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Mundo

Albânia celebra declaração de CIJ sobre Kosovo com festa

25 jul 2010 - 14h27
(atualizado em 26/7/2010 às 10h43)
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Solly Boussidan
Direto de Tirana, na Albânia

Ruas caóticas, muita pobreza, prédios decrépitos da era do comunismo e um calor infernal. Tirana, a capital da Albânia, não é exatamente um lugar turístico e com muitas atrações. Ainda assim, o centro político e financeiro deste empobrecido país no sudeste da Europa está fervilhando desde o último dia 22.

A capital, Tirana, está em comemoração pela legalidade da declaração unilateral de independência de Kosovo
A capital, Tirana, está em comemoração pela legalidade da declaração unilateral de independência de Kosovo
Foto: Solly Boussidan / Especial para Terra

Fogos de artifício, happy hours, baladas temáticas e centenas de bandeiras nacionais enfeitam as ruas de Tirana. O motivo para tanta alegria é a recente opinião emitida pela Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia, na Holanda, a respeito da legalidade da declaração unilateral de independência de Kosovo em relação à Sérvia - a CIJ emitiu parecer na última quinta-feira de que Kosovo não violou nenhuma norma legal internacional ao declarar sua independência em 2008.

A grande maioria dos kosovares é muçulmana de etnia albanesa. A língua predominante na região um dialeto da língua albanesa e há fortes vínculos entre as populações de Kosovo e da Albânia. "É claro que estamos felizes", diz Alfred Salku, 37 anos, gerente de hospitalidade natural de Tirana. "A grande maioria da população de Kosovo é albanesa - o bem-estar e a alegria deles é motivo de felicidade. Quem não ficaria feliz por um irmão?", conclui Salku.

A afinidade entre albaneses e kosovares é tão grande que todos os anos, em 17 de fevereiro, data da declaração de independência de Kosovo, uma das principais praças de Tirana é fechada para uma celebração oficial e popular da independência da nação irmã.

Reação sérvia

Se em Tirana a população festeja, em Belgrado, capital da Sérvia, a situação é mais delicada. O governo sérvio foi quem iniciou a moção na Assembleia Geral da ONU para solicitar a opinião da CIJ sobre a declaração de independência de Kosovo. A Sérvia recusa-se a aceitar ou conceder independência aos kosovares e considera a região parte de seu território.

A situação é duplamente delicada - em primeiro lugar Kosovo é o berço da nação e da igreja ortodoxa da Sérvia e importantes sítios religiosos - como o monastério de Gracanica, considerado patrimônio da humanidade pela Unesco - situam-se aí. Além disso, há uma importante minoria Sérvia originária do Kosovo e que tem seus direitos altamente restringidos atualmente e que tem sua segurança garantida exclusivamente por tropas de paz da ONU que impedem o embate entre kosovares de etnia sérvia e albanesa, bem como a destruição de locais sagrados.

Dentro da própria Sérvia, setores da direita-nacionalista entre parcelas significativas da população e do governo, tornam qualquer acordo ainda mais difícil. A Sérvia está pronta para conceder qualquer coisa a Kosovo, exceto sua independência. Já os kosovares albaneses não estão dispostos a aceitar nada menos do que sua independência formal e internacionalmente reconhecida.

Para Borka Pavicevic, fundadora e diretora do Centro de Descontaminação Cultural, uma ONG esquerdista em Belgrado que luta pela conciliação entre a Sérvia e as ex-repúblicas iugoslavas, "é uma grande perda de tempo a Sérvia ficar retardando o reconhecimento inevitável da independência do Kosovo". Segundo a ativista, "qualquer um que visite o território poderá ver que eles já são de fato independentes. As coisas em Kosovo funcionam independentemente da vontade ou do auxílio da Sérvia".

Indagada pelo Terra sobre a questão dos locais religiosos sérvios e sobre como resolver o impasse na região, Borka é direta: "Os sérvios vão precisar aceitar que nem tudo que corresponde à história, cultura e religião da Sérvia necessariamente estará em território sérvio. Isso acontece com várias culturas em todo o mundo - nem todos os templos gregos estão na Grécia e a Itália não controla todas as relíquias do Império Romano, só para citar dois exemplos. É hora de mirarmos o futuro e pensarmos em como vamos caminhar juntos daqui para frente. A Sérvia precisa demonstrar sobriedade em relação a Kosovo e os albaneses têm de demonstrar maturidade e respeito em relação à minoria Sérvia e aos locais religiosos".

Kosovo

A Sérvia atacou a população do Kosovo repetidamente no final da década de 90 para reprimir movimentos separatistas e acabou sendo atacada pela Otan em 1999, antes do estabelecimento da missão de paz da ONU para a região.

Em 17 de fevereiro de 2008, o governo autônomo provisório do Kosovo declarou unilateralmente sua independência em relação à Sérvia após tentativas frustradas de diálogo.

Atualmente 69 países reconhecem o Kosovo como nação independente, entre eles os Estados Unidos, a Alemanha e a Albânia. O Brasil não reconhece o Kosovo, que até o momento teve seu reconhecimento barrado na ONU pela Rússia e pela China - membros permanentes do Conselho de Segurança e detentoras do poder de veto.

Fonte: Especial para Terra
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