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América Latina

Corpo de Néstor Kirchner chega a Río Gallegos sob aplausos

29 out 2010 - 18h49
(atualizado às 19h22)
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Maurício Boff
Direto de Río Gallegos

O avião levando o corpo do ex-presidente argentino Néstor Kirchner chegou às 17h36 (18h36 de Brasília) ao aeroporto de Río Gallegos, onde foi recebido com aplausos. De lá segue direto para o cemitério onde será sepultado. A família Kirchner foi recebida no aeroporto pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

O percurso, que iniclamente levaria cerca de 10 minutos, deve demorar bem mais em função da quantidade de gente nas ruas da pequena cidade. Outras centenas já aguardam em frente ao cemitério, que foi isolado pela polícia.

Kirchner será enterrado em uma cerimônia reservada somente para familiares e amigos. Sua mulher, a presidente Cristina, os filhos Florecia, 19 anos, e Máximo, 32 anos, e funcionários do governo viajaram junto com o corpo, em um avião da Força Aérea.

Buenos Aires

Em Buenos Aires, uma multidão que fez filas de 2 km durante 26 horas de velório, gritava "Voltarás e serás milhões!", entre bandeiras com as cores do país, azul celeste e branco, relembrando a frase histórica de Evita Perón, ao mesmo tempo em que pediam força à viúva, Cristina Kirchner, cuja fortaleza está à prova.

Ao fim das honras fúnebres, na capela ardente do Salão dos Patriotas Latino-Americanos da Casa Rosada, a presidente liderou até o Aeroparque um cortejo de veículos, em cuja passagem milhares de pessoas agitavam bandeiras, cantavam, choravam e atiravam flores.

"Néstor não morreu, Néstor não morreu, vive nos corações do nosso povo trabalhador!", cantava a multidão, em um ato político carregado de sentimentos e que, pela concentração de pessoas, reviveu os funerais de Evita, em 1952, e a do três vezes presidente Juan Perón, em 1974.

A morte de Kirchner, aos 60 anos, vítima de parada cardíaca, na residência de El Calafate, extremo sul argentino, fez ressurgir a mística peronista, com o desfile de centenas de milhares de homens, mulheres e crianças pelo centro de Buenos Aires e pela Praça de Maio.

A presidente, que além do cônjuge, perdeu o companheiro de militância de toda a vida, recebeu pêsames e a solidariedade também de uma multidão de chefes de Estado, incluindo o ex-presidente espanhol Felipe González.

Passaram pela capela ardente os presidentes brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva; da Venezuela, Hugo Chávez; Paraguai, Fernando Lugo; Bolívia, Evo Morales; Equador, Rafael Correa; Chile, Sebastián Piñera; Uruguai, José Mujica, e Colômbia, Juan Manuel Santos.

Incerteza

Ao perder seu maior estrategista, a Argentina vive horas de incerteza, mas o principal artífice político do governo, a central operária CGT, renovou seu apoio, depois que seu líder, Hugo Moyano, afirmou que "depois de Perón e Eva, vem Néstor Kirchner".

Mas apesar do luto nacional e do respeito que provoca a morte, os ativistas cantaram sem pausa, de dia e de noite, palavras contra Julio Cobos, que há dois anos passou à oposição sem renunciar à vice-presidência, de onde opera sua candidatura presidencial para 2011.

"Vai embora, Cobos, você é um traidor!", bradia a multidão contra o político da social-democrata União Cívica Radical (UCR), que vota leis contra o governo, quando há paridade no Senado, câmara que ele preside.

A presidente se destaca como candidata natural do kirchnerismo para 2011, disse o chanceler Héctor Timerman, mas os analistas consideram que deverá lidar com uma reestruturação de gabinete e uma recomposição de forças.

A economia cresceu com força total desde 2003, quando seu marido assumiu, a um ritmo de 8% ao ano, com exceção da recessão forçada pela especulação financeira mundial em 2009, embora o país arraste uma inflação de 25% ao ano, não reconhecida pelo governo.

Era Kirchner

Néstor Kirchner chegou ao poder como emergente da pior crise da história, devido ao colapso da economia, após o neoliberalismo implantado entre 1989 e 2001 pelos presidentes Carlos Menem e Fernando de la Rúa.

De seu governo, entre 2003 e 2007, se destacam a reforma da Suprema Corte, com juristas de prestígio, os julgamentos por crimes da ditadura (1976-1983), a estatização dos fundos privados de aposentadoria na crise, o cancelamento da dívida com o FMI e o ajuste quase total da dívida em 'default'.

Em troca, foi criticado por manipular os índices de inflação e por traços autoritários, que despertaram ódios na esquerda e na direita, inclusive em setores peronistas, além do confronto com as corporações da mídia.

Irascível e temperamental, enfrentou a Igreja Católica e os patrões dos agricultores, que combateram sua esposa com a maior greve da história do campo em protesto contra impostos sobre as exportações.

Com informações da agência AFP

Fonte: Especial para Terra
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