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Mundo

Impopular, Sarkozy enfrenta suspeita de corrupção no governo

8 jul 2010 - 13h24
(atualizado às 13h32)
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

A cada dia, a imprensa francesa escancara um novo capítulo da verdadeira novela em que se transformou o "affaire Bettencourt", que há 10 dias mancha, por diversas frentes, a reputação do governo de Nicolas Sarkozy na Presidência da República. Além de enfrentar as suspeitas de ter organizado um caixa dois ilegal na época da campanha presidencial, em 2007 - no que seria o primeiro escândalo de corrupção do seu governo -, o presidente faz face aos recordes de baixa de popularidade, que chegaram a 30% nesta semana, o menor índice desde que foi eleito.

O ministro Éric Woerth é o pivô do escândalo que envolve o presidente francês Nicolas Sarkozy
O ministro Éric Woerth é o pivô do escândalo que envolve o presidente francês Nicolas Sarkozy
Foto: Reuters

A questão que se coloca em torno da crise política na presidência francesa é até que ponto o escândalo poderá afetar as suas ambições políticas no futuro. Os principais partidos já começam mexer as suas peças no tabuleiro das eleições de 2012, nas quais Sarkozy será, a princípio, candidato à reeleição.

"O momento é, sem dúvida, cedo demais para tentarmos projetar o futuro político do presidente. Antes de mais nada, é preciso a Justiça averiguar o que existe de verdadeiro em toda essa história, e por enquanto nada nos leva a concluir que, concretamente, houve um caixa dois na sua campanha", analisa o cientista político Dominique Reynié, especialista em transformações políticas e opinião pública do Instituto de Ciências Políticas de Paris (Sciences Po).

Para o analista - vedete dos programas de televisão franceses que debatem diariamente a atualidade política -, ainda faltam esclarecimentos policiais e judiciais que façam o caso passar de um status de rumor para um de corrupção de Estado. "Existe alguma queixa formal contra o presidente ou o ministro envolvido Éric Woerth, do Trabalho e ex-Orçamento? Não. O que estamos vendo é a imprensa atuando no papel de tribunal, sendo que ela não é um tribunal."

O capítulo de hoje na novela Woerth-Bettencourt se refere à credibilidade do site de informações Médiapart, revelador da maior parte do escândalo. A confiança no Médiapart foi posta à prova pela voz da principal fonte do dossiê, Claire Thibout, ex-contadora do império L'Oréal, empresa francesa protagonista no caso.

Depois de ter supostamente acusado Woerth - tesoureiro da campanha de Sarkozy em 2007 - de receber de sua parte um envelope com 150 mil euros em dinheiro - que teriam sido doados por fora por Liliane Bettencourt, dona da L'Oréal -, nesta quarta-feira a ex-contadora voltou atrás em depoimento formal à polícia. A esquerda francesa já começa a questionar a veracidade deste depoimento, suspeitando que a testemunha possa estar sendo alvo de pressões de Estado para não revelar detalhes sobre o que seria um escândalo com consequências ainda inestimáveis ao governo Sarkozy.

Segundo a revelação feita anteontem pelo Médiapart - um site independente criado em 2008 e que se propõe a atuar como um jornal online -, a ex-funcionária de confiança de Liliane Bettencourt teria confidenciado a um jornalista do veículo que providenciou, por diversas ocasiões, remessas de dinheiro para Sarkozy. As entregas aconteciam desde a época em que ele era prefeito da rica cidade Neuilly-sur-Seine, nos arredores de Paris, e a última teria ocorrido apenas dois meses antes do pleito para a presidência da República.

No depoimento dado hoje à polícia, Thibout negou ter citado o nome de Sarkozy quando deu entrevista ao Médiapart, embora tenha dito que "é possível" de o dinheiro ter ido parar na campanha do candidato conservador. "Havia envelopes com dinheiro que eram remetidos de tempos em tempos a políticos pela senhora Bettencourt", declarou ela à polícia, conforme o jornal Le Monde.

De sua parte, o site reafirmou que todas as informações publicadas partiram da boca da ex-contadora e que as entrevistas foram realizadas sempre com a presença de dois jornalistas. No entanto, a apuração das reportagens falhou em um princípio básico de jornalismo: as conversas com Thibout não foram gravadas, erro que poderá custar caro à reputação do veículo e que acabará facilitando uma eventual defesa por parte de Sarkozy.

Para Roland Cayrol, fundador e conselheiro do instituto de pesquisas CSA, chegou a hora de o presidente francês enfim se exprimir ao público sobre o assunto. "Eu acho que os franceses e a imprensa esperam para saber se tudo isso é verdadeiro ou não antes de fazer julgamentos precipitados. O que me espanta é que, até agora, nem Sarkozy nem Woerth responderam a essa questão com clareza", avalia Cayrol, que também é diretor de pesquisas na Sciences Po. "Este assunto não vai morrer tão cedo, enquanto não haja respostas convincentes sobre os pontos que estão obscuros."

O especialista lembra que já houve escândalos de caixa dois na história política francesa, mas desde que a lei de financiamento público das campanhas eleitorais foi adotada, em 1995, os franceses "não esperavam mais" se deparar com irregularidades. "É claro que essa crise estraga ainda mais a confiança, em um governo que já não estava bem neste quesito. Agora, só a Justiça poderá isentar ou não o governo de ter cometido financiamento ilegal da campanha", afirmou. "Em caso positivo, com certeza vai acarretar em algum tipo de punição, tanto jurídicas quanto do eleitorado."

Fonte: Especial para Terra
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