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Europa

Polícia teme guerra entre gangues de motoqueiros na Europa

13 ago 2010 - 15h42
(atualizado às 15h45)
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Leandro Demori
Direto de Roma

Mais de 15 anos após aquela que ficou conhecida como "A Grande Guerra Nórdica das Motocicletas", a Europol - polícia de investigação europeia montada nos moldes da Interpol - teme a eclosão de novos confrontos campais entre gangues de motoqueiros. "Há um risco claro de guerra a ser considerado", diz Soren Pedersen, diretor-chefe de comunicações da Europol em Hage, na Holanda, onde fica o quartel-general da força.

O clube de motoqueiros Hells Angels ampliou sua presença na Europa Oriental, segundo dados da Europol
O clube de motoqueiros Hells Angels ampliou sua presença na Europa Oriental, segundo dados da Europol
Foto: AFP

A histórica explosão de 21 de fevereiro de 1994 mandou pelos ares uma casa localizada em uma pacata rua da cidade portuária de Helsingborg, na Suécia. O que parecia ser um acidente logo foi confirmado como atentado. Peritos encontraram estilhaços de um foguete usado para destruir tanques de guerra em meio aos destroços. A casa, que pertencia ao clube de motoqueiros Hells Angels, era o fiapo de luz visível de uma guerra subterrânea pelo controle de territórios e do tráfico de drogas na península escandinava que duraria quatro anos e deixaria um rastro de mortos.

O atentado cometido contra os Hells Angels da Suécia em 1994 foi reivindicado pelos "Bandidos Motorcycle Club", histórica gangue rival fundada no Texas nos anos 1960 e, hoje, conforme a Europol, uma rede criminosa internacional assim como os próprios Hells Angels. "Tiros e bombas são a ação padrão desses grupos", explica Pedersen.

Símbolo de liberdade, a vida em duas rodas está distante da realidade dos grupos de motoqueiros espalhados pelo mundo sob os nomes de Hells Angels ou Bandidos. Dados da Europol, da Interpol e de inúmeras outras unidades de investigação do mundo (incluindo o FBI e o serviço de inteligência do Canadá) garantem que ambas estão entre as maiores gangues de motocicletas do mundo, dedicadas ao tráfico de drogas, ao roubo e à extorsão. "Não se pode generalizar, mas a maior parte dos 'capítulos' desses grupos de motoqueiros é criminosa", garante o chefe da comunicação da Europol. No Velho Continente, a força de investigação identificou recentemente uma grande expansão na atividade desses grupos e está conduzindo um projeto para ajudar as agências de aplicação da lei na União Europeia a combater esta ameaça.

A preocupação maior está concentrada na Europa Oriental, onde, de acordo com as investigações, o Hells Angels Motorcycle Club (HAMC) ampliou significativamente sua presença. "Ao longo dos últimos anos, eles têm liderado um avanço extremamente rápido, especialmente na Turquia e Albânia. Eles ignoram a lei e a maioria dos membros atua em múltiplas áreas do crime, da extorsão ao homicídio, passando por ofensas corporais graves e roubo organizado, fraude e crime financeiro, bem como tráfico de armas de fogo e explosivos, tráfico de seres humanos para exploração sexual e tráfico de drogas", afirma Pedersen.

A organização de grupos como o Hells Angels é semelhante a de sistemas mafiosos tradicionais, exceto por um dado bastanteimportante: eles não se escondem. Cada gangue tem suas filiais espalhadas pelo mundo com logotipos, vestimentas e slogan definidos. O número de membros é variável, mas estima-se em milhares de filiados em um organograma precisamente definido: presidente, vice-presidente, tesoureiro, secretário, capitão-de-estrada e sargento-de-armas. As filias são chamadas de "capítulos", comumente localizadas em bares. A maioria dos grupos tem seu próprio estatuto com regras que devem ser respeitadas à risca. Nos últimos anos, membros do Hells Angels estiveram envolvidos em toda a gama de atividades do crime organizado europeu, em particular na produção e distribuição de maconha e metanfetaminas, com posição sólida também no mercado de cocaína.

Um dos temores da Europol é que novas alianças entre gangues de motoqueiros estejam surgindo, o que significa grupos maiores, mais infraestrutura, relações, recursos e experiência. Mais encrenca. As fusões são uma necessidade de mercado. É preciso gerenciar o tráfico de drogas a partir do sudeste da Europa utilizando a "Rota dos Bálcãs", que vê a Turquia como um ponto de ancoragem e os países circundantes como área de circulação.

Ao estabelecer a sua influência territorial no Europa Oriental, os Hells Angels construíram relações estreitas com gangues de motoqueiros já existentes na Albânia, Bulgária e nas antigas áreas da república iugoslava e Macedônia. Além disso, um grande número de ex-membros de "capítulos" alemães dos rivais "Bandidos" - a maioria de origem turca - recentemente desertou para os Hells Angels da Turquia. A corrida para garantir as oportunidades oferecidas pelos mercados do Sudeste da Europa pode gerar uma guerra de territórios entre gangues rivais. A criação de outros grupos motorizados fora da lei onde Hells Angels já estão presentes é outra ameaça de conflitos violentos pela superioridade local.

Os confrontos violentos fazem parte de uma estratégia muito mais profunda e perigosa. Os Hells Angels europeus buscam construir relacionamentos íntimos com pessoas influentes e autoridades da região. Isso para polir uma imagem pública favorável através de artigos de jornal e aparições na TV. Em bom jargão: a ordem é "limpar a barra" investindo em estruturas empresariais legítimas que, por trás do "bom-mocismo", escondem lavagem de dinheiro e fraudes.

A falta de conhecimento sobre o número exato de gangues de motoqueiros locais e a natureza de suas relações com outras gangues representa a maior lacuna de informação para autoridades nacionais. Foram mapeados mais de 60 moto-clubes de risco, muitos com ligações estabelecidas com gangues de motociclistas internacionais. "Não são simples entusiastas de motocicletas", garante Pedersen.

Fonte: Especial para Terra
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