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Oriente Médio

Síria: há 30 anos, tinha início o massacre da cidade de Hama

29 jan 2012 - 18h46
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Neste final de janeiro, a Síria aproxima-se de completar um ano de revoltas impulsionadas pela Primavera Árabe. E, neste início de fevereiro, será também o momento em que serão completados os 30 anos de um dos episódios mais sangrentos da história recente do Oriente Médio: o massacre de Hama, em 1982.

Uma das poucas fotos diponíveis mostra a devastação do centro de Hama após o massacre de 1982
Uma das poucas fotos diponíveis mostra a devastação do centro de Hama após o massacre de 1982
Foto: Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos / Reprodução

Nesse ano, a cidade de Hama, localizada no norte do país, concentrou um esforço de resistência e emancipação da comunidade sunita - corrente islâmica contrária aos xiitas do clã dos alawitas, do Partido Ba'ath. Os sunitas, ligados a uma corrente marcada por um maior tradicionalismo religioso, desafiavam o governo dos alawitas, instaurado desde o golpe de Estado de 1963 que levara o Ba'ath ao poder.

As tensões entre os grupos vinham crescendo. Os sunitas contavam com o apoio da Irmandade Muçulmana, com quem se identificavam, enquanto que os alawitas, embora minoria, contavam com o controle total do país. Esse poder tornou-se claro quando, em 1980, Damasco promulgou uma lei que tornava crime capital afiliar-se à Irmandade. No mesmo ano, os sunitas fracassaram em uma tentativa de assassinato do presidente.

Tudo veio à tona e viveu sua força máxima em fevereiro de 1982. Na madrugada do dia 2, Hama - um bastião do sunismo - foi palco de uma série de investida dos rebeldes contra as forças de segurança do presidente Hafez al-Assad. Em questão de horas, dezenas de oficiais foram assassinados, e Hama foi declarada cidade livre, desafiando a Damasco ba'athista.

Consciente do levante, Damasco convocou milhares de tropas e as enviou a Hama. Durante cerca de uma semana, soldados ba'athistas e rebeldes sunitas se enfrentaram na cidade, que foi reduzida aos escombros. As raras imagens disponíveis mostram prédios e construções dizimadas. Esmagados, os rebeldes foram derrotados, e o final do mês de fevereiro foi dedicado à busca dos líderes rebeldes restantes. Não há números oficiais; os relatos apontam desde cifras oficiais na casa das 2 mil vítimas fatais, enquanto ONGs e oposicionistas colocavam os mortos em 40 mil.

Incerteza das cifras à parte, o Massacre de Hama, como ficou conhecido o episódio, teve como consequência o enfraquecimento dos sunitas na Síria e a manutenção da força do Ba'ath. Hafez al-Assad, que ordenou as mortes na cidade sunita, governou a Síria até 2000, quando morreu e viu a presidência do país ser herdada por seu filho, Bashar al-Assad.

Há importantes diferenças entre o que os sunitas viveram em 1982 e o que os oposicionistas da Primavera Árabe vivem hoje. De acordo com os piores prognósticos, Hama concentrou mais de 40 mil mortes em menos de um mês contra um único grupo religioso, ao passo que se calculam 8 mil mortes entre os diversos oposicionistas sírios ao longo de praticamente 12 meses. Thomas Friedman, jornalista do New York Times que noticiou Hama à época, comentou recentemente que Bashar al-Assad tenta, hoje, fazer um "Hama em pequenas doses".

No entanto, a repressão de Hafez al-Assad em 1982 e a de Bashar al-Assad em 2011/12 é, em essência, a mesma. Trata-se de um mesmo grupo político, de poder altamente concentrado, usando da força física para se manter no poder. Na década de 80, o Egito via Mubarak subir à presidência, e Muammar Kadafi estava ainda na primeira metade na sua era na Líbia. A nova realidade apresentada pela Primavera Árabe, aliada à crescente pressão da comunidade internacional (e árabe) sobre Damasco e os ba'athistas, abre espaço para se pensar que, 30 anos depois, os sírios não viverão uma nova Hama.

Fonte: Terra
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