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Oriente Médio

Analistas: ajuda militar iraniana pode colocar Líbano em risco

1 set 2010 - 13h18
(atualizado às 13h20)
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Tariq Saleh
Direto de Beirute

Um eventual pacote de ajuda militar do Irã às forças armadas libanesas colocaria o país árabe em um cenário de tensão diplomática com os Estados Unidos e Israel, que poderão agir para proteger seus interesses estratégicos, disseram analistas ao Terra.

Forças francesas da ONU e soldados do exército libanês realizam exercícios na localidade de Naqura, ao sul de Beirute
Forças francesas da ONU e soldados do exército libanês realizam exercícios na localidade de Naqura, ao sul de Beirute
Foto: AFP

Segundo eles, o governo libanês avaliará primeiro as repercussões internacionais de uma ajuda militar iraniana.

Um incidente no mês passado entre tropas libanesas e israelenses na fronteira deixou dois soldados e um civil libanês e um oficial israelense mortos, expondo a fragilidade do exército do Líbano e um apelo de políticos para equipar as forças armadas com armamentos mais modernos.

Os EUA, que mantém um programa de ajuda militar ao Líbano no valor de US$ 700 milhões, suspendeu US$ 100 milhões depois de pressão de deputados do Congresso americano. A ajuda americana se resume a veículos e armamentos leves. O Líbano, no entanto, quer equipar seu exército com armamentos melhores e mais avançados.

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, sugeriu em um recente discurso que o governo libanês requisitasse uma ajuda militar a países árabes e o Irã.

O ministro de Defesa iraniano, general Ahmad Vahidi, declarou na semana passada que o Irã estava pronto para vender armas ao Líbano caso o país fizesse um pedido formal para equipar suas forças armadas.

"Se houver uma necessidade neste sentido, nós estamos prontos para ajudar aquele país (Líbano) e conduzir negociações envolvendo armamentos", disse Vahidi à agência de notícias estatal iraniana Irna.

Mas segundo o brigadeiro-general aposentado Amin Hotait, analista estratégico e professor na Universidade Libanesa, o governo libanês ficará em uma situação complicada se comprar armas ou receber qualquer ajuda militar do Irã, um país que atualmente sofre sanções das Nações Unidas (ONU). "Fazer uma transação com o Irã seria, em teoria, infringir as sanções impostas ao país".

Mas Hotait salientou que o Exército libanês precisa, urgentemente, de modernização. "O exército libanês é menos equipado e inferior ao braço armado do Hezbollah. Mas aceitar armas do Irã criaria uma dor de cabeça diplomática com os EUA e União Europeia", afirmou Hotait.

Para ele, o Hezbollah e seus aliados que são apoiados por Síria e Irã farão uma pressão no governo do Líbano, do qual fazem parte, para que oficialize o pedido de ajuda militar ao Irã. "Isso poderá gerar uma divisão dentro do governo, pois outros partidos não veêm o Irã com bons olhos e sabem que haverá uma pressão americana para que isso não se efetive".

Ajuda ingênua e hipócrita

De acordo com Karim Makdissi, professor de Estudos Políticos da Universidade Americana de Beirute, a atenção recente dada ao exército libanês está colocando por terra um projeto ocidental após a guerra de 2006 entre Hezbollah e Israel.

"Quando os EUA e outros países europeus começaram a financiar o treinamento e doar apenas armamentos leves ao exército libanês, a intenção era transformar a instituição em um mecanismo anti-terror e anti-Hezbollah", explicou ele.

Mas Makdissi salientou que o projeto era insuficiente para atender as necessidades das forças armadas libanesas, carentes de maiores recursos para cumprir suas obrigações em defender o país.

"O incidente na fronteira trouxe à tona a ingenuidade e hipocrisia da ajuda ocidental ao exército que não era sério em termos das necessidades reais para defender o país. No fundo, o Ocidente não queria dar armas ao Líbano com medo de que pudessem ser usadas contra Israel".

"O suporte ao exército tem sido mais político ao invés de militar", completou Makdissi.

O próprio presidente do Líbano, Michel Suleiman, ex-comandante das forças armadas, fez um apelo para uma modernização do exército.

Recentemente, o Ministério de Defesa libanês abriu um conta bancária para doações internacionais de cidadãos no exterior para reequipar as forças armadas do país e comprar armas mais modernas.

Segundo Makdissi, o Irã já tem a experiência de modernizar uma força militar. "Foram os iranianos que ajudaram, com sucesso, a construir o braço militar do Hezbollah e transformá-lo na mais poderosa organização militar não-estatal no mundo com dinheiro, armas e treinamento".

Fator israelense

Mas uma eventual ajuda militar iraniana também poderá aumentar as tensões na região, de acordo com o professor Karim Makdissi.

"Até o momento, Israel detém uma supremacia militar quando invade, diariamente, o espaço aéreo libanês. O governo israelense não aceitará que o Líbano obtenha mísseis terra-ar, tanques e armamentos mais pesados".

Segundo ele, o governo israelense certamente está de olho em uma possível venda de armas iranianas às forças armadas do Líbano, que poderiam alterar o balanço estratégico entre as forças militares israelenses e libanesas.

"Se realmente ocorrer um amplo pacote de ajuda militar ao Líbano, isso poderá se transformar em um mais novo ponto de conflito na região".

Para o brigadeiro-general aposentado e analista estratégico Amin Hotait, o governo israelense não pode ver um cenário em que armas de seu arqui-inimigo estejam em poder de um país com quem mantém uma relação tensa. "Israel não permitirá tal negociação, e tentará barrá-la através de seus aliados, como os EUA e alguns países europeus, que exerceriam pressão política no Líbano".

Para ele, o Irã teria enorme interesse em modernizar o exército libanês para aumentar a pressão sobre Israel. "O Irã já possui um aliado poderoso, o Hezbollah, com quem exerce forte influência. Mas para os iranianos, seria também bastante interessante um cenário em que armas suas estejam apontadas para Israel na fronteira e nas mãos de uma instituição oficial, o exército libanês".

Fonte: Especial para Terra
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