um projeto: transformar um professor, com perfil técnico, em nova liderança do Partido dos Trabalhadores.

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Em meio a um aguardado julgamento do mensalão, e na expectativa de adversários petistas de que o caso pudesse influenciar negativamente contra o partido em todo o Brasil, Fernando Haddad, 49 anos, estreia em eleições majoritárias na disputa da maior cidade do Brasil e da América do Sul. Além de enfrentar uma eleição em meio ao julgamento dos principais nomes de seu partido, o petista precisou encarar também as críticas de adversários em relação à sua falta de experiência em cargos executivos.

Na sequência do fenômeno da presidente da República Dilma Rousseff (PT), eleita presidente em sua primeira eleição para o cargo, após apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Haddad debuta em São Paulo, onde nasceu no dia do aniversário da cidade, e também tenta superar José Serra (PSDB), em sua quinta eleição neste século. De acordo com as pesquisas de intenção de voto, é Haddad o favorito a suceder Gilberto Kassab (PSD).

Nas viagens entre Brasília e São Paulo na carona de Lula, o novo xodó do ex-presidente deve ter ouvido boas histórias sobre como enfrentar Serra no processo eleitoral. Haddad, ainda assim, se comporta como quem não tem lá grandes semelhanças com Lula além daquelas viagens aos fins de semana.

O homem do presidente

Escolhido a dedo pelo ex-presidente em detrimento da ex-prefeita e atual ministra da Cultura, Marta Suplicy (PT), Haddad, professor da Universidade de São Paulo (USP), tem a ponderação como a maior marca em seu discurso. Às declarações que faz, acrescenta mais números e informações que adjetivos ou metáforas. Os apertos de mão ao eleitorado demoraram a soar espontâneos durante a campanha, assim como os contra-ataques aos adversários.

Bem diferente de Lula. Na década de 80, de porta em porta, o ex-presidente aprendeu a fazer política no ABCD Paulista. Antes mesmo de aprender e se preparar para ser o presidente de maior aprovação da história do Brasil, Lula já sabia pedir votos. Haddad percorreu caminho exatamente contrário. Talvez por isso tenha admitido: "sempre votei no senhor, mas reconheço que sem convicção", chegou a dizer quando já ministro.

Antes da primeira experiência eleitoral, Haddad ascendeu em cargos administrativos: analista de investimento do Unibanco, consultor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, chefe de gabinete da secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico da cidade de São Paulo (durante o governo Marta), assessor especial do ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, secretário-executivo do ministério da Educação e, enfim, ministro da Educação em julho de 2005.

As quatro mulheres do candidato

Há um toque feminino por trás do projeto de Lula e do sonho de Haddad. Na verdade, quatro mulheres que sustentam a candidatura como coadjuvantes importantes para o PT tentar retomar a prefeitura de São Paulo depois de oito anos. A mais importante para as eleições, há poucas dúvidas, é Dilma Rousseff. Graças ao apoio irrestrito da presidente, em comício e propagandas, programas federais como o Pronatec (ensino técnico) e o Minha Casa Minha Vida puderam ser incorporados ao plano de governo para a capital.

Ainda na esfera político-eleitoral, Haddad demorou, mas conseguiu o apoio de Marta Suplicy à campanha. Ela esperava ser a indicada do PT, mas as duas últimas derrotas na capital somadas à vontade de Lula de ver seu ex-ministro da Educação candidato na cidade pesaram contra seu anseio. Só mesmo no fim de agosto a aliança se construiu, dias antes de Marta ser nomeada ministra da cultura. Presente em comícios e outros eventos, a ex-prefeita ajudou a fazer o nome de Haddad chegar às periferias.

Ex-secretária de esportes, Nádia Campeão (PCdoB) se integrou como solução emergencial ao staff feminino da candidatura petista. Entre as alianças que Lula buscou para dar mais de sete minutos a Haddad no horário eleitoral, a com o PP, do deputado federal Paulo Maluf (SP), fez com que a deputada federal Luiza Erundina (PSB) abrisse mão do posto de vice. Nádia, que tem discurso simples e enérgico, deixou a presidência estadual do PCdoB para ingressar na chapa.

