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CPI do Cachoeira

MPF de Goiás apresenta denúncia contra a mulher de Cachoeira

3 jul 2013 - 11h18
(atualizado em 4/7/2013 às 07h21)
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<p>Andressa Mendonça com Carlinhos Cachoeira, suspeito de comandar jogos do bicho em Goiás</p>
Andressa Mendonça com Carlinhos Cachoeira, suspeito de comandar jogos do bicho em Goiás
Foto: Instagram / Reprodução

O Ministério Público Federal em Goiás denunciou na terça-feira a mulher do bicheiro Carlinhos Cachoeira por supostamente ameaçar o juiz Alderico Rocha Santos, que julgou os réus da Operação Monte Carlo. Segundo o magistrado, Andressa Alves Mendonça tentou suborná-lo para que o marido dela fosse libertado da prisão. Cachoeira estava preso na época por ser apontado como chefe da quadrilha dos jogos em Goiás.  

Segundo o MPF, Andressa cometeu dois crimes: o de corrupção ativa - por oferecer ou prometer vantagem indevida a servidor público, para incentivá-lo a praticar, omitir ou retardar ato próprio de sua função -, e o de usar de violência e grave ameaça em interesse próprio. 

Pelos crimes, são previstas penas de reclusão, que variam de dois a 12 anos e de um a quatro anos.O Ministério Público Federal requereu, também, que Andressa seja condenada à reparação dos danos causados pela infração cometida, considerando o prejuízo moral sofrido pela administração pública federal, nos termos do artigo 387, IV, do CPP.

A denúncia traz que no dia 26 de julho do ano passado, Andressa foi recebida no gabinete do juiz Alderico, acompanhada de uma servidora da 5ª Vara Federal. Após aproximadamente meia hora de conversa, em que insistia na revogação da prisão preventiva de Cachoeira, começou a fazer gestos para que a referida servidora fosse retirada do recinto.

Depois de muita insistência e afirmando querer conversar sobre fatos relativos às visitas ao marido, o magistrado determinou à servidora que aguardasse na porta, porém do lado de fora de seu gabinete. Quando os dois ficaram sozinhos na sala, Andressa relatou que Cachoeira teria como empregado um jornalista da revista Veja e que este montara um dossiê contra o juiz, que estaria prestes a ser divulgado. Entretanto, prometeu que evitaria a divulgação do dossiê se o juiz revogasse a prisão de Cachoeira ou apressasse o trâmite de seu processo, absolvendo-o.

Para demonstrar que não estava blefando e que teria tido acesso a possíveis informações relacionadas ao juiz federal, Andressa solicitou ao magistrado um pedaço de papel onde anotou três nomes.

Posteriormente, referindo-se à possibilidade de o juiz federal e uma das pessoas por ela apresentadas serem expostos a veículos de comunicação, aduziu que o magistrado teria sido fotografado na companhia de uma possível pessoa acusada pela prática de crime de submissão de trabalhadores à condição análoga a de escravo.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

Em 21 de novembro, após 265 dias preso, Carlinhos Cachoeira, deixou a penitenciária da Papuda, em Brasília. No mesmo dia, o contraventor foi condenado pela 5ª Vara Criminal do Distrito Federal a uma pena de 5 anos de prisão por tráfico de influência e formação de quadrilha. Como a sentença é inferior a 8 anos, a juíza Ana Claudia Barreto decidiu soltar Cachoeira, que cumpriria a pena em regime semiaberto.

No dia seguinte, o Ministério Público Federal (MPF) de Goiás pediu nova prisão do bicheiro, com base em uma segunda denúncia contra ele e outras 16 pessoas, todos suspeitos de participar de uma intensificação de ações criminosas em Brasília. O pedido foi negado pela Justiça.

No dia 7 de dezembro, Cachoeira voltou a ser preso. O juiz Alderico Rocha Santos, da 11ª Vara Federal de Goiás, condenou o bicheiro a 39 anos, 8 meses e 10 dias de reclusão por diversos crimes relativos à Operação Monte Carlo e determinou sua prisão preventiva. A defesa recorreu e, quatro dias depois, o juiz federal Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) concedeu novo habeas-corpus e Cachoeira foi libertado.

Fonte: Terra
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