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Oriente Médio

WikiLeaks: exposição de medo árabe deve elevar tensão com Irã

5 dez 2010 - 11h18
(atualizado em 6/12/2010 às 09h20)
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Tariq Saleh
Direto do Cairo

As revelações do WikiLeaks de documentos confidenciais de embaixadas dos Estados Unidos pelo mundo provocaram uma série de constrangimentos para o governo americano e outros países aliados. Em um dos documentos, o rei da Arábia Saudita, Abdullah Bin Abdelaziz Bin Saud, é citado pedindo às autoridades americanas que bombardeassem as instalações nucleares do Irã.

"Os documentos de diplomatas americanos no Oriente Médio expuseram a fragilidade e o medo de líderes árabes, sempre dependentes da proteção dos EUA contra a influência iraniana no mundo árabe e sua capacidade nuclear", disse ao Terra Ziad Moussa, do Centro Al Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos do Cairo.

Para ele, a exposição do monarca saudita provocará uma elevação na tensão com o Irã, país xiita que não mantém boas relações com a Árabia Saudita e o Egito, dois pesos-pesados na região de maioria muçulmana sunita.

"A maioria dos líderes árabes quer que os EUA lidem com o Irã, inclusive iniciar uma guerra contra o país, mas evidentemente eles não dizem isso publicamente por medo das repercussões negativas junto à opinião pública árabe", disse Moussa.

Os dois países seguidamente estão em rotas de colisão. Enquanto que o Irã apoia o grupo xiita libanês Hezbollah e o palestino Hamas, os sauditas dão respaldo para grupos contrários a estes dois.

Para Mohamed Said El Sayed, ex-embaixador egípcio e supervisor-geral da revista O Diplomata, a hostilidade de governos árabes em relação ao Irã não é segredo, mas a publicação dos documentos pelo WikiLeaks e jornais pelo mundo passaram a ideia de que líderes árabes estão mais preocupados com o Irã do que com Israel.

"Essa imagem é muito negativa junto à maioria das massas árabes, que enxergam em Israel o grande inimigo, não os iranianos", explicou El Sayed, que serviu como diplomata sob o governo de Gamal Abdel Nasser, Anwar Sadat e o atual presidente egípcio, Hosni Mubarak.

Um dos documentos, de novembro de 2009, cita os apelos de governos árabes para que os EUA ataquem o Irã e obrigá-lo a interromper seu suposto programa de armas nucleares. As mensagens falam de como o rei Hamad do Bahrain insiste na ideia do governo americano de acabar com as ambições nucleares iranianas usando "de todos os meios necessários".

Em outro documento, de abril de 2008, o embaixador saudita em Washington, Adel al-Jubeir, conta das frequentes incitações do rei Abdullah para que os americanos atacassem o Irã. Outro líder árabe, Zaid Al Rifai, presidente do senado jordaniano e pai do atual primeiro-ministro, clamou por um ataque americano: "bombardeiem o Irã, ou vivam com uma bomba iraniana. Sanções, incentivos econômicos não farão a diferença".

O ex-diplomata El Sayed salienta o fato de que o Irã passou a ser uma maior ameaça aos árabes do que Israel. "Parece que os árabes temem mais um Irã nuclear do que um Israel nuclear".

O rei saudita Abdullah, que se recupera de cirurgia nos EUA, vem evitando comentarários sobre as revelações do WikiLeaks.

Sunitas vs xiitas
"Há poucos meses, o presidente iraniano e o rei saudita se encontraram para amenizar as tensões. As revelações do WikiLeaks podem criar um problema muito grande para os sauditas e deve gerar uma desconfiança ainda maior dos iranianos", disse El Sayed ao Terra.

Nas conversas com diplomatas americanos, o ministro de Defesa dos Emirados Árabes Unidos aparece se referindo ao presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad como "Hitler". Outros líderes árabes se referem ao Irã como "a cobra", "o mal" ou "o polvo cujos tentáculos precisam ser cortados".

Ziad Moussa salienta que os documentos mostram a confiança dos líderes árabes de que a única solução é atacar o Irã. "Não que o Irã não soubesse da inimizade da maioria dos governos árabes, mas ao se tornarem públicos, o Irã enfrentará uma pressão de suas massas e seus líderes para reagir. Ficou a impressão na mente de cada iraniano de que os árabes querem destruir o país", disse.

Moussa também chama a atenção para o fato de que, além da questão nuclear, a Árabia Saudita a questão religiosa com o Irã. "Nós temos o mais poderoso líder sunita da região pedindo aos americanos que ataquem o mais poderoso país xiita. Os aiatolás do Irã podem usar isso para fomentar ainda mais uma guerra dos xiitas contra os sunitas. Isso é muito preocupante".

Segundo El Sayed, o constrangimento diplomático é extremamente perigoso para os países árabes, especialmente a Árabia Saudita, pois o Irã detém enorme influência nas comunidades xiitas em países do Golfo e o Iraque.

"As preocupações árabes vão além da questão nuclear iraniana. Os países do Golfo têm medo de que o Irã incentive as populações xiitas nestes países a uma insurgência, ameaçando seu poder sunita", falou ele.

Egito
Ao todo, o WikiLeaks disponibilizou 250 mil arquivos secretos do Departamento de Estado americano. Em outro documento, o atual ministro de Relações Exteriores do Egito, Ahmad Abou Gheit, se refere ao Irã como a maior ameaça à paz na região, o que provocou um constragimento doméstico, já que árabes em geral consideram Israel como o problema.

No entanto, Moussa opina que o Egito está em uma situação menos difícil do que a Árabia Saudita. "O Egito não teme tanto o Irã em termos étnicos ou militares. Sua população muçulmana é firmemente sunita. Mas o governo teme que o Irã influencie grupos sunitas egípcios contrários que ameace sue poder".

El Sayed também acha que as preocupações do Egito são outras. "O governo egípcio teme o crescimento do Irã como potência regional e sua influência entre os árabes. Por décadas, o Egito sempre foi o peso-pesado no mundo árabe, e o Egito não quer perder sua posição na região", disse. "Os egípcios são apenas parte do bloco anti-Irã por uma lealdade diplomática à Árabia Saudita", acrescentou.



info infográfico wikileaks julian assange perfil
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Foto: AFP
Fonte: Especial para Terra
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