Ana Estela Haddad empresta outro tipo de contribuição à campanha do marido. Enquanto as mulheres de Celso Russomanno (PRB) e José Serra têm aparição pública tímida, Estela já gravou dois programas de televisão, acompanha Haddad em eventos e participa até sozinha de algumas agendas para atrair votos. Inspirada em Michelle Obama, ajudou a compor o plano de governo do PT em São Paulo na área da saúde. Lula costuma dizer que ela também foi vital na composição do ProUni, que levou 1 milhão de estudantes à faculdade. A amizade entre Ana Estela e Marisa Letícia, esposa de Lula, aliás, aproximou o candidato e o ex-presidente.

A foto na carteira de Haddad

O envolvimento familiar, aponta Haddad, é um trunfo em sua caça para fugir do anonimato desde que iniciou as pesquisas de intenção de voto com 3%. O filho Frederico, com 19 anos, também participa do processo e acompanha o pai em eventos específicos. "Ele é responsável pelos assuntos que envolvem o Corinthians", brinca o são-paulino Haddad.

Filho de pai libanês e mãe brasileira filha de libaneses, Haddad quase sempre busca atrelar um lado familiar aflorado à campanha. Em visitas ao comércio de rua, por exemplo, Haddad costuma citar o pai, que foi atacadista de tecidos. Em sua biografia, o petista diz carregar na carteira uma foto do avô paterno, Cury Habib Haddad, que foi padre na Igreja Ortodoxa do Líbano. O candidato não chegou a conhecê-lo, mas o descreve como "referência espiritual da família."

Apesar do posicionamento quanto à religião, o candidato teve jogo de cintura para evitar a maior polêmica das eleições de São Paulo. Celso Russomanno, com 66% de membros da Igreja Universal no PRB, virou alvo da Igreja Católica na capital. Haddad defendeu o estado laico e discursou contra a intolerância religiosa em um dos momentos mais quentes da disputa.

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A pergunta acima foi a abordagem predileta de Fernando Haddad nos meses que separam sua confirmação como candidato do PT ao crivo das urnas no próximo domingo. Em um autoexercício do professor que entra nas eleições, Haddad aperfeiçoou o lado político para apertar mãos e beijar crianças com o mínimo de naturalidade, uma meta que parecia difícil em julho, quando tentava se livrar do anonimato.

Em uma agenda com o vereador reeleito Netinho de Paula (PCdoB), que chegou a ser pré-candidato, uma senhora perguntou: "quem é aquele homem com o Netinho?". Haddad contou com o apoio irrestrito de Lula para se apresentar, mas muitas vezes também precisou fazer isso sozinho.

Mas foi de fato a propaganda de televisão, com presença frequente de Lula, que realmente abriu portas para Haddad deixar os 3% e ser o favorito à vitória no domingo, segundo as pesquisas de intenção de voto Ibope e Datafolha. Nesse período, as perguntas sobre o programa se tornaram a abordagem predileta do petista, que de acordo com o Estado de S.Paulo é o candidato que mais usa o tempo de televisão para apresentar propostas.

Enquanto tenta conquistar os paulistanos com suas ideias, Haddad pode se vangloriar de já ter conquistado Lula. Até mesmo na sauna do Palácio da Alvorada, o ex-presidente costumava pedir palpites ao pupilo 27 anos mais jovem. Nele, enxergou a chance de acertar dois alvos em uma tacada: conquistar a prefeitura mais importante do País e encontrar nova liderança em meio ao desgaste do mensalão setores históricos do PT. Um roteiro familiar a quem fez Dilma Rousseff presidente da república.

Fernando Haddad (PT) foi escolhido pelo ex-presidente Lula como candidato do PT em São Paulo
Fernando Haddad (PT) foi escolhido pelo ex-presidente Lula como candidato do PT em São Paulo
Foto: Paulo Pinto / Divulgação
Fonte: Terra
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