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Mundo

Mulher luta por mudança de mentalidade na Sérvia

10 jul 2010 - 11h14
(atualizado às 11h35)
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Solly Boussidan
Direto de Belgrado, na Sérvia

Os conflitos étnicos que assolaram os Bálcãs nos últimos 20 anos deixaram feridas profundas na população da região. Além do trágico número de perdas humanas que tornou a Europa palco de um novo genocídio em plena década de 90, os traumas, culpas e responsabilidades das guerras que ocorreram na agonizante desintegração da Iugoslávia ainda não estão completamente resolvidos. O conflito de interesses de atores políticos dificulta ainda mais o processo de reconciliação. Em um ambiente no qual a democracia prospera apesar das dificuldades, uma mulher emerge como uma das grandes forças da sociedade civil para propagar uma mudança de mentalidade na sociedade da Sérvia.

Borka Pavicevic fundou o Centro de Descontaminação Cultural para tentar mudar a mentalidade na Sérvia
Borka Pavicevic fundou o Centro de Descontaminação Cultural para tentar mudar a mentalidade na Sérvia
Foto: Solly Boussidan / Especial para Terra

"Estamos em um estado de negação, diz a diretora e fundadora do Centro de Descontaminação Cultural (CDC), Borka Pavicevic.Nascida em 1947 na ex-República Iugoslava de Montenegro, Borka é um dos principais nomes da dramaturgia e da cena artística dos Bálcãs desde a década de 70. Engajada, realiza trabalhos, debates e ações sociais como colunista, escritora, intelectual, política e organizadora de movimentos civis. Em 1994, Pavicevic fundou o CDC para lidar com os problemas da guerra através das artes e do teatro. O centro e sua importância ultrapassaram as expectativas e em 2001, Borka foi condecorada pelo governo francês com a Legião da Honra por seus esforços em promover os princípios dos direitos humanos, do estado de direito, da democracia e da tolerância.

"É muito mais fácil se promover politicamente neste país usando slogans nacionalistas e de direita", diz Borka. "Através do nacionalismo exacerbado, políticos de diversos partidos acabam dando voz e promovendo ideias similares à da SBOR (Movimento Nacional Sérvio por Deus, pela Nação e pela Família)". Segundo a intelectual, enquanto os crimes de guerra não forem expostos, de maneira clara e irrefutável, todos aqueles que se beneficiaram destes crimes não forem levados à justiça e a sociedade não olhar de frente para seus erros, as feridas continuarão abertas. "A Europa quer que nos integremos com nossos vizinhos, mas passamos os últimos 20 anos lutando pelo desmembramento e nos desintegrando - isso gerou traumas profundos. Para os bósnios e outras etnias que eram parte da Iugoslávia, o reconhecimento da Sérvia pelo que aconteceu é extremamente importante. Eles estão esperando por isso", diz Pavicevic.

Segundo Borka, a principal preocupação atual é com o sistema educacional da Sérvia, que ensina sobre as culturas e etnias que formavam a Iugoslávia, mas que não fomenta a integração entre estas nações. "Havia muito menos racismo e preconceito na época da Iugoslávia unificada, porque vivíamos todos juntos. Agora estamos separados. O nível de preconceito é visível através do humor, se antes as piadas pejorativas que eram contadas geralmente estereotipavam os búlgaros, hoje em dia essas piadas se referem aos bósnios, croatas e muçulmanos. O humor é muito sintomático do pensamento social".

"Os grupos de extrema-direita estão ficando maiores e mais fortes e suas vozes mais ativas graças a políticos que se utilizam dessas ideias para fomentar o nacionalismo e obter ganho político", diz Borka. "Nossa luta agora, juntamente a outras oito ONGs é por uma reforma institucional e parlamentar, que temos conseguido com muito esforço desde 2005, para que toda a verdade seja exposta e criminosos como Ratko Mladic sejam encontrados e levados à justiça".

Para Pavicevic, a mudança de mentalidade leva tempo para ocorrer. "Existem sinais positivos, apesar de todos os obstáculos e problemas que ainda existem. Há políticos sérvios fazendo esforços de aproximação com a Croácia e a Eslovênia e no início do ano o parlamento aprovou um comunicado que mencionava os crimes de guerra cometidos na Bósnia. Eles ainda são incapazes de usar o termo 'genocídio' e reconhecer isso, mas já é um primeiro passo para cicatrizarmos as feridas de Srebrenica"meus.

Fonte: Especial para Terra
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