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População aprende a conviver e até a rir da chuva incomum

6 set 2010 - 14h29
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Lúcia Müzell
Direto de Saint-Pandelon

Não apenas as roupas e os carros sofriam com a chuva pitoresca que passou a cair sobre Saint-Pandelon desde maio. Em uma comunidade rural onde os habitantes produzem a maior parte do que consomem, os moradores ficaram preocupados com o que poderia acontecer com as frutas e legumes que brotavam nos seus quintais. O temor era de que as fezes contaminassem os alimentos.

Reservatório da água ficou completamente manchado pela chuva de fezes
Reservatório da água ficou completamente manchado pela chuva de fezes
Foto: Lúcia Jardim / Especial para Terra

"Aquilo caía e secava imediatamente, com o calor do verão. Ficava uma crosta dura, difícil de retirar mesmo com lavagem", conta a dona de casa Janine. "Todo mundo pensava duas vezes se deveria comer os legumes produzidos aqui. Eu passei a comprar no mercado as frutas, que são consumidas cruas."

Embora o novo cotidiano fosse desagradável, a população de Saint-Pandelon provou que consegue encarar situações adversas com bom humor. Outro contratempo com o qual tiveram de se habituar foi que, em pleno verão, os habitantes se viram receosos de fazer os famosos churrascos à americana, hábito copiado dos Estados Unidos pelos franceses. Ao longo dos meses de junho a setembro, eles mantém suas grelhas abertas nos jardins, onde assam e consomem carne nos finais de semana. "Imagine, você vai comer um churrasco e, quando percebe, a carne está temperada com um gostinho bem particular", brinca o aposentado Michel Tastet.

Ainda as piscinas, alívio tão desejado em um dia de calor, passaram a ser vistas com outros olhos. "A gente fingia que nem estava com tanto calor assim, mas na realidade, ficávamos com certo nojo de entrar em uma piscina que fatalmente estaria cheia de m**** diluída, mesmo se não conseguíamos ver nada de fora", conta o irmão de Michel, George Tastet.

Foi George quem percebeu que as manchas amarronzadas estavam invadindo a comunidade e manchando tudo o que encontravam pela frente. Ele se diverte ao contar que, quando foi questionar se sua vizinha, Camille, tinha percebido que havia algo de estranho caindo do céu, a aposentada achou que ele estivesse dizendo bobagens.

"Ela insistia em dizer que não tinha percebido nada. Mas antes mesmo de eu levá-la para algum ponto para mostrá-la que havia, sim, algo de errado, uma enorme gota marrom caiu justamente na lente direita dos seus óculos! Ela ficou sem palavras e eu, não consegui segurar o riso", relata.

Camille se deu conta, então, de que suas roupas recém lavadas estavam de fato saindo do varal manchadas. "Todo mundo teve que adaptar a posição do seu varal de maneira a ser o menos atingido possível pelo vento, que soprava em direção ao oeste", ensina Camille.

A comunidade também teve de se acostumar com a onda de jornalistas que invadiram a localidade tão logo a notícia começou a circular. O auge se deu quando a agência AFP, uma das maiores do mundo, difundiu uma matéria sobre o caso em rede nacional. "A matéria saiu às 18h. Às 18h02, já tinham outros jornalistas ligando aqui para casa. Fiquei impressionado com a rapidez com que a nossa história ficou conhecida", afirmou Leticia, também moradora da pequena cidade, que tem apenas 700 habitantes.

George Tastet conta que, no dia seguinte, até um amigo do Canadá lhe telefonou para saber mais detalhes sobre a história. E agora, os moradores ficaram estupeficados ao saber que a imprensa brasileira também se interessava pelo caso. "Só espero que a gente não fique mundialmente conhecido por viver na m****", diz George.

Um dos jornalistas que foi à cidade chegou a ser vítima da tal chuva. Quando se preparava para gravar uma passagem para televisão TF1, o principal canal privado francês, o repórter percebeu que sua camisa somava nada menos do que oito manchas marrons - e isso apenas uma hora depois de ele ter chegado à localidade. "Acho que esse não volta mais aqui de jeito nenhum", comenta Michel.

Fonte: Especial para Terra
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