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Estados Unidos

Especialistas: Obama manda ao Afeganistão seu 'melhor guerreiro'

27 jun 2010 - 23h05
(atualizado em 28/6/2010 às 10h02)
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Lígia Hougland
Direto de Washigton

Ao convocar David Petraeus, general responsável pela campanha militar no Iraque, para substituir Stanley McChrystal no comando das tropas da Otan no Afeganistão, o presidente dos Estados Unidos escolheu o profissional certo para a missão, segundo a avaliação de especialistas americanos.

Obama anuncia demissão de McChrystal e indica David Petraeus (dir.) para comando no Afeganistão
Obama anuncia demissão de McChrystal e indica David Petraeus (dir.) para comando no Afeganistão
Foto: AP

McChrystal foi derrubado do posto de comandante à frente da guerra que se arrasta há 9 anos na última semana, depois de a revista Rolling Stone publicar infames comentários feitos por ele e membros de sua equipe criticando as mais importantes personalidades da Casa Branca.

Para Jim Bartlett, analista de política de guerra baseado em Washigton que acompanhou de perto os esforços militares no Iraque em 2007, não há dúvidas de que Petraeus é o homem certo para a missão. "Não sei se há outra opção. Enviar o general Patraeus é um ato semelhante ao de um rei dos tempos antigos enviar seu melhor guerreiro para finalmente vencer uma batalha", diz.

No entanto, apesar dos elogios à escolha do novo comandante, especialistas são unânimes em afirmar que o desafio a Petraeus é ainda maior, principalmente por causa da logística e da negligência do comando antigo, ainda no governo de George W. Bush.

"O desafio no Afeganistão vem de duas fontes: logística e negligência", diz Christopher Swift, pesquisador e especialista em assuntos de segurança internacional da Universidade de Cambridge que, desde 2005, trabalha com questões de segurança no Afeganistão e já conduziu trabalho de campo em Kandahar e outras províncias do sul do país.

Na parte logística, o país asiático, além de geograficamente isolado, apresenta um terreno montanhoso e largamente rural exigindo mais energia e esforço das tropas do que o Iraque. "Um lugar assim pode fazer com que as operações levem muito tempo", afirma Bartlett.

Quanto ao fator da negligência, Swift diz que a administração de George W. Bush se concentrou em demasia em uma guerra "opcional" no Iraque, negligenciando o Afeganistão. "O fato de o governo Obama levar este desafio a sério é um desenvolvimento positivo, mas o atraso e a distração causados pela guerra no Iraque custou muito aos EUA", diz o pesquisador.

Parceria estratégica

Especialistas ainda apontam um terceiro desafio ao novo comandante das tropas americanas: o relacionamento com o governo do Afeganistão. McChrystal desenvolveu uma parceria estratégica com o presidente afegão, Hamid Kazai. Agora, será preciso assegurar que a transição no comando das tropas não prejudique o relacionamento com administração local.

"Kazai é um sobrevivente experiente em jogos diplomáticos e políticos. Tenho certeza de que ele e Petraeus vão chegar a um entendimento comum, mesmo que haja uma certa reserva de um em relação ao outro", diz Ray Walser, analista político sênior da Heritage Foundation, com sede em Washington.

No entanto, alguns analistas acreditam que o governo Obama e a imprensa valorizam demais tal parceria que, na verdade, talvez seja apenas superficial ou mesmo não seja fundamental para que se chegue a um ambiente de estabilidade no Afeganistão.

"O relacionamento que realmente importa é aquele entre os soldados americanos e a população dos vilarejos do país. A guerra não pode ser vencida de Kabul, mas pela conquista da confiança do povo afegão, vilarejo por vilarejo, distrito por distrito", afirma Swift.

Retirada das tropas

Uma das causas do desentendimento entre os comandantes militares e a Casa Branca é o prazo determinado pelo presidente americano para a retirada das tropas - junho de 2011. Nesse aspecto, tanto McChrystal quanto Petraeus acham que é preciso mais tempo para que a estratégia de contrainsurgência funcione suficientemenente bem para que o controle da ordem seja totalmente passado para os afegãos.

"Estabelecer prazos nesse tipo de ambiente de conflito é se expor a uma derrota ou vexame. Os insurgentes vão ditar o prazo. Se esse será de 12 meses ou 12 anos, ninguém sabe", diz Bartlett.

Por outro lado, se Petraeus for bem sucedido nos próximos 12 meses, ele sofrerá menos pressão política do Congresso americano e da opinião pública e poderá, até mesmo, ganhar mais tempo para a retirada das tropas. "As memórias do que aconteceu no Vietnã depois da retirada das tropas dos EUA ainda perseguem as autoridades", afirma Walser.

Obama se viu forçado a estipular um prazo para o começo da volta dos soldados para casa devido ao evidente declínio do apoio político e popular à guerra no país asiático. Mas é possível que, se Petraeus mostrar progresso na estabilização no Afeganistão, ele seja capaz de barganhar um prazo maior para a retirada das tropas.

"Se quisermos fazer o jogo de construir a nação, temos de lutar contra os insurgentes, não contra o relógio. Esta é uma batalha difícil de ser ganha", afirma Bartlett.

Fonte: Especial para Terra
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