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Reformas no Egito permitem candidatas mulheres ao Parlamento

28 nov 2010 - 00h40
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Tariq Saleh
Direto de Cairo

Nas movimentadas ruas do Cairo, a capital do Egito, os estrangeiros acostumados ao conservadorismo das sociedades do Oriente Médio não deixam de notar que as eleições parlamentares programadas para este domingo apresentam algo diferente -, cartazes nas ruas de mulheres candidatas no pleito deste ano.

Reformas nas leis egípcias permitiram que mulheres, como Jamila Ismail, se candidatassem ao Parlamento
Reformas nas leis egípcias permitiram que mulheres, como Jamila Ismail, se candidatassem ao Parlamento
Foto: AFP

Disputam as eleições deste ano 5.181 candidatos para 508 das 518 cadeiras do Parlamento egípcio, com 64 assentos reservados por lei para mulheres. Os titulares dos outros dez assentos são nomeados pelo presidente.

"Quinze anos atrás era impensável uma mulher ser vereadora em uma câmara legislativa local, imagine então o Parlamento. Isso era totalmente inaceitável para a maioria dos eleitores e políticos", disse Youmna Hama'i, analista política da Universidade Ain Shams, no Cairo.

Ela salientou que o governo do presidente Hosni Mubarak, pressionado por entidades internacionais de direitos da mulher e governos ocidentais, inciou um processo de modernização nas leis do país.

"Agora as mulheres egípcias têm o direito de representar sua comunidade, não importando de qual camada social ela venha ou de que religião", completou ela.

No entanto, as reformas não trouxeram a democracia tão sonhada pelos egípcios. Mubarak, 82 anos, está há 30 no poder e vem enfrentando problemas de saúde. Especula-se que seu filho, Gamal, deve ser indicado para assumir o comando do partido governista do pai, abrindo o caminho para sua eleição como presidente do Egito.

Opositores reclamam de violações de direitos humanos, intimidações contra a imprensa, prisões arbitrárias e eleições realizadas apenas para passar uma imgem de democracia e satisfazer aos aliados ocidentais de Mubarak.

"Ainda não temos uma democracia perfeita, é verdade, mas avanços foram feitos, como as eleições multi-partidárias de 2005 e aprovação de leis mais justas às mulheres", falou Hama'i.

As eleições parlamentares deste domingo estão sendo marcadas pelo boicote da oposição ao pleito (a exceção é o maior partido opositor, a Irmandade Muçulmana, que anunciou sua participação). Apelos por um boicote também vieram de movimentos estudantis, ONGs e ativistas de direitos humanos.

Poucos no Egito acreditam em reformas mais profundas, em que a elite dominante e o partido do governo, o Partido Nacional Democrático (PND), manterão seu poder.

Analistas acreditam em um enfraquecimento da oposição, que deverá perder cadeiras no Parlamento pelo fato de estar dividida sobre a participação ou não do pleito de domingo.

Tradição
Embora o país seja secular, a política em regiões no interior do Egito, como em muitos países árabes, é marcada por por tradições tribais, alianças entre clãs e imensamente dominada por homens.

Mas a analista independente Yomn al-Hammaki salientou que, nos últimos anos, as mulheres conseguiram ser eleitas como vereadoras, muitas vezes com o voto de homens, em cidades mais tradicionais.

"O Egito deu passos importantes em termos de integração da mulher, abrindo vagas para o sexo feminino no Parlamento. E a quantidade de candidatas cresceu, incluindo candidatas por partidos filiados a ideologias mais islâmicas", explicou ela.

No entanto, al-Hammaki alertou para o fato de que um posto no Parlamento não será uma tarefa fácil. "Mulheres terão que estar preparadas para o posto. Devem saber o que sua comunidade necessita, ter conhecimentos e serem muito ativos politicamente".

Muitas candidatas, segundo jornais do país, concorrem como independentes, sem filiação partidária e, algumas, de religião cristã. "A ideia não é apenas dar voz às mulheres, mas às minorias que elas possam vir a representar", destacou al-Hammaki.

Critãos cópticos no Egito representam 10% da população de cerca de 82 milhões, e nos últimso anos vêm reclamando de discriminação por parte da maioria muçulmana. O governo vem combatendo o extremismo entre cristãos e muçulmanos com ações policiais, mas confrontos têm acontecido com certa frequência.

"Estes são desafios que esperam por mulheres no Parlamento, ajudar a fazer do Egito um país mais democrático, mesmo sob a forma de democracia que temos", disse ela.

Nas ruas do Cairo, enquanto isso, mulheres fazem campanha, aprsentando aos eleitores seus programas políticos. Mas, segundo jornais, a ideia de ter um grande número de mulheres no Parlamento não agrada a todos, com algumas pessoas da população masculina se manifestando contra a nova lei.

"É verdade sim que houve quem não gostasse, especialmente nas camadas mais conservadoras da sociedade. Mas, felizmente, a maioria no Egito é secular e progressista, que percebeu que reformas podem trazer avanços ao país", disse Youmna Hamma'i, da Universidade Ain Shams.

Fonte: Especial para Terra
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