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Política

Serra enfrenta desafio de convencer eleitor que está no 'auge'

27 out 2012 - 14h05
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Renan Truffi
Direto de São Paulo

Após mais de quatro décadas de vida pública e duas candidaturas à Presidência da República,PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra, teve que enfrentar, aos 70 anos de idade, mais que uma batalha de ideias e propostas nos cerca de quatro meses de campanha eleitoral pelo cargo. O tucano, que já foi prefeito da capital paulista, governador do Estado, ministro, senador e deputado federal, foi obrigado a combater o discurso de novidade e de renovação à atual gestão, do prefeito Gilberto Kassab (PSD), de quem é aliado, trazido por seus adversários ao longo da campanha.

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Desde que voltou do exílio em 1977, onde permaneceu por 14 anos por causa da ditadura militar, Serra participou ativamente da política brasileira. Mas foram os fatos mais recentes da sua vida pública que renderam munição aos adversários. Líder nas pesquisas de intenção de voto nos meses que antecederam o início da campanha eleitoral, Serra foi bombardeado por ter deixado o cargo em 2006, aproximadamente um ano e meio depois de assumir como prefeito da capital paulista para disputar (e vencer no primeiro turno) o governo do Estado. Nas palavras do próprio Serra, para não deixar o Palácio dos Bandeirantes "nas mãos do PT", ele renunciou ao cargo no Executivo municipal, que ficou com o então vice-prefeito Gilberto Kassab, à época no DEM.

Contra Serra, agora, pesa o recorde de rejeição da gestão de seu sucessor na prefeitura. Kassab tem uma das gestões mais mal avaliadas do País. Por isso, Serra teve que mesclar o discurso de que tem "ideias novas" e experiência, ao mesmo tempo em que tentava defender a gestão do prefeito. "O Kassab assumiu porque era meu vice. Completou meu mandato e foi eleito. A partir daí, desenvolveu o seu mandato", acostumou-se a repetir.

Junto a mensagem de que é o mais experiente entre todos os candidatos, o tucano também busca enfatizar que está no "auge" de sua capacidade "física e intelectual", e que é um candidato "criativo" e "inovador", acostumado a "tirar os projetos do papel".

Candidato relutante

Durante meses, Serra relutou diante da possibilidade de se candidatar novamente a prefeito quando o PSDB, carente de novos líderes, procurava um nome para lançar nas eleições deste ano. "Não vou me candidatar", prometeu. Depois, no entanto, voltou atrás e decidiu participar do pleito. Ainda assim, parte do PSDB insistiu em manter o processo de prévias que já havia sido iniciado - do qual participavam o ex-ministro e agora vereador eleito Andrea Matarazzo, o secretários estaduais Bruno Covas e José Aníbal e o deputado federal Ricardo Trípoli. Após a desistência de Covas e do amigo Matarazzo, Serra venceu os demais adversários, mas sem a aclamação que se esperava.

Depois de todo o processo que o levou a ganhar o direito de lançar candidatura oficialmente, Serra se une agora ao governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), com quem travou duras disputas internas pela liderança do PSDB no passado, para voltar a crescer nas pesquisas. Uma das estratégias da campanha é colar a imagem dos dois. Serra chegou a dizer, por exemplo, que ambos formariam uma dupla "perfeita" já que ele é assumidamente notívago enquanto Alckmin trabalha melhor durante o dia.

Isso porque, como o próprio candidato já admitiu, o tucano tem dificuldade de acordar cedo. O que o faz ser questionado, inclusive, por apoiadores. "A gente precisa fazer campanha de rua em três lugares todo dia", disse ao pé do ouvido do candidato um dos integrantes da União Geral dos Trabalhadores (UGT) em uma de suas visitas ao Tatuapé, zona leste da capital paulista. "Não dá", resumiu Serra sem justificar.

Devido ao jeito sério, o tucano, quando tem a oportunidade, costuma tentar desconstruir a imagem de "mal-humorado". "Eu estou sempre alegre! Eu tenho duas personalidades. A personalidade social é feita pelos outros. Quem me conhece sabe que sou bem humorado", disse ao ser elogiado por um militante pela "alegria" que mostrou em um comício no centro da cidade.

Coube até ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tentar passar um pouco do "lado humano" do candidato em um encontro com intelectuais. "Ele tem uma característica que precisa ser ressaltada. Pode parecer fora de moda ou inapropriado, mas não é. O Serra se dá bem com crianças. (...) Digo isso porque é importante ressaltar como as pessoas são e não como podem parecer que são. Dentro dessa carapaça de homem que ele é, combativo, capaz, inteligente, tem um coração de gente, um coração que pulsa no momento necessário", explicou.

Ainda que se preocupe em acabar com essa imagem, Serra foi bem recebido em boa parte das vezes em que visitou bairros da periferia. Não foram poucas as agendas em que foi possível ouvir declarações de amor ao tucano. "Serra, eu te amo", é um grito até que comum entre as eleitoras mais efusivas. Em uma dessas vezes acabou ganhando um inesperado beijo na boca.

Serra e a imprensa

O temperamento do candidato, no entanto, causou atritos com os repórteres que o acompanharam diariamente. Sempre quando questionado sobre algum assunto polêmico ou que o incomoda, o tucano reage da mesma forma. "De que veículo você é?", pergunta, às vezes respondendo e às vezes não ao questionamento.

Às vezes, também opta por rebater de forma "dura" a questionamentos dos quais discorda. "Só na sua cabeça", retrucou, por exemplo, quando foi perguntado sobre uma dobradinha que teria feito com a candidata Soninha Francine (PPS) no debate da TV Gazeta, realizado em parceria com o Terra.

No caso de maior repercussão da campanha até agora, o tucano xingou um repórter da Rede Brasil Atual, veículo de comunicação ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), quando questionado sobre porque só respondia a perguntas favoráveis. "Não. Eu só não respondo pergunta de sem vergonha", rebateu.

Ao mesmo tempo, ele não tem problemas em conversar e rir das próprias gafes que comete em eventos de campanha, como, por exemplo, quando perdeu o sapato ao cobrar um pênalti, na zona leste. "Eu avisei que isso ia acontecer. Pressenti que o sapato ia sair antes de chutar", confidenciou aos jornalistas enquanto ria do fato com naturalidade.

A assessoria de imprensa, por sua vez, se apressou em tentar aproveitar a repercussão em benefício do tucano. "Prova do carisma do candidato", diz texto publicado no Facebook de campanha.

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Foto: Marcelo Pereira / Terra
Fonte: Terra
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