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Trump recua em promessas sobre imigração, mas insiste em muro na fronteira

19 jan 2017 - 18h26
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O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, construiu sua campanha com propostas duras em relação à imigração, mas mudou de tom depois da vitória no pleito.

Após chamar os mexicanos de "criminosos" e "estupradores", Trump, que toma posse nesta sexta-feira, passou a reconhecer que os imigrantes ilegais são "pessoas fantásticas".

Não há sinais de que a mudança de tom se transformará em políticas mais amenas em relação aos imigrantes e ao México, um dos mais afetados pela retórica agressiva do presidente eleito. O peso mexicano despencou no câmbio com o dólar diante da insistência do presidente eleito na proposta de construir o muro na fronteira.

Trump reiterou que vai construir o muro em sua primeira entrevista coletiva após a vitória no pleito, no último dia 11. Apesar da frontal oposição do governo do México, ele garantiu que os vizinhos bancarão as obras com "impostos ou pagamentos diretos" e reforçou a urgência da construção. O vice-presidente eleito, Mike Pence, já iniciou a tramitação da proposta no Congresso.

Essa é a única promessa que o empresário manteve intacta. A maior mudança em relação à política migratória ocorreu nas deportações. Trump disse que expulsará do país os estrangeiros que têm "antecedentes criminais", cerca de 3 milhões de pessoas. Na campanha, a promessa era tirar dos EUA os 11 milhões de imigrantes ilegais que vivem no território norte-americano.

Na primeira entrevista coletiva, o republicano disse que seu governo decidirá sobre o futuro dos demais imigrantes assim que a fronteira com o México tenha sido reforçada.

As promessas de Trump para expulsar pessoas com antecedentes criminais não são muito diferentes das propostas pelo ainda presidente do país, Barack Obama, que retirou 2,7 milhões de pessoas dos EUA em seus oito anos no poder.

O que mais preocupa muitos ativistas é Trump cumprir a promessa de revogar o Programa de Ação Diferida para os Chegados na Infância (Daca), promulgado em decreto por Obama em 2012. A medida foi responsável por frear a deportação de 750 mil jovens ilegais que chegaram ao país ainda crianças e são conhecidos como "dreamers" (sonhadores).

Durante a campanha eleitoral, Trump afirmou que os "sonhadores" também seriam deportados. Depois da vitória, adotou um discurso ambíguo e disse que a decisão que tomará fará com que os cidadãos fiquem "contentes e orgulhosos" de seu presidente.

Para evitar a deportação desses jovens, o senador republicano Lindsey Graham e o democrata Dick Durbin apresentaram no Congresso um projeto de lei que suspenderia a deportação desses jovens por três anos. Além disso, eles ganhariam licenças trabalhistas.

"Os EUA poderiam perder centenas de milhares de mentes brilhantes, assim como centenas de bilhões de dólares em atividade econômica", disse Durbin em entrevista à Agência Efe.

Para cumprir as promessas de deportação, Trump terá que ressuscitar programas de cooperação entre as polícias locais e as autoridades federais. A proposta tem a rejeição frontal das chamadas "cidades santuário", nas quais os governos protegem os imigrantes de serem expulsos do país.

Trump prometeu, durante a campanha eleitoral, que negará recursos federais às cerca de 300 "cidades santuários" dos EUA. Entre elas estão Chicago, Nova York e Los Angeles.

Após o triunfo do republicano, vários prefeitos democratas, como Bill de Blasio, de Nova York, reiteraram que suas cidades continuarão se negando a colaborar com as autoridades federais para identificar, deter e deportar imigrantes ilegais.

Em termos gerais, existe uma diferença conceitual entre os dois lados. Trump relaciona a imigração à segurança nacional e o terrorismo. Os democratas apostam em aprovar uma reforma migratória que abra caminho para que os imigrantes sejam legalizados.

Para o presidente eleito, o lema de "colocar os EUA em primeiro lugar" significa reduzir os níveis de pedido de asilo e implementar um bloqueio "completo e total" à entrada de muçulmanos no país.

Essa proposta, uma das mais polêmicas da campanha de Trump, tem oposição de integrantes do novo governo. O senador Jeff Sessions, escolhido para ser procurador-geral do país, rejeitou a ideia de proibir a entrada de muçulmanos. O islã é a religião de 3,3 milhões de norte-americanos.

As propostas de Trump parecem estar sempre impregnadas de um tom de irracionalidade e imprevisibilidade que lhe dá uma posição forte em futuras negociações e que o permite ceder em alguns pontos. A única ideia que o presidente eleito mantém inalterada, porém, é a construção do polêmico muro com o México.

O muro provocaria um terremoto nas relações com toda a América Latina, mas ainda resta saber como Trump concretizará promessas que, durante meses, pareceram apenas fumaça.

EFE   
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