Paraguai: fazenda de brasileiros é 1ª ocupação de terra pós-Lugo
25 jun2012 - 06h26
(atualizado às 15h50)
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Uma fazenda pertencente a dois brasileiros se tornou o primeiro terreno a ser ocupado por sem-terras no Paraguai desde o impeachment do presidente Fernando Lugo e a posse de Federico Franco, na sexta-feira, segundo informou o jornal paraguaio
De acordo com o diário, a fazenda conhecida como Ex-La Reina, de 1.982 hectares e situada no distrito distrito de Capiibary, pertence aos brasileiros Clóvis Vieira e Troiler Omar. Um total de 90 famílias de sem-terra teriam ocupado o terreno dos dois brasileiros que conta com plantações de milho e de soja.
Um conflito entre trabalhadores sem-terra e policiais que deixou 17 mortos deu início ao processo movido pela oposição que resultou no impeachment de Lugo.
Ameaça
De acordo com os sem-terra que ocuparam a fazenda, os fazendeiros promoviam a fumigação indiscriminada em seu terreno, o que ameaçava a comunidade que residia nos arredores.
Um dos líderes camponeses que participou da invasão, Milcíades Quintana, afirmou, em entrevista ao jornal, que os trabalhadores rurais vinham tentando comprar a fazenda há nove anos, mas que o processo estaria paralisado.
O advogado Ruben Sosa, que representa os fazendeiros brasileiros disse ao Última Hora que a invasão fere os direitos de seus clientes, porque os impede de trabalhar. O advogado afirmou também que espera que o Ministério Público determine a prisão dos invasores.
A reação da polícia provocou a morte de 11 camponeses e a consequente crise política e o pedido de impeachment do presidente. Ao aprovar o início do processo político, a Câmara dos Deputados alegou "mau desempenho de funções", um dos motivos pelos quais o presidente pode ser processado, de acordo com a Constituição do Paraguai
Foto: AFP
Fazendeiros e políticos de oposição denunciaram esses procedimentos violentos, próximos à ilegalidade. Na sexta-feira, 15 de junho, seis policiais desarmados foram mortos durante a desocupação de uma propriedade em Curuguaty, 250 km a nordeste de Assunção, possivelmente por franco-atiradores que estavam ao lado dos camponeses
Foto: AFP
Conduzido à política por seu trabalho entre os camponeses, Lugo afirmava, ao assumir a Presidência, que faria uma reforma agrária pacífica. Mas foi abalado por invasões de grupos de camponeses ligados ao governo em propriedades de ricos produtores no leste, região agrícola mais rica do país na fronteira com Brasil e Argentina, onde milhares de colonos "brasiguaios" prosperam
Foto: AFP
Em agosto de 2010, seus médicos anunciaram que ele sofria de câncer linfático, mas afirmaram que ele poderia ser curado. Lugo se submeteu a seis sessões de quimioterapia, reduzindo consideravelmente suas aparições públicas. Ele foi tratado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, por uma equipe de médicos brasileiros e paraguaios
Foto: AFP
A existência de diversos filhos do ex-bispo católico abalaria o apoio popular. Sua popularidade de 93% no momento de sua posse como chefe de Estado caiu para 30% depois dos escândalos em abril de 2009, quando foi obrigado a reconhecer um filho de 2 anos, Guillermo Armindo, de Viviana Carrillo, 24 anos (na foto)
Foto: AFP
A presidência de Lugo foi sacudida por reiteradas denúncias de paternidade feitas por várias mulheres, que pediam exames de DNA por filhos que, segundo elas, tiveram com o mandatário enquanto era bispo de San Pedro, Departamento mais pobre do país
Foto: AFP
Lugo venceu as eleições presidenciais de 20 de abril de 2008 à frente de uma coalizão de partidos de direita e esquerda, a Aliança Patriótica para a Mudança (APC, sigla em espanhol) pondo fim ao partido Colorado, que se confundiu durante seis décadas com o Estado paraguaio
Foto: AFP
Fernando Lugo se reúne com se reúne com o monsenhor Orlando Antonini, representante do Vaticano, em 2008, depois de a Igreja Católica dispensá-lo das funções eclesiásticas do cargo de bispo, o que permitiu a Lugo se candidatar à presidência do Paraguai - que ele acabaria vencendo em 20 de abril
Foto: AFP
Ex-bispo católico, Fernando Lugo foi eleito há quatro anos no Paraguai com promessas de defender as necessidades dos pobres e obteve grande aceitação por parte dos movimentos sociais, especialmente dos camponeses. Defendeu a reforma agrária, questão conflituosa que acabaria levando seu governo a sofrer grandes abalos
Foto: AFP
Nesta sexta-feira, 22 de junho, o Senado paraguaio aprovou o processo de impeachment do presidente Fernando Lugo, que foi destituído do cargo. A votação obteve a maioria absoluta, com 39 votos a favor da condenação, quatro contra e duas abstenções. Trinta votos eram necessários para aprovar o impeachment de Lugo, que agora deve deixar o poder e ser substituído pelo vice-presidente, Federico Franco