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Oriente Médio

Irã reduzirá capacidades nucleares em troca de alívio nas sanções

Acordo histórico foi selado na madrugada deste domingo em Genebra

24 nov 2013 - 07h50
(atualizado às 08h07)
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A chanceler europeia, Catherina Ashton (centro), posa ao lado do ministro do Exterior iraniano, Javad Zarif, e da delegação do país após o acordo, em Genebra
A chanceler europeia, Catherina Ashton (centro), posa ao lado do ministro do Exterior iraniano, Javad Zarif, e da delegação do país após o acordo, em Genebra
Foto: AP

O Irã e um grupo de seis potências mundiais chegaram neste domingo a um acordo para que o governo iraniano reduza suas atividades nucleares em troca de um alívio nas sanções internacionais conta o país.

Este acordo interino estipula um congelamento do programa nuclear iraniano por seis meses. Se for bem-sucedido, o plano é fechar um acordo definitivo.

O acordo, conseguido após quatro dias de negociações em Genebra, na Suíça, prevê que o Irã permita o acesso de inspetores nucleares ao país e suspenda parte de seu programa de enriquecimento de urânio. Em troca, parte das sanções adotadas contra o país ao longo dos últimos anos serão suspensas, permitindo um alívio estimado em US$ 4,2 bilhões ao Irã.

As negociações em Genebra tiveram a participação dos chanceleres do Irã e do grupo P5+1, formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, França, Rússia, China e Grã-Bretanha), mais a Alemanha.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, elogiou o acordo, dizendo que ele inclui "limitações substanciosas que impedirão o Irã de construir uma arma nuclear". Ele afirmou, porém, que se o Irã não mantiver seus compromissos, "suspenderemos o alívio (das sanções) e reforçaremos a pressão".

Direitos reconhecidos

Em pronunciamento à TV, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, afirmou que seu país nunca teve como objetivo desenvolver armas nucleares e que nunca o fará. Segundo ele, o acordo em Genebra "reconheceu os direitos do Irã a um programa nuclear" e afirmou que as atividades nucleares do país seguirão iguais.

O governo do Irã afirma que seu programa tem fins pacíficos, para a produção de energia, mas as potências ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos, acusavam Teerã de tentar construir armas atômicas.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, afirmou que o acordo tornará a região do Oriente Médio mais segura para os aliados dos americanos, incluindo Israel.

Mas o governo israelense criticou o acordo e disse que Israel não se sentia limitado por ele. "Esse é um acordo ruim, que dá ao Irã o que o país queria: uma suspensão parcial das sanções, ao mesmo tempo mantendo uma parte essencial de seu programa nuclear", disse um comunicado divulgado pelo governo do premiê Benjamin Netanyahu.

Negociações secretas

O acordo deste domingo foi alcançado apenas cinco meses após a eleição do presidente iraniano Hassan Rouhani - considerado moderado -, para substituir o linha-dura Mahmoud Ahmadinejad.

No final de setembro, Rouhani e Obama conversaram por telefone, no primeiro contato direto entre os líderes do Irã e dos Estados Unidos desde a Revolução Islâmica de 1979. Rouhani afirmou que o acordo nuclear poderia "abrir novos horizontes".

Segundo fontes envolvidas nas negociações, representantes dos Estados Unidos e do Irã tiveram negociações secretas ao longo do último ano, sobre as quais nem mesmo os aliados americanos foram informados.

Os detalhes do pacto ainda não foram divulgados, mas os negociadores indicaram as suas linhas gerais:

- O Irã interromperá o enriquecimento de urânio além de 5%, o nível no qual pode ser usado para desenvolvimento de armamentos, e reduzirá seu estoque de urânio enriquecido além desse ponto.

- O Irã permitirá um maior acesso a inspetores, incluindo acesso diário nas usinas nucleares de Natanz e Fordo.

- Em troca, não haverá mais sanções relacionadas ao programa nuclear por um período de seis meses.

- Também haverá um alívio estimado em US$ 7 bilhões nas sanções ao Irã em outros setores, incluindo o de metais preciosos.

Natureza pacífica

O chanceler do Irã, Mohammad Javad Zarif, afirmou que o acordo é uma oportunidade para "a remoção de qualquer dúvida sobre a natureza exclusivamente pacífica do programa nuclear iraniano". Mas ele insistiu que o Irã não havia abdicado de seu direito de enriquecer urânio.

"Acreditamos que o acordo atual, ou o atual plano de ação, como chamamos, tem em dois lugares distintos uma clara referência ao fato de que o programa de enriquecimento nuclear iraniano poderá continuar e será parte de qualquer acordo, agora e no futuro", disse.

O ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, disse que o acordo significava "boas notícias para todo o mundo".

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