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O multimilionário inglês que quer doar sua empresa

27 fev 2017 - 20h07
(atualizado às 20h19)
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Multimilionário quer garantir que sua empresa não seja vendida nem saia do Reino Unido
Multimilionário quer garantir que sua empresa não seja vendida nem saia do Reino Unido
Foto: BBC / BBC News Brasil

O empresário multimilionário John Elliott deixa poucas dúvidas em relação ao seu patriotismo econômico assim que se aproxima de sua fábrica no nordeste da Inglaterra a bordo de seu Jaguar.

"Olhe para esta área. Ela produziu o primeiro motor a vapor do mundo para uma locomotiva. E agora os japoneses, Hitachi, estão produzindo nossos trens", diz, com desdém, enquanto dirige.

O homem sem papas na língua, de 73 anos, é o fundador e chefe de fabricação e negócios da Ebac.

Criada em 1972 para fabricar desumidificadores de ar, no ano passado a empresa começou a produzir a primeira máquina de lavar roupas projetada e construída no Reino Unido em 40 anos.

A sede da Ebac fica na cidade de Newton Aycliffe, a alguns quilômetros de onde Elliott nasceu - e ele garante que vai permanecer lá para sempre.

Ao invés de suas duas filhas herdarem o negócio e a fortuna de Elliot, avaliada em cerca de 70 milhões de libras (R$ 270 milhões) quando ele morrer, tudo irá para a Fundação Ebac.

"A fundação significa que a empresa nunca será vendida. Eu nunca senti que era minha para vender", diz o milionário.

Filhas de Elliot trabalham na empresa, mas fortuna deve ser doada para fundação que a administra
Filhas de Elliot trabalham na empresa, mas fortuna deve ser doada para fundação que a administra
Foto: Ebac / BBC News Brasil

Nos termos da fundação, a Ebac deve manter toda a sua produção em Newton Aycliffe e usar todo o lucro excedente para ajudar grupos da comunidade, como o clube de futebol local.

Elliott, que ainda atua na empresa e é um dos quatro administradores atuais da fundação, diz que suas filhas, que também trabalham para o negócio, estão felizes com o arranjo.

Ele também está especialmente determinado a impedir a ida da Ebac para o exterior.

"Nós poderíamos ganhar mais dinheiro se começássemos a fabricar nossos produtos na Polônia", eu disse. "Mas, pessoalmente, eu preferia ter um lucro menor e ajudar a economia do Reino Unido a ter um lucro maior e desvalorizar a economia do Reino Unido."

'Baixa qualificação'

Com mais de 200 funcionários, a Ebac é um empregador considerável em uma área economicamente desfavorecida, mas as opiniões de Elliott sobre sua força de trabalho pode assustar algumas pessoas.

"Eles não são muito ambiciosos, mas não são cidadãos de segunda classe, e há muitos deles no Reino Unido. São razoavelmente motivados, mas têm baixa qualificação", afirma.

Elliott, que era contra a implantação do salário mínimo porque via a prática como um freio na produtividade, acha errado que políticos britânicos pensem que todos deveriam ter ótimas notas na escola e conseguir muitas qualificações.

"Se as pessoas querem fazer um trabalhou não qualificado ou semiqualificado e ganhar menos por isso, é a preferência delas", diz Elliot
"Se as pessoas querem fazer um trabalhou não qualificado ou semiqualificado e ganhar menos por isso, é a preferência delas", diz Elliot
Foto: Ebac / BBC News Brasil

"A ideia errada era a de que deveríamos fazer com que todos no Reino Unido fossem muito, muito inteligentes para que não precisássemos fazer qualquer trabalho duro. (Em vez disso), metade das pessoas no Reino Unido - ou perto disso - quer trabalhar em fábricas como esta", afirma.

"É uma escolha deles. Eles não estão aqui à força. Se eles querem fazer um trabalho não qualificado ou semiqualificado e ganhar menos por isso, é a preferência delas."

Ele diz ainda que, apesar de o Reino Unido ainda ter uma indústria de manufaturados da qual possa se orgulhar, é decepcionante que muito disso agora esteja em mãos estrangeiras.

O próprio Elliott abandonou a escola aos 15 anos e nunca teve um diploma. "Meu maior arrependimento? Dois anos perdidos. Eu deveria ter parado aos 13", diz.

Brexit

Nascido e criado em uma cidadezinha de mineração de carvão, Elliott e seus dois irmãos foram criados pela mãe e pelos avós depois que seu pai morreu, quando ele tinha apenas seis meses de idade.

Depois de deixar a escola, ele se tornou aprendiz de engenharia elétrica e começou a trabalhar para empresas locais.

Sua grande chance veio em 1972, quando ele tinha 29 anos. Na época, um cliente pediu-lhe para criar um umidificador industrial e ele criou sua própria empresa para fazê-lo. E assim nasceu a Ebac (então conhecida como Elliott Brothers Air Control).

A empresa cresceu ao longo dos anos e hoje também faz desumidificadores de ar, refrigeradores de água e sistemas de ar-condicionado. Seu faturamento anual é de mais de 15 milhões de libras (R$ 58 milhões), com lucros superiores a 3 milhões de libras.

Empresário era contra implantação de salário mínimo e defende o Brexit como "oportunidade"
Empresário era contra implantação de salário mínimo e defende o Brexit como "oportunidade"
Foto: BBC / BBC News Brasil

Elliot é um defensor entusiasta do Brexit - saída do Reino Unido da União Europeia -, que diz ser uma enorme oportunidade para o país.

"As pessoas imaginam que o Reino Unido não será capaz de vender mais nada para a Europa. Não, não, não. O resto do mundo negocia com a Europa, você só tem que lidar com as tarifas", afirma.

"Atualmente, vendemos para a França e para os Estados Unidos. Os EUA têm tarifas e isso é um inconveniente, mas não razão para romper os acordos. A melhor maneira de vender coisas é criar coisas que elas querem comprar."

Atualmente, as máquinas de lavar da Ebac são vendidas em apenas 20 locais no norte da Inglaterra, mas ele planeja aumentar a produção.

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