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Células menores da Al-Qaeda querem publicidade ao matar reféns

8 ago 2010 - 14h46
(atualizado em 22/9/2010 às 16h45)
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

A execução de um refém francês na semana passada por terroristas da Al-Qaeda no Magreb Islâmico, no norte africano, pode ter sido uma tática para atrair publicidade e agradar os líderes mais expressivos da organização terrorista, indicam especialistas. Desde a morte do humanista Michel Germaneau, que vinha sendo mantido refém desde abril pela célula terrorista, os franceses se perguntam sobre as razões do assassinato, botando inclusive em questão a postura adotada pelo governo, de não negociar com os radicais islâmicos.

O francês Michel Germaneau foi executado pela Al-Qaeda no Magreb Islâmico
O francês Michel Germaneau foi executado pela Al-Qaeda no Magreb Islâmico
Foto: AFP

Para Jean-Pierre Filiu, especialista em Al-Qaeda do Centro de Estudos e Pesquisas Internacionais do Instituto de Ciências Políticas de Paris (Sciences Po), uma eventual negociação não teria acarretado em uma garantia de vida do refém. "Bin Laden Osama Bin Laden, líder da organização estimula execuções publicitárias, como as ocorridas no Iraque em 2004 e 2005. Existe uma certa pressão neste sentido. Para se manterem em voga, as células menores precisam de publicidade, e por isso sequestram ocidentais, em atos que elas sabem que vão gerar muita repercussão", disse o analista.

Antes de executar Germaneau, um ativista de 78 anos, a França havia recebido um ultimato de apenas dois dias da parte dos terroristas, sem qualquer reivindicação precisa. O ultimato ocorreu após os franceses tentarem resgatar o refém através de uma ação militar no Mali, onde Germaneau estaria aprisionado, e que acabou na morte de seis terroristas.

Filiu explica que este tipo de reação violenta e repentina - a execução do refém - também colabora para o fortalecimento da imagem da célula na África, face a novos simpatizantes. "O comando continua sendo feito a partir da Argélia, mas a célula está se espalhando pelo Saara e, aos poucos, na África negra", analisa o autor de As nove vidas da Al-Qaeda. "Está acontecendo uma preocupante 'islamização' do continente africano".

Filiu sustenta que a própria sobrevivência dessas células depende de se manterem publicamente ativas, afinal, depois que conseguem utilizar o nome da Al-Qaeda, sentem-se na obrigação de merecer este título.

As células menores, no entanto, raramente conseguem contato com a "central": a comunicação sobre os seus atos são difundidos pela própria mídia - em casos extremos como o envolvendo o refém francês - e por sites de acesso restrito a membros de confiança da rede. Nestes endereços, comenta outro especialista, Mathieu Guidère, as ações são imediatamente parabenizadas por radicais espalhados pelo mundo inteiro.

"Facebook terrorista"
Mas ingressar nessas redes na internet - "espécies de Facebooks terroristas", como define o pesquisador - não é tarefa fácil. Só são aprovados novos membros que sejam indicados por terroristas já aceitos pela chamada "Al-Qaeda histórica", sob o comando direto dos braços direitos de Bin Laden. Além disso, por questões de segurança, agora a organização não participa mais do treinamento de novos radicais: apenas homologa novos membros depois que uma ação realizada carrega as características da Al-Qaeda. O "pretendente", no entanto, deve ter se formado sozinho. "As informações estão disponíveis em diversos sites e agora há inclusive uma revista online em inglês, assinada pela organização", explica Guidère. ¿Antes havia etapas de formação e recrutamento. Agora, a pessoa deve se formar sozinha. Ela se 'autoradicaliza' e depois reivindica um ato em nome de Al-Qaeda".

A observação de dois princípios fundamentais - tendo como modo de operação os já tradicionais atentados suicidas e simultâneos - faz com que os patrões da organização acatem uma ação terrorista como sendo da Al-Qaeda: é preciso que seja um ataque direto ou indireto ao Ocidente e que o ato não tenha como alvo uma vítima civil muçulmana. ¿Respeitando estes princípios, eles adquirem a selo Al-Qaeda, e só depende deles mantê-lo¿, afirma Guidère, destacando que as células são independentes e autônomas da Al-Qaeda histórica.

O objetivo de se internacionalizar, no entanto, está longe de ser alcançado, destaca o especialista em movimentos radicais da Universidade de Genebra, autor de cinco livros sobre o terrorismo. Apesar de ter se modernizado e adotado a tecnologia para atrair novos simpatizantes, a organização não consegue mais ultrapassar as barreiras impostas pelos sistemas de segurança americanos e europeus. O resultado é que, justamente nos locais onde precisaria de mais infiltrados, a Al-Qaeda não consegue penetrar - um golpe duro em uma organização que se tornou muito enfraquecida desde a morte ou prisão da maioria dos seus fundadores, a partir do 11 de Setembro. "Eles não conseguem chegar a uma organização nem na Europa, nem nos Estados Unidos. Está cada vez mais difícil. Restam os alvos americanos e europeus presentes nos continentes onde a organização é mais forte", diz Guidère.

Fonte: Especial para Terra
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