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Oriente Médio

Ex-soldado que expôs fotos diz que não deve perdão a palestinos

18 ago 2010 - 10h19
(atualizado às 12h10)
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Gabriel Toueg
Direto de Tel Aviv

A ex-soldado Eden Abragil, 21 anos, que gerou polêmica ao postar fotos suas no Facebook, posando ao lado de prisioneiros palestinos, negou-se a pedir desculpas pela publicação das imagens em entrevista ao Terra. "Quero pedir perdão a quem se incomodou com as imagens, mas não tenho nenhuma razão para me desculpar aos palestinos", disse ela. "Não fiz nada contra eles", concluiu.

Eden Abergil aparece em seu álbum no Facebook ao lado de palestinos vendados e com as mãos amarradas
Eden Abergil aparece em seu álbum no Facebook ao lado de palestinos vendados e com as mãos amarradas
Foto: Reprodução

A ex-recruta, que deixou o serviço militar obrigatório há um ano e vive atualmente em Ashdod, cidade na costa sul de Israel, foi criticada esta semana por autoridades israelenses e palestinas por postar fotos ao lado de presos palestinos vendados e amarrados em local não identificado da Cisjordânia ocupada. As imagens saíram no seu álbum intitulado "Exército - a melhor época de minha vida".

Ela diz que embora não veja nada de errado nas imagens, "se fosse hoje não colocaria no Facebook". Mas afirma que sim, teria tirado as fotos novamente. "Não humilhei ninguém, inclusive dei comida e bebida a eles (palestinos)", afirmou. "Estávamos em ronda, vimos os palestinos, e quisemos registrar, porque estávamos vendo pessoas de Gaza. Não tive nenhuma intenção de parecer violenta ou de humilhá-los", disse. Para Abragil, as fotos apenas registram "a experiência do serviço militar".

Esta semana, as fotografias foram reveladas por um blog israelense e ganharam a rede e a imprensa rapidamente. Jornais e canais de televisão do mundo inteiro mostraram os retratos da garota. Um blog estrangeiro chegou a dizer que o caso lembrava as fotos de Abu Ghraib - prisão iraquiana, onde estima-se que milhares de prisioneiros tenham sido executados. A comparação foi repetida por alguns veículos de imprensa.

Além das imagens, que já foram retiradas do Facebook por Eden, os comentários feitos por ela e por amigas provocaram críticas e renderam, inclusive, ameaças de morte. Em uma troca de mensagens, uma amiga escreve que "você (Eden) está muito sexy assim", e que um dos palestinos - na foto em que aparece sozinho ao lado dela - "está certamente excitado". Em resposta, ela escreve que deveria "etiquetar" o sujeito, indagando-se sobre a presença dele na rede social.

Israel e Palestina reprovam atitude

Em resposta ao tormento criado na imprensa internacional com o caso, o porta-voz do exército israelense se apressou em criticar a publicação das fotos e em dizer que a atitude de Eden não é a norma. Ao ouvir o comunicado, a ex-soldado disse sentir-se "muito desapontada" com a reação, que chamou de "nojenta".

"O exército não cuida dos ex-soldados. Eu chego a me arrepender de ter servido", afirmou. Não está certo se ela será novamente chamada para servir, na reserva, mas ela disse, enfática: "Não quero voltar".

No lado palestino, a reação também veio rápida. Na manhã desta terça-feira o escritório de imprensa da Autoridade Palestina (AP) enviou a jornalistas um comunicado criticando as imagens e afirmando que elas "mostram a mentalidade da ocupação (israelense) de orgulhar-se ao humilhar palestinos". No documento, a Autoridade Palestina ainda afirma que "nada justifica essas humilhações que são a prática cotidiana da ocupação".

Prática comum

A organização israelense de direitos humanos Shovrim Shtiká (Rompendo o Silêncio) afirmou que práticas como a de Eden não são incomuns. Um dos membros da entidade, Noam Chayut, disse nesta terça-feira ao Terra que "pessoas vivem sem direitos a 20 minutos do apartamento mais confortável em Tel Aviv", referindo-se à pequena distância entre a cidade israelense e os territórios palestinos.

A Shovrim Shtiká reúne depoimentos gravados de cerca de 750 soldados que serviram em unidades de combate e relatam, segundo Chayut, histórias que "revelam as reais atividades da ocupação de Israel nos territórios". Ele afirma ainda que na maior parte do tempo as operações não são de defesa, mas de ocupação.

"Um soldado pode simplesmente decidir que vai deixar um palestino esperando durante cinco horas só porque ele o irritou, ou entrar aleatoriamente em casas (sem mandatos)". Na onda do escândalo com as imagens de Eden, a entidade divulgou, nesta terça, fotos feitas por soldados em situações ainda piores: ao lado de palestinos feridos e até mortos. Em uma das imagens, um soldado aparece sorrindo e apontando a arma para o corpo de um palestino estirado no chão e seminu.

Fonte: Especial para Terra
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