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Tragédia em Santa Maria

Advogado de músico pedirá suspeição de delegado de Santa Maria

Segundo o defensor, o delegado Marcelo Arigony estaria envolvido emocionalmente no caso, o que prejudicaria o inquérito

28 fev 2013 - 19h56
(atualizado em 1/3/2013 às 01h23)
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Delegado Marcelo Arigony, responsável pelas investigações do incêndio na Boate Kiss, perdeu uma prima na tragédia
Delegado Marcelo Arigony, responsável pelas investigações do incêndio na Boate Kiss, perdeu uma prima na tragédia
Foto: Wilson Dias / Agência Brasil

O advogado Omar Obregon, que defende o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, afirmou nesta quinta-feira que vai entrar com um pedido de suspeição do delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, que comanda as investigações sobre o incêndio na Boate Kiss. Segundo o defensor, o policial estaria envolvido emocionalmente no caso, o que prejudicaria o inquérito.

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"Acho que ele está envolvido diretamente. Ele não está trabalhando com imparcialidade. Perdeu uma prima na tragédia, colocou o pensamento pessoal dele no Facebook, entre outras coisas", disse Obregon, lembrando que Arigony postou, na rede social, logo após o incêndio, uma foto de um show pirotécnico na Kiss com a legenda: "Tirem suas próprias conclusões!". A imagem foi retirada do Facebook um dia depois.

Nesta quinta-feira, Arigony anunciou que a Polícia Civil pediu à Justiça a prisão preventiva dos investigados. Além de Marcelo, o proprietário da boate, Elissandro Spohr, o sócio dele, Mauro Hoffmann, e o produtor musical da banda, Luciano Bonilha Leão, estão presos temporariamente desde o dia 28 de janeiro.

Obregon pretende entregar o pedido de suspeição de Arigony ao chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, Ranolfo Vieira Junior, na segunda-feira. O advogado disse achar "um absurdo" a forma como a investigação está sendo conduzida. 

"Ia deixar correr a investigação, mas no meu ponto de vista, ela está pecando, e muito. Eu não vou ensinar padre a rezar missa, mas eles (polícia) fizeram um questionário para aplicar nos interrogatórios com perguntas que não são as ideais. Um questionário com perguntas fixas para cada grupo – sobreviventes, funcionários – não ajuda a pessoa a dizer o que ela sabe sobre o fato", criticou.

"Não é nada pessoal contra o delegado, muito pelo contrário, estou fazendo isso para preservar sua reputação. Ele está envolvido emocionalmente, está sofrendo, e isso não é positivo para ele e para a família dele. Também faço para não haver prejuízo para o meu cliente, que está preso em função disso", afirmou o advogado.

Delegado: se estivesse abalado, eu mesmo pediria para sair

O delegado Arigony sustentou que somente coordena a Delegacia Regional de Polícia Civil de Santa Maria, e que todos os atos materiais do inquérito, como a tomada de depoimentos, são feitos pelos quatro delegados que atuam no caso - Sandro Meinerz, Luiza Santos Souza, Gabriel Zanela e Marcos Vianna. E acrescentou: "Se eu me sentisse emocionalmente envolvido ou abalado, eu mesmo pediria para sair."

Além disso, Arigony destacou que o inquérito sempre foi conduzido com total transparência e lisura, possibilitando que imprensa, órgãos como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Defensoria Pública, além de comissões de deputados e vereadores, fizessem um acompanhamento do caso. 

O presidente da seccional da OAB de Santa Maria, Péricles Lamartine Palma da Costa, afirmou que, em relação ao que a entidade tem acompanhado do inquérito, tudo tem transcorrido com tranquilidade e regularidade. A OAB local, inclusive, chegou a ser consultada pelos delegados do caso para que apontasse eventuais problemas, o que não foi constatado pelo órgão.

"O delegado Arigony é o delegado regional. Ele não trabalha sozinho. Há outros delegados trabalhando no caso, o que o torna plural. Sendo assim, qualquer envolvimento emocional desapareceria ou seria dirimido. A OAB de Santa Maria não detectou vicio algum dessa natureza", argumentou Costa. 

O presidente da Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia em Santa Maria, Adherbal Ferreira, entranhou o pedido de suspeição feito pelo advogado de defesa. "Estranho muito esse pedido e fico surpreso. Estamos acompanhando a investigação enquanto associação, e achamos que está tudo dentro da normalidade", afirmou Ferreira. 

Prisões preventivas

O advogado Márcio Cipriani, que defende o sócio da Kiss Mauro Hoffmann, informou que entrou com uma manifestação na tarde desta quinta-feira pedindo à Justiça que não acolha o pedido da Polícia Civil de prisão preventiva de seu cliente. Segundo o defensor, os fundamentos usados pelos delegados Marcelo Arigony e Sandro Meinerz para as prisões "não encontram respaldo na legislação brasileira".

Segundo informou Meinerz à imprensa na manhã de hoje, a alegação é fundamentada "na garantia da ordem pública, até pela preservação da integridade física dos investigados" e na "questão que a credibilidade das instituições públicas precisa ser preservada com o encarceramento provisório de algumas pessoas que praticaram crimes de natureza grave". 

Para Cipriani, as fundamentações são "ilegais". "A segurança dos acusados depende de um desejo dos próprios acusados, e não da opinião da polícia. E a credibilidade do Judiciário, ao contrário, não se dá com punições antes de formação de culpa, e sim com uma sentença justa", disse.

O advogado de Luciano Bonilha Leão, Gilberto Weber, também pretende entrar com uma manifestação ao juiz Ulysses Louzada, responsável pelo caso, questionando a necessidade da prisão preventiva. Ele informou que deve protocolar o documento na manhã desta sexta-feira.

O advogado de Kiko Spohr, Jader Marques, não foi encontrado para comentar o pedido de prisão preventiva de seu cliente.

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou mais de 230 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Dia que marca um mês de tragédia termina com tom político:

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

Amigos e familiares fazem barulho em homenagem às vítimas da Kiss:

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A intenção é oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Fonte: Terra
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